Centenas de cristãos tiveram que deixar suas casas após ataques em Jaranwala em agosto| Foto: EFE/EPA/SHAHZAIB AKBER
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No último mês, o Paquistão foi palco de uma violenta onda de ataques contra a minoria cristã que vive no país.

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Na província de Jaranwala, mais de 15 igrejas foram incendiadas, centenas de casas destruídas e religiosos torturados e presos sob alegações de profanação do Alcorão, o livro sagrado do Islã.

Mas essa não foi a primeira vez que episódios assim foram registrados no país, que ocupa o sétimo lugar na Lista Mundial de Perseguição Religiosa da ONG internacional Portas Abertas, especializada em acompanhar situações de violência contra cristãos no mundo.

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Segundo a organização, os cristãos são vistos no Paquistão como cidadãos de “segunda classe” e enfrentam diversos tipos de discriminação no dia a dia.

Em relação ao emprego, são separados para desempenhar as atividades mais degradantes. Muitas mulheres cristãs são inseridas em trabalhos forçados, como, por exemplo, em fábricas de tijolos.

Outra forma de repressão é a falta de representatividade política em um país marcado por governos ditatoriais. Leis de defesa das minorias religiosas até existem, no entanto, não há aplicabilidade dessas normas, o que facilita a violência contra os seguidores do cristianismo e os deixa cada vez mais aterrorizados em um ambiente hostil e inseguro, onde extremistas têm liberdade para agir sem punição.

Ainda na legislação, a perseguição também se manifesta nas leis de blasfêmia, pelas quais cristãos podem ser acusados de profanar o islamismo, como ocorreu no último dia 16, muitas vezes sem comprovação.

Segundo a ONG, um quarto de todas as acusações por esse crime é voltado a cristãos, em um país com apenas 1,8% da população formada por esse grupo religioso (cerca de 2,6 milhões de pessoas).

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Além da opressão da maioria islâmica, as minorias no país vivem a repressão por parte da corrupção e do crime organizado. Um levantamento internacional do Corruption Perceptions Index mostrou que o Paquistão foi classificado com 73 pontos em relação ao índice de corrupção, que varia até 100 pontos.

As mulheres são um dos principais alvos: sequestros, casamentos e conversões forçadas ao islamismo são comuns no país. Muitas crianças e adolescentes cristãs, principalmente de famílias de baixa renda, são submetidas a essa violência.

Aprovação de leis mais duras sobre blasfêmia 

Em janeiro deste ano, a Câmara Baixa do Parlamento paquistanês aprovou regras mais rígidas em relação à blasfêmia.

Segundo a organização Christian Solidary WorldWide (CSW), nem todas as acusações hoje levam à morte e é justamente sobre elas que houve alteração.

Com a aprovação do Projeto de Lei Criminal, uma das mudanças é o tempo de prisão para quem insultar companheiras, esposas e familiares de muçulmanos, que passará de três para dez anos, além do acréscimo de multas que chegam a US$ 4 mil.

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O Relatório Internacional de Liberdade Religiosa do Departamento de Estado americano apontou que em 2021 pelo menos 16 pessoas foram condenadas à pena de morte por blasfêmia. A Comissão de Liberdade Religiosa Internacional dos EUA (Uscirf) destacou em seu último levantamento, do mesmo ano, que 55 cristãos estavam presos acusados desse crime.

Em entrevista por e-mail à Gazeta do Povo, o membro da Assembleia de Punjab e secretário parlamentar de Direitos Humanos e Minorias, Joel Aamir Sahotra, explicou como está a situação no país diante dos últimos ataques.

Acompanhamos nos últimos dias a triste realidade que tomou conta do Paquistão, marcado pela violência contra a minoria cristã que vive no país. Como vocês, cristãos, têm enfrentado esse momento? 

Faltam-me palavras enquanto escrevo isso. Nós, cristãos paquistaneses, estamos profundamente magoados e angustiados com o incidente de Jaranwala, no distrito de Faisalabad, onde bíblias foram profanadas e cristãos foram torturados e assediados, tendo sido falsamente acusados de violar o Alcorão Sagrado.

Esse tipo de ataque é recorrente? Há outros relatos?

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Não é a primeira vez que ataques como esse acontecem, estão acontecendo continuamente e parece uma coisa sem fim. Enfrentamos a discriminação religiosa especialmente desde 1985, quando houve alteração da Lei de Blasfêmia pelo ditador Zia Ul Haq, que acrescentou a punição por enforcamento até a morte.

Assim como vimos em Jaranwala, aconteceu dois dias depois no distrito de Sahiwal, um distrito vizinho. E, no dia seguinte, em Sargodha. Os casos se espalham rapidamente.

Como funciona a lei de blasfêmia?

É muito fácil acusar qualquer um de blasfêmia aqui, então ninguém vai querer descobrir qual é a realidade por trás disso. Infelizmente, em todos os casos de blasfêmia, ficou comprovado que alegações erradas foram feitas contra minorias religiosas, mas devido à mente rígida e ao fanatismo, ninguém se importa com a verdade sobre os fatos e as acusações ficam na Justiça por anos e anos.

No Paquistão, 98% por cento da população pertence à comunidade muçulmana e essa maioria não está pronta para respeitar outras religiões. Portanto, acredito, com pesar, que é uma guerra interminável de medo. Estamos vivendo nossas vidas sob medo e insegurança, porque ninguém pode enfrentar uma multidão violenta.

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Como o governo está agindo diante do ocorrido? 

O governo sempre age depois dos “incidentes”, das multidões serem convocadas a realizar os ataques. Até hoje, mesmo com diversas tentativas, não temos leis fortes que possam nos defender desses crimes.

O fundador do nosso condado, senhor Jinnah, prometeu que teríamos direitos iguais no Paquistão, como cidadãos iguais, que seríamos livres para realizar nossos cultos religiosos e, constitucionalmente, receber um “status” semelhantes aos demais. Mas, depois de sete décadas, ainda lutamos para provar que somos leais e fiéis ao nosso país, temos que provar isso.

O que os cristãos têm feito nesse momento? 

Temos clamado por justiça e ação por parte das autoridades e daqueles que fazem justiça e são responsáveis pela segurança de todos os cidadãos. Pedimos que eles intervenham imediatamente e garantam que as nossas vidas são valiosas na nossa própria pátria, que clama por liberdade.

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Pedimos ainda que as organizações internacionais se mobilizem em prol dessa minoria religiosa, para que haja um fim nessa violência que dura tanto tempo. Chamamos o Ocidente, a União Europeia para que apresentem projetos para proteger nossa comunidade, pois vivemos enormes desafios e violações de direitos humanos.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]