Em 1989 Oviedo participou do golpe que derrubou do poder o ditador Alfredo Stroessner, no Paraguai. O general morreu no aniversário de 24 anos do golpe, no dia 2 de fevereiro. Lino Oviedo viveu exilado no Brasil por quatro anos, entre 1999 e 2002. O general também morou na Argentina por dois anos. Em 2004 retornou voluntariamente ao Paraguai e foi preso no aeroporto internacional de Assunção. Foi libertado em 2007. No ano seguinte concorreu ao cargo de presidente e ficou em terceiro lugar, com 22% dos votos.
Polêmico, Oviedo foi considerado golpista e herói
Denise Paro, da sucursal de Foz do Iguaçu
A polêmica marcou a trajetória do ex-general Lino César Oviedo. Figura controversa, Oviedo carregou a pecha de ser golpista, mas também era visto como herói. Foi preso, viveu no exílio, na clandestinidade, mas ao mesmo tempo era amado por uma parcela de camponeses e trabalhadores paraguaios, mesmo não tendo sido eleito uma só vez para qualquer cargo político. O carisma típico de líder populista o levou a conquistar uma legião de seguidores, batizados de oviedistas. Chegou a ter o nome associado ao narcotráfico, mas sem que ninguém provasse.
Episódios dantescos fizeram parte da vida do ex-general. Em vários momentos, Oviedo ocupou a figura de protagonista da instabilidade política no país. Foi considerado epicentro na derrocada do ditador Alfredo Stroessner (1954-1989). Em 1996, bateu de frente com o então presidente Juan Carlos Wasmosy. Acabou preso e impedido de sair candidato à presidência.
Em 1998, saiu da prisão após decreto do presidente Raúl Cubas, seu aliado. Já em 1999, Oviedo é colocado novamente no papel de vilão ao ser acusado de participar do assassinato do vice-presidente Luís María Arganã. Após o episódio conhecido como Março Paraguaio, que culminou com a morte de sete jovens em Assunção, ele e Cubas deixaram o país. Oviedo viveu na Argentina e por um período ficou escondido em um edifício de Foz do Iguaçu, por onde perambulava disfarçado, até ser preso em 2000. No ano de 2004, decidiu se entregar a justiça. Retornou ao Paraguai, mesmo sabendo que seria detido ao chegar ao país. Nos anos que ficou na prisão não perdeu tempo e elaborava seu projeto político para alçar a presidência.
Dizia que amava o Brasil, onde conquistou uma grande simpatia por onde passou e manteve laços estreitos com alguns políticos brasileiros. Admirador do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Oviedo orgulhava-se de ter no celular o telefone da secretária particular do petista com quem diz ter se encontrado várias vezes.
O ex-general nunca escondeu o desejo latente de ser presidente. Fundou o próprio partido, a União Nacional dos Cidadãos Éticos (Unace) ao ser expulso do Partido Colorado. Falava em modernizar a agricultura paraguaia. Criou um projeto com ajuda de técnicos brasileiros e queria capacitar pequenos agricultores para trabalhar na terra.
Obstinado, Oviedo estava em plena campanha para a presidência. Seu plano era percorrer o Paraguai e conversar com a população. Com a saída abrupta do ex-general da cena política, o caminho fica livre para o retorno do Partido Colorado ao poder.
O general reformado e candidato à presidência do Paraguai, Lino Oviedo, morreu na noite de sábado na queda de um helicóptero na província de Chaco. Logo após a confirmação da notícia, o presidente do país, Federico Franco, expressou seu pesar "à família do general, aos simpatizantes de seu partido e a todo o povo paraguaio pela perda de um dos heróis militares" da "façanha libertária de 2 e 3 de fevereiro de 1989", em alusão ao golpe que pôs fim à ditadura de Alfredo Stroessner.
Lino Oviedo, que viveu no Brasil por quatro anos em exílio, foi um dos participantes do golpe que acabou com a ditadura de Stroessner, derrubado na madrugada de 2 para 3 de fevereiro de 1989 há exatos 24 anos. Líder do partido Unace, ele embarcou no sábado à noite em um helicóptero para voltar a Assunção após participar de um comício na cidade de Concepción. A aeronave perdeu contato com a torre de controle cerca de duas horas depois e foi encontrada ontem na zona rural de Presidente Hayes por uma equipe de resgate formada por membros do Serviço de Busca e Resgate, compostos por homens da Força Aérea e do Corpo de Bombeiros Voluntários. O general reformado viajava com seu segurança e o piloto, que presumivelmente mudou a rota da viagem por causa do mau tempo.
