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Manifestantes invadiram e incendiaram um prédio de uma delegacia de Minneapolis, no estado americano de Minnesota, nesta quinta-feira (28), na terceira noite de protestos violentos contra a morte de George Floyd, negro de 46 anos que foi morto sob custódia da polícia local. O presidente Donald Trump criticou o prefeito democrata Jacob Frey por deixar a situação chegar a esse ponto e prometeu apoio militar ao governador de Minnesota dizendo que o exército atiraria para evitar mais saques na cidade.
O que aconteceu na terceira noite de protestos?
Quinta-feira foi a terceira noite seguida de protestos em Minneapolis - e a mais violenta. Manifestantes invadiram o prédio da Terceira Delegacia de Polícia de Minneapolis, perto de onde Floyd morreu, e o incendiaram. Os policiais tentaram dispersar a multidão com balas de borracha e gás lacrimogêneo, mas os manifestantes conseguiram romper o cordão de isolamento colocado pela polícia.
Antes da invasão, o prefeito Frey havia ordenado a evacuação da delegacia para proteger os policiais. "O simbolismo de um edifício não pode exceder a importância da vida, de nossos oficiais ou do público. Não podemos arriscar ferimentos graves a ninguém e continuaremos a patrulhar inteiramente a 3ª Delegacia", disse ele em coletiva de imprensa na madrugada desta sexta-feira (29).
A Guarda Nacional de Minnesota já havia sido ativada em Minneapolis e na vizinha St. Paul após os prefeitos declararem emergência para manter a paz. Aproximadamente 500 soldados do estado foram enviados para auxiliar a polícia nas duas cidades. Em Minneapolis, eles trabalharam para garantir a segurança de bombeiros que estavam trabalhando para apagar o incêndio na delegacia, mas segundo o jornal Star Tribune, muitos manifestantes permaneceram na área atirando projéteis e, de acordo com uma testemunha, atirando contra o prédio.
Durante a noite também houve confronto entre saqueadores e empresários que tentavam proteger suas lojas. Um jornalista da CNN foi detido pela polícia de Minneapolis enquanto cobria o protesto. Posteriormente ele foi liberado.
Em St. Paul também houve saques, incêndios e vandalismo. De acordo com a polícia, cerca de 170 edifícios foram danificados até o final da noite. Tiroteios também foram ouvidos.
As duas noites anteriores em Minneapolis também foram de violência. Pelo menos uma pessoa morreu na confusão.
O que Trump disse?
Na quarta-feira, o presidente Trump havia pedido que o FBI agilizasse a investigação sobre a morte de Floyd. Depois que os protestos escalaram para a violência, o presidente americano criticou o prefeito de Minneapolis, Jacob Frey, e disse que enviaria ajuda militar à cidade para conter os manifestantes.
“Não posso ficar para trás e assistir isso acontecer com uma grande cidade americana, Minneapolis. Uma total falta de liderança. Ou o prefeito da esquerda radical Radical, Jacob Frey, começa a agir e coloca a cidade sob controle, ou enviarei a Guarda Nacional e concluímos o trabalho”, tuitou Trump na madrugada desta sexta-feira (29). A Guarda Nacional está sob o controle do estado, mas em emergências pode ser colocada sob as ordens do presidente.
Trump continuou: “Esses bandidos estão desonrando a memória de George Floyd, e eu não deixarei isso acontecer. Acabei de falar com o governador [de Minnesota] Tim Walz e disse que o Exército está com ele o tempo todo. Qualquer dificuldade e assumiremos o controle, mas, quando os saques começarem, o tiroteio começará. Obrigado!”
O Twitter marcou essa postagem de Trump como conteúdo que “enaltece a violência”, mas não a excluiu porque o conteúdo é de interesse público. Essa é a segunda vez nesta semana que a rede social coloca um alerta nos tuítes de Trump.
Por que as pessoas estão protestando?
Os protestos começaram depois da divulgação de um vídeo da ação policial que terminou com a morte de Floyd, um homem negro de 46 anos que trabalhava como segurança em um restaurante. Na cena, um policial branco aparece forçando seu joelho sobre o pescoço da vítima, que avisa diversas vezes que não está conseguindo respirar. Floyd foi sufocado por cinco minutos e, já desmaiado, foi levado em uma ambulância para um centro médico. Ele acabou falecendo logo em seguida, segundo relato médico.
