Um helicóptero supostamente transportando Ratko Mladic sobrevoa a penitenciária Scheveningen, em Haia, na Holanda| Foto: Reuters

O ex-comandante servo-bósnio Ratko Mladic foi extraditado na terça-feira para a Holanda para enfrentar acusações de genocídio no tribunal de crimes de guerra da ONU, em Haia, após 16 anos foragido.

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O militar de 69 anos chegou a Roterdã a bordo de um jato do governo sérvio no início da noite de terça-feira. Depois de 90 minutos no aeroporto, onde foi mantido fora do alcance da mídia, Mladic foi transferido de helicóptero ao centro de detenção do tribunal perto de Haia.

Ele foi indiciado pelo Tribunal Penal Internacional para a ex-Iugoslávia por genocídio durante o cerco de 43 meses a Sarajevo, capital da Bósnia, e pelo massacre de 8.000 homens e meninos muçulmanos na cidade de Srebrenica durante a guerra bósnia de 1992-1995.

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Mladic foi preso na semana passada na fazenda de um primo, no norte da Sérvia, e extraditado na terça-feira depois de perder seu último recurso legal em Belgrado, capital sérvia, no início do dia.

Dentro do complexo penitenciário, vários guardas usando capacetes e portando armas automáticas patrulhavam a área no momento em que o primeiro de dois helicópteros pousou. Um comboio de carros pretos também entrou na área, mas Mladic não foi visto.

Mais tarde, o tribunal confirmou que Mladic foi transferido para a unidade de detenção.

Segundo o comunicado, a partir de agora um painel de juízes será formado e o ex-comandante irá a julgamento "sem atraso". Normalmente isso significa 12 ou 24 horas após a chegada do acusado, embora a primeira aparição de Mladic no tribunal deva acontecer na quinta ou sexta-feira.

O tribunal disse que a aparição inicial de Mladic, cuja detenção provocou protestos de ultranacionalistas sérvios na Sérvia e na Bósnia, será anunciada oportunamente.

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A embaixadora bósnia na Holanda declarou a uma TV bósnia que viu Mladic no centro de detenção e que ele parecia bem de saúde.

"Eu o encontrei para avisá-lo sobre a embaixada da Bósnia na Holanda e oferecer assistência se precisar... ele parecia bem, em boa condição de saúde, focado e racional, definitivamente entendeu tudo o que eu disse a ele", afirmou a embaixadora Miranda Sidran-Kamisalic.

Último dia na Sérvia

O último dia de Mladic na Sérvia, onde passou a maior parte de seus anos de fuga, começou com uma visita da polícia, que o escoltou até o túmulo de sua filha Ana, em Belgrado, que se suicidou em 1994.

A esposa e filho de Mladic fizeram a última visita à prisão, antes de ele ser levado ao aeroporto de Belgrado, com uma tropa especial da polícia usando máscaras, coletes à prova de balas e rifles automáticos no comboio de veículos.

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Durante uma visita à prisão na segunda-feira, Mladic encontrou seu neto de cinco anos de idade, possivelmente pela primeira vez, e sua neta de dez anos.

O advogado e familiares de Mladic alegaram que ele estava mentalmente instável e doente demais para ser extraditado para o tribunal.

No entanto, o ex-general foi capaz de escapar da Justiça por 16 anos, um fato que nos últimos anos impediu o progresso de Belgrado na adesão à União Europeia. Bruxelas havia insistido em sua captura e transferência para o tribunal internacional de crimes de guerra.

A prisão de Mladic evidenciou também as profundas divisões étnicas na Bósnia, onde ele lutou para criar uma entidade sérvia separada. Como resultado da guerra, a República Sérvia existe como uma das duas metades, sob um governo central fraco da Bósnia.

Cerca de dez mil servo-bósnios pediram apoio para seu comandante durante a guerra na capital da República Sérvia, Banja Luka, uma afronta aos muçulmanos de outras regiões da Bósnia, que consideram o general como um assassino brutal.

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Ônibus chegaram de toda a República Sérvia, muitos cheios de ex-soldados ostentando sua foto.

"Há mais Mladics na Sérvia, eles vão crescer e vão continuar onde ele parou", disse Srdjan Nogo, da organização ultranacionalista Srpske Dveri, em Belgrado.

Sentimentos desse tipo alarmam os muçulmanos na Bósnia.

"Noite após noite eu tremo de medo de que alguém possa vir, nos obrigar a sair de casa e disparar contra nós", disse Emina Bajric, 72, aposentada, em Banja Luka.

"Passamos por isso uma vez e eu não tenho certeza se eu conseguiria passar por isso novamente."

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