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Ditador Kim Jong-il levou a Coreia do Norte ao domínio da tecnologia nuclear |
Ditador Kim Jong-il levou a Coreia do Norte ao domínio da tecnologia nuclear| Foto:

Entrevista

"Pressão familiar impedirá mudanças"

Hanns Maull, cientista político, professor da Universidade de Trier (Alemanha).

O cientista político Hanns Maull, da Universidade de Trier, diz, em entrevista à Agência O Globo, que Kim Jong-un será impedido de introduzir reformas por membros da família, interessados em manter o status quo.

A experiência de Kim Jong-un na Europa vai influenciar para que introduza reformas democráticas?

Se ele pudesse decidir sozinho, talvez sim. Mas a realidade é que Kim Jong-un vai ter junto de si uma estrutura familiar interessada na manutenção do status quo. Não haverá mudança de sistema.

A oposição poderá ganhar mais espaço?

Não há oposição. Um movimento semelhante à Primavera Árabe não seria possível na Coreia do Norte. Se houver mudança, ela poderia acontecer por meio de golpe militar.

A ameaça atômica poderá aumentar com um político inexperiente no poder?

A Coreia do Norte continuará sendo uma fonte de perigo para o mundo. Trata-se de um "país-zumbi", que tem a bomba atômica e, por outro lado, uma situação econômica catastrófica.

Até que ponto o Ocidente pode intervir para diminuir o perigo atômico?

O Ocidente não pode fazer nada. O único país que pode exercer uma certa influência é a China, que tem medo do problema dos refugiados e da perda de controle sobre as armas atômicas.

Cenários

A morte do líder norte-coreano Kim Jong-Il trouxe à tona uma série de questões sobre o futuro do país.

Em que ritmo se fará a transição?

Após o funeral de Kim Jong-Il, no dia 28 de dezembro, as atenções se voltarão para o processo de sucessão. Kim Jong-Il, designado sucessor 14 anos antes da morte de seu pai, tornou-se oficialmente o líder do partido comunista no poder apenas três anos depois do falecimento paterno. O status de herdeiro de Kim Jong-Un foi oficializado apenas em setembro de 2010.

Quais são os riscos?

Alguns observadores temem que o jovem líder fique tentando firmar sua autoridade conduzindo testes nucleares ou se envolvendo em provocações militares. As relações com a Coreia do Sul estão congeladas desde os dois incidentes mortais no ano passado.

O regime pode explodir?

Segundo especialistas, turbulências parecem improváveis em curto prazo. Diante de problemas fundamentais, como a crise alimentar, Kim Jong-Un não deve conduzir uma política aventureira no mercado interno. Mas, se falhar e uma luta pelo poder acontecer, as consequências para o regime e o país serão imprevisíveis.

Como se posicionam os países vizinhos?

O principal aliado da Coreia do Norte, a China, deve apoiar o regime, ainda mais porque sua queda pode provocar uma fuga em massa de milhões de refugiados no território chinês. A Coreia do Sul e o Japão, claramente anticomunistas, já estão se preparando para qualquer eventualidade. Seul já colocou seu exército em alerta e Tóquio convocou uma reunião de segurança emergencial.

  • Norte-coreanos choram a morte do ditador Kim Jong-il, em Pyongyang, capital do país comunista
  • Jong-un, filho do ditador, é o sucessor

A morte de Kim Jong-il – "Querido Líder", "Estrela Guia do Século 21" e "Glorioso General que Desceu do Céu", entre 200 títulos oficiais – lançou a Coreia do Norte, país comunista e uma das ditaduras mais fechadas do mundo, em um cenário de dúvidas após os seus 17 anos no poder.

A morte e a incerteza sobre o quadro sucessório fizeram a vizinha Coreia do Sul – cuja guerra com a do Norte, em cessar-fogo desde 1953, nunca se encerrou oficialmente – entrar em alerta e causou apreensão nos EUA, inimigos do regime, em razão do arsenal nuclear norte-coreano.

O ditador, cujo nome se pronuncia "kim djón il" (Kim é o sobrenome), morreu de infarto no sábado, aos supostos 69 anos (não há certeza sobre sua data de nascimento), durante "viagem de inspeção" em seu trem, disse a mídia estatal. Ele já sofrera um aparente AVC em 2008.

A notícia só foi divulgada na madrugada de ontem (horário de Brasília). Horas depois, o partido governista norte-coreano, dos Trabalhadores, e outros órgãos estatais divulgaram nota sugerindo que o sucessor escolhido por Jong-il, seu filho Kim Jong-un, está no comando.

O comunicado chama Jong-un (pronuncia-se "djón un"), terceiro filho de Jong-il – os mais velhos se desentenderam com o pai –, de "grande sucessor" e "eminente líder do Exército e do povo".

De idade estimada entre 28 e 30 anos, Jong-un também foi designado chefe do comitê que organizará os funerais do pai, marcados para 28 de dezembro. Prevê-se que a cerimônia sirva de demonstração de apoio ao novo líder.

A dúvida de analistas é em que medida Jong-un, preparado para a sucessão desde a época do AVC do pai, mas sem experiência prévia, governará de fato – especula-se que seu tio, Jang Song-taek, atual número dois do regime, possa atuar como regente.

Outros especialistas questionam em que medida o poderoso Exército do país e sua elite estão dispostos a aceitar a terceira geração da família Kim no comando – o avô de Jong-un, Kim Il-sung, ocupou o poder de 1948 até sua morte, em 1994. Ao todo, a "dinastia" governa há 63 anos.

Logo depois do anúncio da morte do ditador, a agência sul-coreana Yonhap registrou testes de mísseis de curto alcance do lado norte da fronteira. Rotineiros, eles foram vistos hoje como tentativa de sinalizar a estabilidade do governo norte-coreano.

Em visita ao Japão, a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, defendeu uma transição "estável e pacífica" na Coreia do Norte. Estima-se que o país tenha matéria-prima suficiente para fabricar oito bombas atômicas.

Mais cedo, a Assembleia Ge­­ral da Organização das Nações Unidas (ONU) aprovou um voto condenando as violações de direitos humanos na Coreia do Norte.

Para europeus, país tem chance de mudança

Com o anúncio da morte de Kim Jong-il, os líderes europeus pediram que os norte-coreanos retomem as negociações para parar com seu programa de desenvolvimento de tecnologia nuclear e disseram estar acompanhando a situação do país.

As autoridades alemãs pediram aos sucessores de Kim Jong-il no comando da Coreia do Norte que iniciem um processo de democracia e melhorem as condições de vida da população.

Na França, o ministro das Relações Exteriores, Alain Jup­­pé, manifestou seu desejo de que a Coreia do Norte recupere a liberdade.

"A morte de um homem nunca é motivo de alegria, mas o sofrimento de um povo me entristece", disse Juppé.

O ministro britânico de Rela­­ções Exteriores, William Hague, pediu à nova liderança da Coreia do Norte que trabalhe "pela paz e pela segurança na região" e que participe de negociações para o fim das atividades nucleares do país.

Na América do Sul, o presidente venezuelano, Hugo Chávez, destacou sua "plena confiança na capacidade dos coreanos de conduzir seu próprio futuro para a prosperidade e a paz".

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