Robert Wise, diretor de "A Noviça Rebelde", "O Dia em que a Terra Parou" e o "O Cahoneiro do Yang-Tsé" morreu na quarta-feira, aos 91 anos, em Los Angeles (EUA), de insuficiência cardíaca. O norte-americano recebeu duas vezes os Oscars de melhor filme e direção - em 1961, por "Amor, Sublime Amor" (co-direção de Jerome Robbins) e, quatro anos mais tarde, por "A Noviça Rebelde". Wise fez o cinema americano cantar e dançar nos anos 1960, mas ninguém é doido de compará-lo aos maiores diretores de musicais (Vincente Minnelli, Stanley Donen, George Sidney e George Cukor). Ele foi o que se define como um talento eclético. E raramente desfrutou de unanimidade.
Wise carrega a fama contraditória de ter sido o homem que montou (com Mark Robson) o clássico "Cidadão" Kane e, depois desmontou o filme seguinte de Orson Welles, "Soberba" (The Magnificent Ambersons). Aproveitando o fato de que Welles estava no Brasil filmando o inacabado "É Tudo Verdade", a empresa produtora RKO entregou o filme às tesouras de Wise e ele fez gato e sapato, deixando o cineasta, de quem era homem de confiança, traumatizado. Mas Wise sempre se defendeu. "Orson ficou amuado comigo por causa das alterações impostas pelo estúdio à versão final de Soberba, que eu tive de fazer, já que ele estava no Brasil, de onde, aliás, me mandou um telegrama de 36 páginas com instruções sobre cortes e cenas adicionais. A verdade é que a versão tal como ele queria fracassou nas primeiras sessões para o público. Estávamos no meio da guerra, época nada apropriada para uma obra de arte com duas horas e meia de duração. Orson não gostou, mas a crítica, ainda assim, classificou a versão oficial como obra-prima."
A noviça
Em meados dos anos 60, quando Wise ganhou seu segundo Oscar, o mundo estava mudando e pegava mal elogiar o filme de maior bilheteria da época, a história de uma noviça rebelde, mas não tanto, que organizava a vida de um viúvo cheio de filhos e ainda montava com a família um coral para derrotar o nazismo. "A Noviça Rebelde "recebeu vários adjetivos desabonadores pueril, lacrimogêneo, róseo e por aí afora. Com o tempo, a fama do filme cresceu e não ficou mais feio gostar de Julie Andrews cantando. Até pueril o filme deixou de ser a crítica de Wise aos austríacos que lavavam as mãos perante a anexação pela Alemanha não tinha nada de ingênua. Mesmo assim, os críticos nunca deixaram de fustigar o pobre Wise.
Wise, que detestava sangue e via na ficção científica "mais possibilidades do que em qualquer outro gênero para se refletir sobre as loucuras do mundo em que vivemos", ganhou fama com "O Dia em Que a Terra Parou", de 1951, sobre um ET do bem que desembarca em Washington para advertir sobre os perigos do holocausto atômico justamente numa época de corrida armamentista entre EUA e a antiga URSS.
Antes disso, Wise já cravara uma obra-prima na vertente do cinema contra o boxe, contando, em "Punhos de Campeão", de 1949, em tempo real, a história do pugilista que vence, mas cujas mãos são mutiladas por gângsteres para que ele não possa mais lutar. O diretor também atacou a pena de morte em "Quero Viver!", com uma interpretação genial de Susan Hayward, e investiu contra a intolerância racial, transformando a história do embate entre Harry Belafonte e Robert Ryan numa alegoria sobre a insensatez da guerra fria em "Homens em Fúria". Ambos os filmes, de 1958 e 59, são embalados no melhor jazz. E aí vieram os musicais.
Musicais
"Amor, Sublime Amor" era pura novidade no começo dos anos 60. Foi filmado nas ruas de Manhattan, como "Um Dia em Nova York", mas ao contrário do filme famoso de Stanley Donen e Gene Kelly, sua trama, adaptada de Romeu e Julieta, tratava de brigas de gangues, de sangue e morte, num vigoroso estilo de dança que nada remetia à estética de sonho dos musicais da Metro. "A Noviça Rebelde" era mais sentimental. Arrebentou nas bilheterias mas os críticos torceram o nariz.
A grande fase passou. Wise recolheu-se e só ocasionalmente vinha a público para receber homenagens. O Festival de San Sebastián, aberto ontem na Espanha, lhe consagra uma retrospectiva completa. San Sebastián cria (o que não estava no script) o réquiem para Wise.
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