O presidente da Bolívia, Evo Morales, acusou na quarta-feira a DEA (agência antidrogas dos EUA) de ter tentado grampear seu telefone em vez de caçar traficantes.
As relações entre La Paz e Washington se deterioraram nos últimos meses. Em setembro, Morales expulsou o embaixador dos EUA, acusando-o de conspirar com a oposição. Os EUA reagiram expulsando o embaixador boliviano, e também colocaram a Bolívia na lista de países que não colaboram com o combate às drogas.
Já em novembro, Morales expulsou agentes da DEA, também acusando-os de conspirar com a oposição e de realizar espionagem - o que o governo norte-americano rejeita.
"Não precisamos dos agentes da DEA para controlar o presidente", disse Morales, referindo-se a si mesmo, em discurso na sede da Organização dos Estados Americanos (OEA), em Washington.
Sem entrar em detalhes, ele acusou a DEA de tentar grampear o seu telefone e o de seu vice, Álvaro García Linera
O ex-dirigente cocaleiro diz ser contra o tráfico de cocaína, mas afirma ver perspectiva econômicas positivas para o cultivo do arbusto da coca para fins legais. Na Bolívia, a folha da coca é usada em rituais indígenas e mascada para fins medicinais e nutricionais.
Em outubro, o presidente dos EUA, George W. Bush, disse que pretende retirar a Bolívia dos benefícios comerciais concedidos há 17 anos por Washington sob um programa de cooperação contra o tráfico. Equador, Colômbia e Peru também se beneficiam desse programa.
Bush fez essa proposta depois que o governo dos EUA declararem num relatório de setembro que a Bolívia havia "comprovadamente falhado durante os 12 meses anteriores" em honrar suas obrigações internacionais no combate às drogas.
Morales disse à OEA que os EUA querem punir a Bolívia por não seguir as políticas econômicas preconizadas por Washington, que há anos vê com desagrado a aproximação dele com os governos esquerdistas de Cuba e Venezuela.
O presidente boliviano de esquerda defendeu ainda uma cooperação mais "transparente" na guerra às drogas, sob a supervisão da OEA ou da ONU, e não de Washington.
Ele disse esperar que as relações entre os EUA e a América Latina como um todo, inclusive a Bolívia, melhorem "grandemente" depois da posse do presidente Barack Obama, em 20 de janeiro.
Durante sua viagem, Morales, primeiro indígena a governar a Bolívia, não se reuniu com membros da equipe de transição de Obama, primeiro negro eleito presidente dos EUA.