Luto
O presidente do Paraguai declarou ontem três dias de luto oficial pela morte de Oviedo, informou o ministro do Interior, Carmelo Caballero. Citado pela agência pública "IP", Caballero disse que estão suspensas todas as atividades oficiais no país por três dias.
Um dos principais personagens do golpe que derrubou o ditador Alfredo Stroessner há 24 anos, Oviedo concorreria à Presidência no pleito de 21 de abril. Nas eleições de 2008, vencidas por Fernando Lugo, ele ficou em terceiro lugar.
Em entrevista coletiva, Caballero afirmou que o governo fará todo o possível para esclarecer as causas do acidente que matou, além de Oviedo, seu segurança e o piloto.
Legado
O presidente do Congresso paraguaio, Jorge Oviedo Matto, correligionário de Lino, afirmou ontem que "haverá Oviedo por muito mais tempo" ao lembrar que dois filhos e um sobrinho do candidato presidencial se dedicam à política.
Em entrevista a rede de televisão "Unicanal" ontem, Oviedo Matto disse que hoje será realizado o velório do líder do partido Unace, o terceiro de maior expressão na cena política paraguaia.
Segundo Oviedo Matto, uma vez que o corpo chegue a Assunção, terá início o velório na sede de seu partido, embora seja possível que também haja algo no Congresso "para que todos os cidadãos possam se despedir".
O chefe do Congresso, cujo nome figura entre os possíveis herdeiros de Lino, descartou que a morte dele signifique a morte da política do partido. "Não podemos abandonar esta luta que ele iniciou", disse o presidente do Congresso, que mencionou que a filha de Oviedo, Fabiola, está retornando da Alemanha para o funeral.
Oviedo Matto se recusou a falar sobre alguns rumores de que Lino Oviedo teria obrigado o piloto de seu helicóptero a voar em condições adversas, e disse apenas que "tinha ânsia de trabalhar" e por isso tinha decidido "retornar ontem à noite", para comparecer a suas obrigações deste domingo.
Além disso, Oviedo Matto não quis especular sobre a hipótese de que o acidente poderia ter sido, na realidade, um atentado.
Investigação
Jornais paraguaios repercutem possível atentado
Da redação, com agências
Durante todo o domingo (3), os maiores grupos de comunicação do Paraguai, ABC Color, La Nación, Ultima Hora, El Trece, Sistema Nacional de Televisión, entre outros, deram grande destaque para morte de Lino Oviedo, principalmente para possibilidade de se tratar de um atentado.
Em entrevista coletiva, César Durand, porta-voz do partido de Oviedo, Unace, disse que o general foi vítima de um crime. "É uma mensagem da máfia. Sua morte, nesta data [24 anos após o fim da ditadura], não foi casualidade", disse. "Muito pouca gente vai se animar a dizer isso, mas esta é uma mensagem da máfia. Quem era a pessoa que mais ameaçava a máfia? Justamente ele e acontece isso", afirmou.
Ainda ontem, o titular da Direção Nacional de Aviação Civil (Dinac), órgão responsável pelo controle do tráfego aéreo no Paraguai, disse que vai solicitar apoio internacional para investigar as causas do acidente. "Solicitaremos o apoio de especialistas estrangeiros para a perícia da aeronave", afirmou Carlos Fugarazzo, sem dar detalhes sobre o assunto.
O ministro do Interior do Paraguai, Carmelo Caballero, responsável pela área de segurança pública no país, considerou "prematuro e irresponsável" falar sobre atentados. No entanto, ele afirmou que "nenhuma hipótese está descartada" e que "as investigações terão como base os resultados apontados pela perícia".
O senador Jorde Oviedo Matto, também do partido Unace, descartou a tese de atentado "por enquanto" e recordou que o líder do partido "morreu trabalhando, como gostava" e disse que Oviedo decidiu viajar de helicóptero à noite porque tinha compromissos em Assunção.
A morte de Lino Oviedo foi destaque nos principais portais de notícia ao redor do mundo, principalmente da América Latina. O jornal Clarín, da Argentina, na edição online, publicou a notícia "Lino Oviedo morre em acidente de avião". O jornal espanhol El País destacava a morte e repercutia o auxilio estrangeiro na investigação. O canal CNN En Español exibiu ontem uma entrevista inédita com Lino Oviedo. A entrevista foi gravada no último dia 28, seis dias antes da morte dele.