O criminologista George Kelling, co-autor da teoria das janelas quebradas| Foto: Manhattan Institute

George Kelling, um criminologista americano que acompanhava policiais em bairros violentos, enquanto concebia o que ele e cientista político James Wilson chamaram de teoria das "janelas quebradas" de prevenção da criminalidade, que teve uma influência poderosa sobre táticas de policiamento comunitário desde a década de 1980, morreu no dia 15 de maio em sua casa em Hanover, no estado americano de New Hampshire. Ele tinha 83 anos.

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A causa foi melanoma e doença cardíaca, disse sua esposa, Catherine Coles.

Dr. Kelling, um ex-assistente social, oficial de condicional e supervisor de um programa residencial para jovens com problemas, começou a investigar as táticas policiais e a prevenção do crime na década de 1970.

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Em 1982, quando estudava na Kennedy School of Government da Universidade de Harvard, ele e Wilson publicaram um artigo na revista Atlantic com o título "Broken Windows" (Janelas Quebradas). No artigo, eles afirmavam que o crime urbano não se desenvolve em um vácuo: é o resultado da negligência social e da decadência, em que pequenos problemas podem levar a um colapso da vida civil.

"Psicólogos sociais e policiais tendem a concordar que, se uma janela de um prédio for quebrada e deixada sem conserto, todo o resto das janelas será quebrado em breve", escreveram Wilson e Kelling.

Impacto nas táticas de policiamento

A teoria das "janelas quebradas" tornou-se a pedra angular do "policiamento comunitário", uma abordagem ampla para a prevenção do crime praticada pelos departamentos de polícia em todo o país.

"Página por página, teve um impacto maior do que qualquer outro artigo no policiamento sério", disse Jeremy Travis, diretor do Instituto Nacional de Justiça do Departamento de Justiça, ao jornal Los Angeles Times em 1996.

Wilson, que morreu em 2012, foi creditado por cunhar o título evocativo do artigo, mas grande parte da pesquisa acadêmica por trás de "Broken Windows" foi feita por Kelling. Trabalhando em conjunto com policiais em Newark e Kansas City, Missouri, ele visitou bairros deteriorados e com altas taxas de crimes para determinar o que estava errado e o que poderia ser feito para preservar o senso de ordem social de uma comunidade.

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"Eu aprendo com as histórias de guerra, aprendo com a experiência, aprendo com o que acontece nas ruas", disse Kelling ao Milwaukee Journal Sentinel em 2007.

Ele tinha interesse particularmente em saber como as táticas policiais haviam mudado do antiquado policial de bairro que patrulhava caminhando para o método de "resposta rápida", em que policiais andam em carros e dirigem rapidamente para os lugares onde crimes foram denunciados.

"Minha própria experiência me dizia que quando um carro da polícia passava, eles estavam sempre a caminho de fazer outra coisa", disse Kelling. "E quando os policiais de patrulha passavam a pé, eles estavam lá por minha causa".

Ele e Wilson sugeriram em "Broken Windows" que os policiais que patrulhavam um bairro a pé se tornavam parte da estrutura de uma comunidade, incutindo uma sensação de familiaridade, segurança e orgulho.

Controle do comportamento desordeiro

"O cidadão que teme o bêbado desagradável", Kelling e Wilson escreveram, "o adolescente arruaceiro ou o mendigo que importuna não está simplesmente expressando seu desgosto por comportamentos inadequados, ele também está dando voz a um pouco da sabedoria popular que nesse caso é uma generalização correta – que o grave crime de rua prolifera em áreas nas quais o comportamento desordeiro não é controlado. O mendigo não controlado é, na verdade, a primeira janela quebrada".

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Na década de 1970, enquanto conduzia pesquisas para a Police Foundation, com sede em Washington, Kelling tornou-se amigo de William Bratton, um policial de Boston. Nos anos 1980 e 1990, Bratton liderou a Polícia de Trânsito de Nova York e os departamentos de polícia de Boston, Nova York e Los Angeles. Onde quer que ele fosse, ele colocava em prática as ideias das "janelas quebradas".

Sob Bratton, os policiais impunham leis contra a embriaguez pública, a evasão das tarifas de transporte público e pedir esmolas de forma agressiva, incluindo os flanelinhas que confrontavam os motoristas que esperavam nos semáforos. A polícia descobriu que pessoas que cometiam pequenas ofensas eram mais propensas a cometer crimes mais graves.

Em Nova York, houve 2.262 assassinatos em 1990 e mais de 100.000 roubos. Em 2017, o número de assassinatos caiu para 292 e o número de roubos para cerca de 14.000. Departamentos de polícia em cidades como Washington, Houston, San Diego, Milwaukee e Seattle adotaram alguma forma de policiamento comunitário, muitas vezes com quedas notáveis ​​no crime.

Críticas

Ao longo dos anos, os estudiosos questionaram se a teoria das "janelas quebradas" realmente reduz o crime. Críticos disseram que as táticas miram injustamente em homens afro-americanos e latinos, particularmente depois que Eric Garner morreu estrangulado por um policial em Nova York, em 2014, quando foi preso por vender cigarros nas ruas.

Kelling disse que a teoria das "janelas quebradas" não deve ser confundida com a dura tática policial de "tolerância zero", na qual pequenas infrações levam à prisão.

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"Não queremos que a polícia apenas prenda", disse ele ao Los Angeles Times em 2015. "Queremos que eles encontrem soluções e, às vezes, a solução é simplesmente decidir não fazer nada, ou dizer: 'Você sabe que não deveria estar fazendo isso, vamos andando.' As prisões não são necessariamente um resultado desejável”.

George Lee Kelling nasceu em 21 de agosto de 1935, em Milwaukee. Seu pai era bombeiro, sua mãe, operária de fábrica.

Depois de passar dois anos em um seminário luterano, Kelling se formou no St. Olaf College, em Northfield, Minnesota. Mais tarde, ele concluiu um mestrado em trabalho social na Universidade de Wisconsin em Milwaukee e um doutorado em trabalho social na Universidade de Wisconsin em Madison.

Depois de ter trabalhado como assistente social, oficial de condicional e supervisor de casa de assistência, ele começou sua pesquisa na Police Foundation e depois na Northeastern University, em Boston. Mais tarde, lecionou na Rutgers University, em Newark, e foi pesquisador de longa data do think tank do Manhattan Institute.

Com sua esposa Coles, com quem era casado havia 36 anos, escreveu "Fixing Broken Windows: Restoring Order e Reducing Crime in Our Communities" (Consertando janelas quebradas: Restaurando a ordem e reduzindo o crime em nossas comunidades), em 1998.

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Seu primeiro casamento, com Sally Jean Mosiman, terminou em divórcio. Além de sua esposa, ele deixa dois filhos de seu primeiro casamento e quatro netos.

Kelling continuou defendendo a teoria das "janelas quebradas" durante anos. A teoria foi adaptada do policiamento para os negócios como uma forma de promover a renovação urbana.

O objetivo da vida cívica, disse ele, não era "zelo excessivo e falta de critério" por uma força policial sem supervisão, mas um ambiente pacífico em que as pessoas pudessem viver em harmonia.

"Em uma sociedade urbanizada, em um mundo de estranhos", disse ele ao New York Times, "a civilidade e a ordem são um fim em si mesmas".