Oposição e chavismo foram às ruas nesta sábado (6) em mais um dia de manifestações na dividida Venezuela. Com exceção de um confronto entre opositores e a Guarda Nacional Bolivariana (GNB) em Maracaibo, no estado de Zulia, que deixou pelo menos 30 feridos, os protestos foram pacíficos.
Em frente a milhares de pessoas que se reuniram em Caracas para apoiar a Operação Liberdade, Juan Guaidó, líder da oposição e presidente interino da Venezuela, disse que o Palácio de Miraflores "tem pânico porque estamos nas ruas".
"Enquanto eles se entrincheiram em quatro quadras, nós estamos em 358 pontos do país", afirmou, referindo-se às manifestações pró-Maduro que aconteceram no mesmo dia nas proximidades da sede do governo.
Manter a população mobilizada pelo fim do regime do ditador Nicolás Maduro é um dos grandes desafios de Guaidó, reconhecido como presidente interino da Venezuela por mais de 50 países, inclusive Brasil e Estados Unidos. Grandes manifestações já ocorreram em outros anos, como em 2014 e 2017, mas uma série de fatores, inclusive erros da própria oposição, fez com que o sentimento de esperança pela mudança esmaecesse.
Depois de um 2018 apático, porém, a oposição conseguiu mais uma vez recuperar o ânimo popular para sua causa. Em janeiro, Guaidó assumiu a liderança do movimento renovado e conquistou, com a articulação política de seus aliados, reconhecimento e apoio internacional, que deram fôlego maior para sua campanha.
É esse fôlego que a oposição não quer perder – e não pode perder.
Guaidó já sofreu uma derrota quando, em fevereiro, pediu aos militares que desobedecessem as ordens do ditador e deixassem passar a ajuda humanitária vinda dos Estados Unidos – o que não ocorreu. Apesar disso, as pessoas continuaram mobilizadas. Talvez mais pelo agravamento da crise humanitária, com os constantes apagões e a falta de água que se tornaram problemas em nível nacional em março, do que por uma identificação com as causas da oposição.
Agora, a oposição coloca em marcha a "Operação Liberdade", que pretende acelerar o processo de "cessação da usurpação" por meio de ondas de manifestações que levarão Guaidó a tomar o Palácio Miraflores.
"6 de abril, o começo da Operação Liberdade, o começo de uma fase definitiva para a cessação da usurpação, onde todos somos atores de mudança no momento", disse Guaidó a repórteres na Assembleia Nacional Venezuelana, que ele preside, na quinta-feira (4).
Uma nova etapa da Operação Liberdade deve ocorrer na próxima quarta-feira (10).
"Ontem [sexta-feira] tentaram posicionar uma tendência: não mais marchas. Ninguém acredita mais nesses rótulos falsos. Estaremos nas ruas até chegarmos à liberdade, porque chegamos aqui graças ao sacrifício de centenas de presos políticos, milhares de cidadãos que saíram às ruas", disse Guaidó.
Apelo aos empregados públicos
Durante a manifestação deste sábado, Guaidó convocou os funcionários públicos para uma nova reunião nesta segunda-feira (8), a fim de definir a Operação Liberdade com este setor.
Guaidó disse que os trabalhadores públicos são essenciais para continuar "construindo capacidades" e prometeu que deixarão de ser "vítimas" e que a chantagem por parte do "regime Nicolás Maduro" contra eles terminará.
"Chega da impunidade de grupos armados e irregularmente armados e financiados por Cuba certamente", disse ele, dirigindo-se ao presidente cubano, Miguel Diaz-Canel.
Em março, logo depois de ter chegado de um tour pelos países aliados na América do Sul, Gauidó se reuniu com lideranças sindicais, mas o evento foi esvaziado. O líder da oposição havia contatado trabalhadores de 100 agremiações sindicais para o encontro, para tentar chamar um grupo expressivo de trabalhadores, mas apenas algumas centenas de pessoas participaram do ato – no total, o governo emprega 2 milhões de servidores. Muitos alegaram medo de retaliações do governo para não comparecer.
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Deputados detidos e 30 feridos em Zulia
Maduro está evitando empregar violência contra as manifestações que pedem pela sua saída do poder – pelo menos com as forças de segurança do Estado, já que manifestantes opositores se veem ameaçados pelos coletivos paramilitares que andam armados em motocicletas, rodando pelas cidades.
Neste sábado, porém, houve um conflito entre manifestantes e a polícia antimotim da Guarda Nacional Bolivariana, em Maracaibo, no qual cerca de 30 pessoas ficaram feridas, incluindo sete universitários, segundo o líder estudantil José Javier Barboza. As autoridades policiais usaram gás lacrimogêneo e balas de borracha para dispersar os manifestantes.
Na mesma cidade, dois deputados da oposição foram detidos por forças leais ao regime. Nora Bracho e Renzo Prieto foram liberados horas depois. O regime não explicou por que eles foram presos.
Jornalista também foram intimidados, de acordo com o jornal venezuelano El Nacional. A correspondente María Carolina Quintero denunciou que teve seus pertences roubados e que foi espancada pelas tropas da Guarda Nacional na Avenida Bella Vista, em Maracaibo. Ele também diz que recebeu ameaças de deixar o local. O correspondente da TV da Venezuela, Gerard Torres, também foi espancado, segundo o Sindicato dos Trabalhadores da Imprensa.