Centro Médico Regional Gerald Champion, em Alamogordo, Novo México, para onde Alfândega e Proteção de Fronteira levou o menino gutemalteca de oito anos| Foto: PAUL RATJE/AFP

Um menino guatemalteco de oito anos morreu sob custódia de agentes de fronteira dos Estados Unidos, no estado de Novo México, pouco depois de meia-noite do dia de Natal. É a segunda criança imigrante a morrer em abrigos de detenção americanos em menos de um mês.

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Em um comunicado, o deputado Joaquin Castro, do Texas, identificou o menino como Felipe Alonzo-Gomez. Castro, presidente eleito da bancada hispânica do Congresso, disse que "muitas perguntas permanecem sem resposta, incluindo quantas crianças morreram sob custódia do CBP [Agência de Alfândega e Proteção da Fronteira]".

A Agência de Alfândega e Proteção da Fronteira disse que o menino "mostrava sinais de estar doente" na segunda-feira (24) e foi levado, junto com o pai, para um hospital em Alamogordo, que fica a cerca de 145 quilômetros de El Paso, ponto popular na fronteira entre México e Estados Unidos.

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Lá, recebeu diagnóstico de febre e resfriado, recebeu uma receita para o antibiótico amoxicilina e o analgésico ibuprofeno, e foi liberado após ficar 90 minutos em observação, ainda segundo a agência.

Mas o menino acabou sendo levado de volta para o hospital no mesmo dia com náuseas e vômitos e morreu algumas horas depois.

A agência afirmou que a causa da morte ainda não foi determinada e que relatou o óbito ao governo da Guatemala.

A morte de Jakelin

No dia 13 de dezembro, autoridades haviam anunciado a morte da guatemalteca Jakelin Caal, de sete anos, também quando estava sob a custódia da Patrulha da Fronteira dos EUA.

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Jakelin morreu em um hospital de El Paso, Texas, depois de ter sido detida com seu pai e outras pessoas que cruzavam a fronteira com o México, em 6 de dezembro.

Segundo as autoridades americanas, a menina sofreu desidratação e choque séptico (falência dos órgãos com origem em uma infecção) horas depois de ter sido colocada sob custódia da Patrulha de Fronteira e após ter passado vários dias sem comer ou beber nada.

A família nega que que a menina tenha passado dias sem alimentação ou água —um tipo de privação ao qual os migrantes que tentam atravessar a fronteira a pé acabam se submetendo, muitas vezes em longas caminhadas pelo deserto conduzidas por coiotes (traficantes de pessoas).

Um relator da área de direitos humanos da ONU pediu na segunda-feira aos EUA que investiguem a fundo a morte da menina.

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"As autoridades americanas devem assegurar uma investigação exaustiva e independente da morte de Jakelin Amei Caal", disse o relator especial da ONU sobre os direitos humanos dos migrantes, Felipe González Morales.

O corpo de menina foi mandado para seu vilarejo na Guatemala, San Antonio Secortez, e enterrado sob forte comoção popular no mesmo dia em que seu pequeno compatriota morreu.

A Agência de Controle da Fronteira afirmou que fará "uma investigação independente e abrangente das circunstâncias" da morte do menino guatemalteco.

Política de imigração

Depois que o presidente Donald Trump enrijeceu a política de policiamento das fronteiras, no início deste ano, os centros de detenção americanos passaram a abrigar milhares de crianças migrantes separadas dos pais, provocando uma reação mundial.

Desde que Trump assumiu, em janeiro de 2017, o número saltou da casa dos 2.700 para mais de 14 mil, segundo apuração da agência de notícias Associated Press. No auge da crise, funcionários de abrigos para crianças e adolescentes foram denunciados por abusos físicos e sexuais.

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Em meados deste ano, 51 crianças brasileiras migrantes chegaram a estar detidas sem seus pais, mas depois de pressão do governo brasileiro, todas foram soltas.

As medidas de Trump, porém, não inibiram significativamente a vinda de imigrantes sem autorização para o país, mostram os números.

Em novembro, uma caravana com mais de 10 mil migrantes que atravessou a América Central e o México chegou à fronteira para pressionar a entrada no país.

Trump, em represália, dificultou os trâmites para a solicitação de asilo e ampliou o efetivo militar na divisa com o México, onde a maior parte da multidão permanece.

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A oposição e o Judiciário americano têm tentado frear a política de “tolerância zero” de Trump.

Congressistas democratas e ativistas criticaram a atuação da agência no caso de Jakelin, afirmando que a morte poderia ter sido evitada se a menina tivesse sido transportada de helicóptero mais cedo.

Shutdown

A morte do garoto salientou o impasse sobre a exigência do presidente Donald Trump de que o Congresso aprove mais dinheiro para um muro ao longo da fronteira dos EUA com o México, o que causou o fechamento parcial do governo federal – até agora por quatro dias. Trump disse novamente na terça-feira que não haverá mudanças até que suas exigências sejam atendidas. 

"Eu não posso dizer quando o governo vai reabrir", disse ele a repórteres em uma aparição no Salão Oval na manhã de Natal. "Eu posso te dizer que não vai ser aberto até que tenhamos um muro, uma cerca, seja lá como eles gostariam de chamá-la. Eu chamarei o que quiserem. Mas é tudo a mesma coisa. É uma barreira para as pessoas que inundam nosso país". 

Cerca de 25% do governo está fechado desde a meia-noite de sábado. O presidente defende seu pedido de US$ 5 bilhões para construir um muro ao longo da fronteira com o México, dizendo que apenas um atleta olímpico seria capaz de escalar essa estrutura. No total, estima-se que cerca de 800.000 dos 2,1 milhões de trabalhadores federais em todo o país – ou mais de um terço – sejam afetados de alguma forma pela paralisação. Trump afirmou que muitos funcionários do governo apoiam a paralisação. 

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"Muitos desses trabalhadores disseram para mim, comunicados - fique de fora até conseguir o financiamento para o muro", disse Trump. "Esses trabalhadores federais querem o muro". 

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Mas sua reivindicação conflitava com os relatos dos líderes sindicais dos trabalhadores. 

"Funcionários federais não deveriam ter que pagar o preço pessoal por toda essa disfunção", disse Tony Reardon, presidente do Sindicato Nacional dos Funcionários do Tesouro, que representa 150 mil membros em 33 agências e departamentos federais. "Esse fechamento é uma farsa. O Congresso e a Casa Branca não fizeram seus trabalhos fundamentais para manter o governo aberto".