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Morte de Contreras mostra impunidade no Chile

A morte de Manuel Contreras, que comandou a repressão na ditadura chilena do general Augusto Pinochet, na noite de sexta-feira, pressionou o governo a tomar medidas mais drásticas em relação aos condenados por crimes cometidos nos anos de chumbo. Após celebrações nas ruas na madrugada de ontem, um grupo de defensores dos direitos humanos e de parentes de desaparecidos pediu em carta ao comandante do Exército, Humberto Oviedo, que Contreras seja rebaixado do posto de general — o que nunca aconteceu. O documento também exige o fechamento da prisão Punta Peuco, em Santiago, onde Contreras cumpria pena com outros 50 militares reformados e agentes de Inteligência da ditadura e contava com regalias como calefação, acesso à internet e telefone, condições diferentes das dos demais centros penitenciários.

Grupos pró-direitos humanos também criticaram as instituições pela impunidade de outros militares. Contreras dirigiu a temida Direção Nacional de Inteligência (Dina) — a polícia política responsável pelo assassinato ou desaparecimento de mais de 3.200 opositores. Também esteve à frente da Operação Condor, que ligou as ditaduras do Cone Sul na caçada a opositores.

Ele nunca admitiu os crimes, e chegou a culpar o próprio Pinochet, a quem acusou de enriquecer com o narcotráfico.

— O que fica em evidência é a impunidade com que um sujeito como Manuel Contreras morre com a verdade, sem ter colaborado para que ela fosse revelada. Ele levou informações de grande importância — denunciou Lorena Pizarro, presidente do Grupo de Familiares de Presos Desaparecidos.

Considerado o nome mais impiedoso dos serviços de segurança, o militar e ex-chefe da Inteligência de 86 anos foi condenado a mais de 500 anos de prisão, e nos últimos dias estava internado com hipertensão, trombose, diabetes e câncer.

Após 25 anos do fim da ditadura, muitos crimes ainda não foram solucionados e tampouco o paradeiro de desaparecidos, graças ao sigilo mantido entre os militares. Em nota, o governo lamentou que Contreras tenha morrido “levando informações valiosas para descobrir-se a verdade e fazer justiça sobre os horrores cometidos na ditadura”.

Os restos do militar foram trasladados ao Cemitério Católico de Santiago, onde foram cremados numa cerimônia privada.

— É paradoxal que a família de Contreras conheça o paradeiro de seus restos e que o ex-chefe da Dina tenha recusado que outras famílias conhecessem o paradeiro dos seus — criticou o subsecretário do Interior, Mahmud Aleuy.

A morte foi comemorada por centenas de manifestantes que se reuniram no centro de Santiago e no entorno do hospital.

— Morreu a pessoa que, junto com Augusto Pinochet, mais causou danos à alma do Chile. O que ele fez com este país foi muito profundo — declarou Angelica Prats, filha do general Carlos Prats, ex-comandante do Exército morto com a mulher em 1974 num atentado pelo qual Contreras também foi condenado.

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