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“Cheese”

Mistura de heroína com remédio mata mais de 20 e preocupa autoridades nos EUA

Uma droga que combina preço baixo com efeitos devastadores está tirando o sono de autoridades e educadores americanos. Batizada de "cheese" (queijo em inglês), a mistura de heroína com anti-histamínicos - encontrados em antigripais como o Tylenol PM - já causou ao menos 21 mortes desde 2005 somente em Dallas, no Texas. Uma dose custa apenas US$ 2 (menos de R$ 4). Com alta capacidade de causar dependência, o pó já é comparado ao crack, derivado da cocaína que se espalhou dos Estados Unidos para o mundo. Para evitar mais estragos no país, a agência federal de combate às drogas acompanha atentamente a questão.

- Não tenho dúvida de que o número de usuários de cheese está crescendo – disse por telefone o detetive Jerry Rhodes, da divisão de narcóticos da polícia de Dallas, onde o consumo da droga está concentrado.

Enquanto a heroína pura é geralmente injetada, o cheese é inalado. Os efeitos são semelhantes: letargia, sonolência e sensação de bem-estar, pela ausência de dores. Na nova droga, o anti-histamínico pode potencializar a ação tranqüilizante do ópio, substância extraída da papoula que é a base da heroína. Com doses elevadas, a inibição do sistema nervoso é capaz de causar parada cardíaca e respiratória, levando à morte.

Os papelotes ou saquinhos de cheese são vendidos em geral para adolescentes de 15 a 18 anos, mas há registros de crianças de 11 anos entre os usuários. As explicações para o nome são várias e vão desde uma estratégia de marketing para agradar as crianças até a semelhança do pó com queijo ralado, passando pela gíria de origem espanhola "chiva", sinônimo de heroína. Segundo o detetive Rhodes, a polícia já sabe que os vendedores são quase sempre jovens, que oferecem a droga em todo tipo de lugar: nas ruas, nos colégios, em festas ou por meio de amigos dos consumidores.

O porta-voz da Drug Enforcement Administration (DEA - agência americana de combate às drogas), Garrison Courtney, afirma que o governo federal está "monitorando a situação para garantir que o cheese não se espalhe para além da área de Dallas". Na cidade, uma força-tarefa tenta deter os traficantes de heroína, enquanto policiais são treinados para instruir pais e professores, explicando o que é o cheese e como a mistura está sendo usada pelos jovens.

- O DEA e o Departamento de Polícia de Dallas participaram de reuniões com escolas na região metropolitana com objetivo de educar professores e pais sobre este assunto – disse Courtney.

Em Dallas, do ano letivo de 2006 para o de 2007, o número de presos por porte da droga subiu de 90 para 122. Até agora, de acordo com Rhodes, não há informações sobre casos fora do país. Mas a facilidade para produzir a droga já deixa outros estados americanos em alerta.

- O cheese foi visto pela primeira vez em Dallas. Mas eu poderia, por exemplo, mudar-me para o Brasil com minha mulher e meus filhos, e eles poderiam inserir a droga nas escolas brasileiras. Ouvimos o caso de um estudante que foi para a Flórida e levou a droga para lá. Ele sabia como fazer o cheese – explicou Rhodes.

As informações sobre a droga já cruzaram o país e chegaram à comunidade brasileira. Do outro lado dos EUA, em Atlanta, Carlos Henrique Gonçalves usou o Orkut para divulgar os riscos da droga.

- Hoje já se fala em uma epidemia em todo o território americano, e tem sido de certa forma difícil de ser detectada uma vez que foi criado o nome "cheese" para não assustar as crianças. E não tendo medo, elas nada comentam e experimentam. Sem contar com o custo baixíssimo, o que possibilita comprá-la com o dinheiro de uma merenda. Muito sério e triste – relatou o brasileiro, por email.

Aqui, o cenário é outro. Além de ser desconhecido por médicos e especialistas, o cheese não deverá chegar ao país, de acordo com o Representante Regional do Escritório das Nações Unidas contra Drogas e Crime (UNODC) para o Brasil e Cone Sul, Giovanni Quaglia.

- Apenas 2% dos usuários de droga dos EUA consomem heroína. A droga entra pela Colômbia, mas faz parte da cultura européia e asiática. Nos Estados Unidos,a cocaína é mais popular. Pelo momento, (o cheese) é um fenômeno local. Não deve chegar ao Brasil - tranqüilizou Quaglia.

O representante da ONU lembra, no entanto, que quando o crack nasceu nas comunidades negras de Nova York e Miami especialistas acreditavam que seu uso seria local. Hoje, há apreensões da droga em diversas cidades do mundo, inclusive no Rio de Janeiro.

O ex-secretário nacional Antidrogas, Walter Maierovitch, destaca que a heroína é uma droga em decadência, já que hoje "as pessoas procuram drogas psicoativas para estar ligadas". Mas, ao contrário de Quaglia, Maierovitch acredita que o Cheese pode chegar ao Brasil. Para combater a droga, ele sugere campanhas e ações que "reduzam danos e riscos" de perder vidas, como obrigar os organizadores de raves a oferecer água gratuitamente, o que evitaria que consumidores de drogas sofram desidratação.

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