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A minoria muçulmana alauita, marcada por séculos de humilhações, lutará até o fim para manter o poder na Síria, diante de uma maioria sunita que considera seus membros como usurpadores, consideraram especialistas neste domingo.

Se o regime de Bashar al-Assad, alauita, cair, eles podem se refugiar e criar um refúgio na montanha ou na costa noroeste, se não quiserem se ver obrigados ao exílio ou a enfrentar as represálias, acrescentam.

"Os alauitas temem uma revanche dos sunitas", afirma Fabrice Balanche, diretor do Grupo de Pesquisas e Estudos do Mediterrâneo e do Oriente Médio (Gremmo), em Lyon (França).

"Chegamos a um ponto que não tem volta: o regime deve esmagar a oposição se não quiser cair", afirma. O poder sírio parece determinado a acabar com a revolta com uma firme repressão que já deixou mais de 6 mil mortos em 11 meses, segundo os militantes, e ampliou o fosso entre alauitas e sunitas.

"Para se salvar, as unidades militares de elite compostas ou controladas pelos alauitas lutarão até o fim porque não querem acabar como os harkis", acrescenta este geógrafo, em referência aos soldados locais durante a guerra da Argélia que lutaram com o exército francês e que foram massacrados após a independência e obrigados a se exilar na França.

Para Thomas Pierret, professor da Universidade de Edimburgo, "existe um risco, se Assad cair, de que a comunidade alauita seja aniquilada", em reação à extrema brutalidade empregada pelas forças do regime.

Os alauitas, uma comunidade heterodoxa que representa 12% da população, forma depreciados durante séculos. Sob o império Otomano, os únicos alauitas tolerados nas cidades eram os empregados domésticos.

A doutrina alauita foi elaborada no Iraque no século IX por Mohammad ben Nusseir, discípulo do 10º imã Ali al-Hadi, que entrou em dissidência.

Enquanto os xiitas veneram Ali, genro de Maomé, os alauitas o idolatram. Para eles, Maomé não é mais que um véu que esconde "a essência" encarnada por Ali. O terceiro personagem desta trindade é Salman Pak, um companheiro de Maomé considerado a "porta" do conhecimento.

Os alauitas acreditam na reencarnação, em geral carecem de mesquitas, ignoram o jejum e a peregrinação a Meca, toleram o álcool e suas mulheres não utilizam véu. Celebram as festas muçulmanas e também as cristãs.

Para o pensador sunita Ahmad ibn Taymiyya (1263-1328), os alauitas "são os piores inimigos dos muçulmanos e a jihad (guerra santa) contra eles é um grande ato de piedade".

Em 1920, a França havia criado um território autônomo alauita. Mas para incitá-los a integrar o futuro Estado, os nacionalistas sírios obtiveram em 1936 uma fatwa do mufti da Palestina Hajj Amin al-Husseini que os reconhece como muçulmanos.

Nos anos 1950, muitos alauitas integraram academias militares e se somaram à ideologia do pan-arabismo e laica do partido Baath. Dois golpes de Estado (1963, 1966) os levaram ao poder. Muitos burgueses sunitas estavam chocados com a ideia de que "os filhos das limpadoras" começaram a governar, lembra Balanche.

Os rudes montanheses se converteram então em funcionários e se instalaram nas cidades costeiras de Tartus, Lataquia, Banias e JAbleh, onde são agora majoritários.

No caso da queda do regime de Assad, alguns especialistas analisam a hipótese de um enclave alauita.

"Diante do bloqueio, o regime pode estar tentado recuar para a região costeira para criar uma entidade independente", considera Bruno Paoli, diretor de estudos árabes no Instituto francês de Oriente Médio, com sede em Beirute.

Balanche também acredita nesta opção. "Se o conflito se agravar, a Síria evoluirá como a Iugoslávia. Pode haver um enclave alauita" com Lataquia como capital.

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