O ditador da Rússia, Vladimir Putin, toma medidas para garantir a continuidade do seu regime, com ou sem cessar-fogo na Ucrânia
O ditador da Rússia, Vladimir Putin, toma medidas para garantir a continuidade do seu regime, com ou sem cessar-fogo na Ucrânia| Foto: EFE/EPA/MIKHAIL METZEL/SPUTNIK/KREMLIN POOL
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Não se sabe ainda quando (e como) será assinado um cessar-fogo na guerra da Ucrânia, mas o ditador da Rússia, Vladimir Putin, já vem tomando precauções para controlar o povo russo mesmo que o conflito seja pausado em breve.

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Um relatório divulgado no final de fevereiro pelo think tank americano Instituto para o Estudo da Guerra (ISW, na sigla em inglês) apontou duas estratégias principais em andamento: uma mobilização permanente da população e a cooptação de veteranos da guerra na Ucrânia, para que não se voltem contra o Kremlin.

No seu último discurso de Ano Novo, em dezembro, Putin anunciou que 2025 seria o Ano do Defensor da Pátria, indicando que o sentimento de mobilização militar e confronto continuará sendo alimentado na Rússia.

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“Ainda temos muito a decidir, mas podemos nos orgulhar do que já foi feito. Esta é nossa herança em comum, uma base confiável para um desenvolvimento futuro. Nosso país - independente, livre e forte - foi capaz de responder aos desafios mais difíceis”, disse o ditador. “Enquanto estivermos juntos, tudo se tornará realidade!”

Além desse projeto, o relatório do ISW, assinado por Kateryna Stepanenko, vice-líder da equipe sobre Rússia do think tank americano, apontou que a cooptação de veteranos é uma estratégia de Putin para impedir que os mais de 700 mil militares a serem reintegrados à sociedade russa representem uma ameaça ao poder do ditador.

O receio é que haja um fenômeno semelhante à chamada Síndrome do Afeganistão, quando os veteranos da guerra soviética naquele país (1979-1989), abandonados e desiludidos na volta para casa, acabaram contribuindo para o fim da União Soviética.

Stepanenko escreveu que o regime comunista de então, liderado por Mikhail Gorbatchov, reintroduziu algumas liberdades civis “que permitiram que veteranos soviéticos que vivenciavam a ‘síndrome afegã’ formassem suas próprias sociedades civis com base no seu trauma coletivo”.

“Esses grupos de veteranos ficaram popularmente conhecidos como Afghantsi (afegãos). O surgimento dos Afghantsi em condições de controles relaxados dos espaços de informação e estagnação econômica contribuiu para o enfraquecimento do Partido Comunista, a desilusão com o exército soviético e o recrutamento militar, e o surgimento de uma divisão entre o establishment militar soviético e a liderança política”, destacou a analista.

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Para impedir que veteranos da guerra na Ucrânia se tornem vozes críticas dentro da sociedade russa ao retornarem (seja sobre o conflito em si, seja sobre a necessidade de abertura política no país), Putin vem intensificando iniciativas para cooptação deles iniciadas no final de 2022.

Stepanenko destacou quatro principais: a criação do Fundo Estatal dos Defensores da Pátria; da Escola Superior de Administração Pública Tempo dos Heróis; da Associação de Veteranos da Operação Militar Especial (termo que o Kremlin usa para se referir à invasão da Ucrânia); e do movimento da Irmandade Militar Operação Militar Especial.

A ideia, descreveu Stepanenko, é manter associações de veteranos subservientes a Putin.

“Essas iniciativas permitem que o Kremlin coopte e fortaleça veteranos que são leais ao regime, estabeleça organizações de veteranos controladas pelo Estado, expurgue e substitua a atual elite russa que pode ter se tornado mais cética em relação ao esforço de guerra do Kremlin e restrinja o financiamento estatal e o apoio a outros grupos de veteranos que o Kremlin perceba como desleais”, afirmou a analista.

“O Kremlin ao mesmo tempo aplicou leis de censura mais rígidas e suprimiu atores-chave que tinham interlocução com veteranos russos para facilitar a formação de uma ‘sociedade civil’ de veteranos administrada pelo Estado”, acrescentou.

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Putin quer cem veteranos na Duma em 2026

No início de março, a jornalista exilada Farida Rustamova publicou no seu canal no Telegram uma reportagem que apontou que a tentativa de cooptação de veteranos da guerra na Ucrânia chega à política.

De acordo com a apuração da jornalista, o Kremlin quer eleger cem veteranos da guerra para a Duma, a câmara baixa do Parlamento russo, nas eleições legislativas de setembro de 2026.

A ideia é, além de agradar a categoria, manter a Duma nas mãos do partido de Putin, o Rússia Unida, que hoje, com seus deputados, legendas aliadas e oposição de mentira, já controla a casa de 450 deputados.

Considerando-se que o órgão eleitoral russo, que determina quem pode concorrer nas eleições, é totalmente dominado pelo ditador, tais veteranos já podem se considerar eleitos.

Uma reportagem do jornal The Moscow Times apontou que outra estratégia de cooptação de veteranos é a nomeação para cargos no Executivo.

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Mais de dez ex-soldados foram nomeados para cargos governamentais após concluírem treinamento na Escola Superior de Administração Pública Tempo dos Heróis. Com ou sem cessar-fogo, Putin já está garantindo a continuidade da sua ditadura.