O rock já era perigoso o bastante com o rebolado de Elvis Presley, os cabelos desgrenhados dos Beatles, a liberdade sexual dos Rolling Stones e os versos politicamente corrosivos de Bob Dylan. Mas aí surgiu Lou Reed, o poeta das trevas urbanas, falecido ontem, aos 71 anos. O agente literário de Reed, Andrew Wylie, disse acreditar que a morte se deu por complicações de um transplante de fígado feito em maio.
Cantor, guitarrista e compositor, o americano abraçou o lado mais abrasivo do rock (dissonâncias, microfonia, acordes de guitarra martelados) para construir, a partir das histórias de sexo, drogas, perversões e violência do seu microcosmo do submundo de Nova York, narrativas de um mundo em transformação para pior, mas, ainda assim, belo a sua maneira.
Nascido no Brooklyn em 1942 e batizado de Lewis Allan Reed, Lou se interessou, ainda menino, pela guitarra, por causa dos grupos de rock e R&B que ouvia no rádio. E logo começou a tocar em suas primeiras bandas. Sua primeira gravação foi com um grupo de doo-wop chamado The Jades. Na adolescência, os pais o submeteram a um tratamento de eletrochoques na tentativa de curar a sua bissexualidade a experiência, ele descreveria mais tarde na música "Kill Your Sons".
Em 1960, Reed começou a frequentar a Universidade de Syracuse, onde estudou Jornalismo, Cinema e Escrita Criativa. Depois de se graduar, o rapaz se mudou para Nova York e começou sua carreira musical no time de compositores da gravadora Pickwick Records, onde chegou a gravar uma música que faria sucesso, "The Ostritch".
Impressionado com as composições de Reed, o músico galês John Cale começou uma parceria com o músico. Junto com o guitarrista Sterling Morrison e a baterista Maureen Tucker, eles formaram em 1964 o grupo Velvet Underground, cujo nome foi tirado de um livrinho sobre os porões do sexo proibido em Nova York.
Com visual soturno, a banda chamaria a atenção do artista plástico e guru pop Andy Warhol, que o apadrinhou e convocou a cantora alemã Nico para participar do álbum The Velvet Underground & Nico, lançado em 1967.
Um dos primeiros grupos de rock a poder ser chamado de "cult", o Velvet Undergorund seguiria com Lou Reed até 1970, quando ele partiu em carreira solo.
Depois de um primeiro álbum gravado com integrantes do grupo de rock progressivo Yes (Lou Reed, de 1972), Reed lançou Transformer (também em 72), produzido por um dos grandes admiradores do cantor e compositor, David Bowie.
Lou Reed seguiu lançando álbuns surpreendentemente inesperados, como o poético e depressivo Berlin (1973), Sally Cant Dance (de 1974, em que apareceu com cabelos tingidos de louro e um som cheio de metais em brasa) e o impenetrável Metal Machine Music (1975).
Em 1993, para o júbilo de toda uma geração do rock alternativo, ele se reuniu aos integrantes do Velvet Underground para uma série de shows. Três anos depois, o grupo foi incluído no Rock and Roll Hall of Fame e Reed faria seus primeiros shows no Brasil. Após cancelar a vinda à Festa Literária de Paraty de 2010, ele viria ao país, mas para mostrar, em São Paulo, o show do cultuado Metal Machine Music. O último projeto de Lou Reed no rock foi o álbum Lulu de 2011, gravado com o grupo Metallica e execrado pela crítica.