La Paz O presidente Evo Morales determinou que o Exército e a Polícia Nacional ocupassem ontem o centro de La Paz, bloqueado por motoristas de ônibus e vans desde segunda-feira. Durante todo o dia, houve conflitos entre os manifestantes, soldados e simpatizantes do Movimento ao Socialismo (MAS), partido da situação.
No dia em que o país comemora 24 anos de conquista da democracia, diversas formas de protesto confirmaram a previsão de "uma semana difícil", feita no sábado pelo ministro da presidência, Juan Ramon Quintana.
O cenário de instabilidade começa a tomar tal dimensão que o porta-voz do governo, Alex Contreras, foi obrigado a desmentir em entrevista a possibilidade de golpe de Estado. "Nos reunimos nas últimas horas com o alto comando militar e policial e eles ratificaram o apoio e a confiança ao processo de mudanças no país" informou Contreras, para quem os rumores de golpe, gerados "fora das fronteiras", não passam de "um plano de conspiração em marcha para desacreditar o governo".
Em La Paz, os manifestantes se armaram de paus e pedras para enfrentar a força de repressão enviada pelo governo. Contreras afirmou que o envio de tropas militares tem apenas o objetivo de "resguardar a ordem" e permitir a mobilidade dos habitantes, uma vez que a Polícia Nacional está com grandes contingentes na região de Huanuni, onde um conflito batizado de "guerra do estanho" deixou 16 mortos na semana passada.
No final da manhã, as lideranças do setor de transporte público anunciaram o rompimento de relações com a administração municipal (chamada de alcaldia) e terminaram aos gritos uma reunião com autoridades. Agora, esperam negociar diretamente com o governo central.
Trabalhadores do setor de mineração e ambulantes também promoveram protestos no centro da cidade. Houve embates entre representantes dos três grupos em pontos diversos da região. Os mineiros pedem maior apoio oficial às famílias de vítimas da "guerra do estanho". A tragédia pode custar ao governo a perda de um de seus mais importantes aliados, a Federação Nacional das Cooperativas Mineiras (Fecomin), irritada com a queda do ministro de Minas, Walter Villaroel, indicado pela entidade.
Os mineiros, os líderes pela Central Obrera Boliviana (COB), acusam o governo de Evo Morales de não ter feito o necessário para impedir os conflitos do setor ocorridos na semana passada.
Quando os mineiros chegaram ao centro da capital, os seguidores de Evo fizeram sua primeira aparição. Ao grito de "Evo, Evo", eles passaram a insultar e agredir os mineiros, que não revidaram.
Em entrevista concedida pela manhã, segundo a Agência Boliviana de Informações, Contreras disse que o governo não aceitará trocar apoio por condições específicas. "Queremos dizer que nenhuma aliança, nenhum pacto com nenhum setor social se deve a favores. As alianças com os diversos setores sociais têm de ser políticas e ideológicas", afirmou.
Além dos conflitos em La Paz, Morales enfrenta greves de fome promovidas por taxistas nas principais cidades do país. O setor reclama da importação de automóveis usados do Japão, que seriam destinados ao transporte de passageiros. O setor de educação também está em greve e suspendeu as atividades em La Paz ontem.
O governo e o oficialista Movimento ao Socialismo (MAS) afirmam que os protestos obedecem a problemas locais, que devem ser solucionados pelas respectivas prefeituras, mas, ao mesmo tempo, sugerem que se trata de tentativas de desestabilizar o regime.
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