São Paulo – O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, tem um sólido e bem estruturado plano de modernização das Forças Armadas, projeto de longo prazo que ultrapassa a compra de 22 caças Sukhoi (Su-30), 30 helicópteros e 100 mil fuzis Ak-103, russos. Ele quer ter ao menos 150 supersônicos, 10 a 15 submarinos lançadores de mísseis, 138 navios, radares, fábricas de produção de sistemas de defesa e, de quebra, alguma capacidade nuclear. É para gerar energia elétrica, garantiu numa apresentação na Europa. O parceiro favorito nesse campo é o Brasil. Há um ano houve uma tentativa de acordo binacional. Não funcionou.

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Mas ele é um cliente que vai às compras com sabedoria. "O programa não é teórico nem confuso – é objetivo e claro", adverte a pesquisadora espanhola Catalina Perdomo, cenarista da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e autora do estudo "Mudanças na Doutrina Militar Venezuelana".

O pacote militar vai custar cerca de US$ 60 bilhões, metade do valor médio de tudo o que o país produz em um ano. Mas Chávez acha que no fim, por volta de 2020, terá valido a pena: se tudo der certo, ele será então o líder da mais poderosa potência militar da América do Sul.

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Essa condição hoje é do complexo militar do Brasil. Um estudo da inteligência da defesa, alerta para a necessidade de investimentos na revitalização das três Forças "para evitar a superação e a perda do poder dissuasivo". O texto cita especificamente Venezuela e Chile. Diz que ambos sabem exatamente o tamanho dos recursos que terão a longo prazo, enquanto os comandos brasileiros desconhecem os prováveis valores do orçamento para 2007.

A seu favor, Chávez tem o fator tempo. Com o Parlamento e a Suprema Corte sob seu controle político, deve promover alterações na Constituição que o transformarão em uma espécie de presidente vitalício, ou quase isso, com mandato até 2031. "Ele terá 77 anos. Todos os seus colegas, de Lula ao americano George W. Bush, terão passado à História", analisa um ex-diplomata de Caracas que vive na Europa.

O ex-embaixador não pode ser identificado. Teme represálias contra parentes e amigos, segundo ele vigiados pela violenta polícia política chavista. Ele e outro ex-funcionário, ligado ao gabinete da Presidência até 2003, montaram um centro de estudos agregado à Universidade da Califórnia. Semana passada detectaram oito missões de prospecção e compras em visita a fornecedores de diversas partes do mundo.

Exército do Mercosul

No dia 30, o general Raul Baduel foi condecorado por Chávez e promovido a chefe das Forças Armadas. O abraço entre os amigos mereceu breve comentário. Chávez disse-lhe que estivesse pronto para a missão de integrar o comando do "exército do Mercosul". Os dois riram.

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No dia 5, após aderir formalmente ao Mercosul, o presidente assistiu ao desfile militar em que dois super caças Su-30, que voaram 14.600 Km desde a base de Vnukovo, perto de Moscou, fizeram evoluções. Chávez estava com os presidentes Nestor Kirchner (Argentina), Evo Morales (Bolívia) e Nicanor Duarte (Paraguai). Lula esteve no ato de adesão do país ao Mercosul, mas não foi ao desfile.

Entusiasmado com a apresentação de blindados brasileiros Urutu recondicionados e armados com canhões de 20 mm, de 12 mil soldados armados com novos fuzis Ak-130, versão do lendário Ak-47, e dos primeiros helicópteros de ataque comprados na Rússia, Chávez defendeu no discurso "a fusão das Forças Armadas do Mercosul". Não é pouco. O conjunto das cinco nações soma cerca de 450 mil homens, 1.200 tanques, 12 submarinos, 70 navios de superfície e 485 aviões de combate. A tese pegou mal. O diretor do Mercosul, Carlos Alvarez, só precisou de meia hora para negar a criação da força.