O general reformado e candidato à presidência do Paraguai, Lino Oviedo, morreu na noite de sábado na queda de um helicóptero na província de Chaco. Logo após a confirmação da notícia, o presidente do país, Federico Franco, expressou seu pesar "à família do general, aos simpatizantes de seu partido e a todo o povo paraguaio pela perda de um dos heróis militares" da "façanha libertária de 2 e 3 de fevereiro de 1989", em alusão ao golpe que pôs fim à ditadura de Alfredo Stroessner.
Lino Oviedo, que viveu no Brasil por quatro anos em exílio, foi um dos participantes do golpe que acabou com a ditadura de Stroessner, derrubado na madrugada de 2 para 3 de fevereiro de 1989 há exatos 24 anos. Líder do partido Unace, ele embarcou no sábado à noite em um helicóptero para voltar a Assunção após participar de um comício na cidade de Concepción. A aeronave perdeu contato com a torre de controle cerca de duas horas depois e foi encontrada ontem na zona rural de Presidente Hayes por uma equipe de resgate formada por membros do Serviço de Busca e Resgate, compostos por homens da Força Aérea e do Corpo de Bombeiros Voluntários. O general reformado viajava com seu segurança e o piloto, que presumivelmente mudou a rota da viagem por causa do mau tempo.
Luto
O presidente do Paraguai declarou ontem três dias de luto oficial pela morte de Oviedo, informou o ministro do Interior, Carmelo Caballero. Citado pela agência pública "IP", Caballero disse que estão suspensas todas as atividades oficiais no país por três dias.
Um dos principais personagens do golpe que derrubou o ditador Alfredo Stroessner há 24 anos, Oviedo concorreria à Presidência no pleito de 21 de abril. Nas eleições de 2008, vencidas por Fernando Lugo, ele ficou em terceiro lugar.
Em entrevista coletiva, Caballero afirmou que o governo fará todo o possível para esclarecer as causas do acidente que matou, além de Oviedo, seu segurança e o piloto.
Legado
O presidente do Congresso paraguaio, Jorge Oviedo Matto, correligionário de Lino, afirmou ontem que "haverá Oviedo por muito mais tempo" ao lembrar que dois filhos e um sobrinho do candidato presidencial se dedicam à política.
Em entrevista a rede de televisão "Unicanal" ontem, Oviedo Matto disse que hoje será realizado o velório do líder do partido Unace, o terceiro de maior expressão na cena política paraguaia.
Segundo Oviedo Matto, uma vez que o corpo chegue a Assunção, terá início o velório na sede de seu partido, embora seja possível que também haja algo no Congresso "para que todos os cidadãos possam se despedir".
O chefe do Congresso, cujo nome figura entre os possíveis herdeiros de Lino, descartou que a morte dele signifique a morte da política do partido. "Não podemos abandonar esta luta que ele iniciou", disse o presidente do Congresso, que mencionou que a filha de Oviedo, Fabiola, está retornando da Alemanha para o funeral.
Oviedo Matto se recusou a falar sobre alguns rumores de que Lino Oviedo teria obrigado o piloto de seu helicóptero a voar em condições adversas, e disse apenas que "tinha ânsia de trabalhar" e por isso tinha decidido "retornar ontem à noite", para comparecer a suas obrigações deste domingo.
Além disso, Oviedo Matto não quis especular sobre a hipótese de que o acidente poderia ter sido, na realidade, um atentado.
Investigação
Jornais paraguaios repercutem possível atentado
Da redação, com agências
Durante todo o domingo (3), os maiores grupos de comunicação do Paraguai, ABC Color, La Nación, Ultima Hora, El Trece, Sistema Nacional de Televisión, entre outros, deram grande destaque para morte de Lino Oviedo, principalmente para possibilidade de se tratar de um atentado.
Em entrevista coletiva, César Durand, porta-voz do partido de Oviedo, Unace, disse que o general foi vítima de um crime. "É uma mensagem da máfia. Sua morte, nesta data [24 anos após o fim da ditadura], não foi casualidade", disse. "Muito pouca gente vai se animar a dizer isso, mas esta é uma mensagem da máfia. Quem era a pessoa que mais ameaçava a máfia? Justamente ele e acontece isso", afirmou.
Ainda ontem, o titular da Direção Nacional de Aviação Civil (Dinac), órgão responsável pelo controle do tráfego aéreo no Paraguai, disse que vai solicitar apoio internacional para investigar as causas do acidente. "Solicitaremos o apoio de especialistas estrangeiros para a perícia da aeronave", afirmou Carlos Fugarazzo, sem dar detalhes sobre o assunto.
O ministro do Interior do Paraguai, Carmelo Caballero, responsável pela área de segurança pública no país, considerou "prematuro e irresponsável" falar sobre atentados. No entanto, ele afirmou que "nenhuma hipótese está descartada" e que "as investigações terão como base os resultados apontados pela perícia".
O senador Jorde Oviedo Matto, também do partido Unace, descartou a tese de atentado "por enquanto" e recordou que o líder do partido "morreu trabalhando, como gostava" e disse que Oviedo decidiu viajar de helicóptero à noite porque tinha compromissos em Assunção.
A morte de Lino Oviedo foi destaque nos principais portais de notícia ao redor do mundo, principalmente da América Latina. O jornal Clarín, da Argentina, na edição online, publicou a notícia "Lino Oviedo morre em acidente de avião". O jornal espanhol El País destacava a morte e repercutia o auxilio estrangeiro na investigação. O canal CNN En Español exibiu ontem uma entrevista inédita com Lino Oviedo. A entrevista foi gravada no último dia 28, seis dias antes da morte dele.