A polícia de Londres declarou ontem que o material apreendido com David Miranda, o namorado brasileiro do jornalista Glenn Greenwald, autor de reportagens com base em informações de inteligência vazadas por Edward Snowden, é "altamente sensível" e, se revelado, pode colocar vidas em risco.
Detetives antiterroristas afirmaram ter iniciado uma investigação criminal após um exame preliminar do material que estava com Miranda, que foi interrogado por nove horas no aeroporto de Heathrow, em Londres, no domingo.
Miranda, que transportava documentos fornecidos por uma jornalista que mora em Berlim, também ligada a Snowden, para Greenwald, foi liberado sem acusações, mas teve confiscados seu computador, telefone, um disco rígido e cartões de memória.
A investigação é a mais recente reviravolta em um escândalo de vigilância que tem colocado o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, contra o governo da Rússia, que concedeu asilo temporário a Snowden, e levou assessores do primeiro-ministro britânico, David Cameron, a exigirem a devolução dos segredos em posse do jornal britânico The Guardian.
"Um exame inicial do material apreendido identificou um material altamente sensível, cuja divulgação poderia colocar vidas em risco", afirmou a Polícia Metropolitana de Londres em comunicado.
A polícia se recusou a dar mais detalhes sobre a investigação criminal, e a advogada de Miranda, Gwendolen Morgan, disse a jornalistas que sabia muito pouco sobre a investigação ou em que estava baseada.
Juízes
Em uma audiência na Corte Superior de Londres, advogados de Miranda tentaram impedir que as autoridades britânicas vasculhassem as dezenas de milhares de documentos contidos nos dispositivos apreendidos.
No entanto, dois juízes deram às autoridades até 30 de agosto para inspecionar os documentos com o objetivo de defender a segurança nacional e investigar eventuais ligações com o terrorismo.
"Nós saudamos a decisão do tribunal que permite o exame do material, que contém milhares de documentos secretos, a fim de proteger a vida e a segurança nacional", afirmou a polícia em nota.
Greenwald, que vive no Rio de Janeiro e escreve para o Guardian, publicou reportagens baseadas em documentos vazados por Snowden, um ex-prestador de serviço da Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos (NSA, na sigla em inglês), que enfrenta acusações criminais em seu país.