A abordagem policial foi feita sob a suspeita de que Floyd estaria tentando comprar cigarro com uma nota de US$ 20 falsificada em uma loja de conveniência. No vídeo, gravado por alguém que passava pelo local, pessoas ao redor pedem que o policial solte o pescoço de Floyd. Nenhuma arma foi apreendida na abordagem.
Os policiais afirmam que ele resistiu à prisão, mas um vídeo da câmera de segurança de uma loja próxima a onde ocorreu o incidente mostra Floyd sendo retirado pela polícia de dentro do carro dele e algemado, aparentemente sem resistir à prisão. A polícia ainda não divulgou as imagens das câmeras portáteis usadas pelos policiais durante a abordagem.
O FBI, a polícia federal americana, iniciou uma investigação sobre a morte de Floyd. A família da vítima pede que Derek Chauvin, o policial visto no vídeo sufocando Floyd com o joelho, seja julgado por assassinato. O prefeito de Minneapolis, assim como políticos democratas e republicanos e celebridades, pediu para que o promotor do condado prendesse Chauvin.
"Ser negro na América não deve ser uma sentença de morte", afirmou o prefeito de Minneapolis, Jacob Frey, que disse que o policial usou uma imobilização não autorizada contra Floyd. "Por cinco minutos, vimos um policial branco pressionar o joelho no pescoço de um negro. Cinco minutos. Quando você ouve alguém pedindo ajuda, você deve ajudar. Esse oficial falhou no sentido humano mais básico".
Segundo o Star Tribune, promotores federal e do condado de Hennepin pediram paciência ao público enquanto conduzem uma investigação sobre o caso e avaliavam se deveriam acusar Chauvin e os outros policiais que participaram da abordagem. Uma autópsia da morte de Floyd ainda não foi apresentada.
“Não vou apressar a justiça", disse o promotor do condado, Mike Freeman. “Temos que fazer isso direito. Temos que provar isso em um tribunal... Por favor: me dê e dê ao promotor federal o tempo necessário para fazer isso direito, e nós lhe traremos justiça - eu prometo”.
Os protestos lembram os distúrbios de 2014 em Ferguson, Missouri, depois que um policial matou um homem negro suspeito de roubo. Também recordam o caso do nova-iorquino Eric Garner, no início do mesmo ano, preso por vender ilegalmente cigarros e morto por um policial branco em estrangulamento ilegal, que também foi filmado.
Em outras cidades, americanos pediram a prisão do policial envolvido na morte de Floyd. Em Los Angeles, na Califórnia, houve confronto com a polícia. Nova York e Denver também registraram protestos por justiça no caso.
Protestos em Louisville
Em Louisville, no Kentucky, houve uma grande manifestação semelhante na noite desta quinta-feira (28), mas demandando justiça sobre outro caso: o de Breonna Taylor, uma técnica de saúde de emergência, negra, de 26 anos, que em março foi morta por policiais dentro de seu apartamento.
A polícia informou que tinha uma mandado de busca devido a uma investigação de narcotráfico e que atirou para responder aos tiros disparados pelo namorado de Breonna, Kenneth Walker. A mãe de Breonna diz que os policiais não se anunciaram antes de entrar no apartamento. Walker foi acusado de tentativa de assassinato de um policial e agressão em primeiro grau, mas os promotores entraram com uma moção na semana passada para retirar as acusações contra ele, segundo a CNN.
Os protestos foram motivados pela divulgação, nesta quinta-feira, de um áudio no qual Walker chama a emergência para socorrer a namorada baleada. "Alguém chutou a porta e atirou na minha namorada", disse. O advogado de Walker disse que a gravação mostra que ele não tinha ideia de quem havia invadido o apartamento e atirado em sua namorada.
Como resultado, centena de pessoas foram para as ruas. Mas os protestos desta quinta-feira em Louisville também ficaram violentos. Tiros foram disparados no meio da multidão e pelo menos sete pessoas foram baleadas. Ninguém morreu.