Morte agrava crise na França e deixa a Europa em alerta

Paris (Das agências internacionais) – A violência urbana chegou ontem a um ponto crítico na França, com a primeira morte desde o início da crise, há 12 dias, além da imposição de um "toque de recolher" em Le Raincy, cidade ao norte de Paris. A vítima foi Jean-Jacques Le Chenadec, um homem de 61 anos, agredido na sexta-feira por um adolescente em Stains, logo após um confronto entre jovens e policiais no bairro (norte de Paris). O medo de que a onda de violência se alastre parece estar se espalhando pela Europa. Alemanha e Bélgica prevêem confrontos, mas em proporções menores.

Na França, durante a madrugada de ontem, atos de violência foram registrados em 300 localidades. Pelo menos 36 policiais foram feridos, mais de 1,4 mil veículos incendiados, e dezenas de empresas e de edifícios públicos (entre eles escolas e delegacias), depredados ou incendiados. O balanço é o mais grave registrado desde o início da crise, dia 27. A polícia já prendeu cerca de 400 pessoas.

Depois de o presidente, Jacques Chirac, determinar o restabelecimento da ordem mesmo que à força, a União por um Movimento Popular (UMP, no poder) lançou um apelo à "coesão nacional" frente ao risco de "caos". O primeiro-ministro, Dominique de Villepin, prometeu "reforçar as forças de segurança".

A violência vem aumentando diariamente desde que dois adolescentes morreram eletrocutados dia 27, quando tentavam se esconder da polícia durante uma blitz. Jovens de diversos bairros passaram a realizar ações coordenadas cada vez mais eficientes, graças principalmente aos telefones celulares e à internet. Xavier Cabrera, professor de um dos adolescentes mortos, disse estar diante de um "suicídio social". Ele alega que a polícia trata pobres como delinqüentes e que os jovens tentam vencer a pobreza de forma equivocada.

A preocupação se alastra. Grã-Bretanha, Japão e Austrália alertaram seus cidadãos e turistas sobre a situação na França. Na Itália, o líder da oposição de centro-esquerda e ex-presidente da Comissão Européia, Romano Prodi, considerou que uma explosão de violência urbana em seu país "é só uma questão de tempo", já que os subúrbios da península "estão entre os piores da Europa".

Na Alemanha, onde alguns carros foram incendiados no sábado à noite, o risco das revoltas atingirem as proporções registradas na França vem sendo descartado porque, de acordo com o ministro do Interior, Wolfgang Schäuble, não há no país "grandes conjuntos habitacionais". Na Bélgica, onde cinco veículos foram incendiados na noite de domingo para segunda-feira, o dispositivo de integração de imigrantes seria mais eficiente que na França, além dos redutos pobres serem menores. Por outro lado, o jornal La Libre Belgique alertou que "as frustrações, o desespero, o ódio não se desenvolvem apenas à sombra de conjuntos habitacionais".