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A mais nova escalada de tensão entre Irã e Israel, que culminou em um novo ataque com cerca de 200 mísseis do regime islâmico contra o território israelense nesta terça-feira (1º), pode ser compreendida a partir de uma sequência de eventos relevantes que ocorreram nas últimas semanas e meses no Oriente Médio.
A primeiro ataque do Irã contra Israel ocorreu em abril deste ano, quando o regime islâmico lançou cerca de 300 mísseis e drones contra o território israelense em resposta a um bombardeio atribuído ao país liderado pelo premiê Benjamin Netanyahu contra a embaixada iraniana em Damasco, na Síria. O ataque em Damasco resultou na morte de um membro importante da Guarda Revolucionária do Irã, juntamente com outras seis pessoas. O regime iraniano, nesta ocasião, declarou que havia atacado Israel pelo que considerou uma “agressão” – mesmo com Israel não assumindo autoria pelo ataque na Síria. Embora 99% do ataque tenha sido interceptado, alguns mísseis conseguiram ultrapassar a defesa israelense naquele mês. Este primeiro ataque foi um sinal claro de que a tensão entre as duas nações estava longe de ser resolvida.
Após os mísseis e drones de abril, o Irã, por meio de suas lideranças, havia afirmado que não pretendia escalar o confronto com Israel, mas essa promessa foi rapidamente colocada à prova com a morte de Ismail Haniyeh, o líder terrorista Hamas, no final de julho. O Hamas, apoiado pelo Irã, atribuiu a morte de Haniyeh a um ataque israelense em Teerã, onde ele estava em visita oficial para a posse do novo presidente do Irã, Masoud Pezeshkian. Israel não assumiu autoria do ataque, nem comentou.
O líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, prometeu naquele momento vingança pela morte do chefe terrorista palestino. A Guarda Revolucionária do Irã, braço armado do país que presta assistência para grupos terroristas, também declarou que o "regime sionista" enfrentaria “uma resposta dura e dolorosa no momento, lugar e forma apropriados”, evidenciando a já crescente “indignação” do regime islâmico diante das supostas ações de Israel.
Apesar das ameaças abertas e de ver o Hamas, um dos membros de seu “Eixo de Resistência” ser fortemente atingindo com a morte de Haniyeh, o Irã não chegou de fato a lançar qualquer ataque direto contra Israel. No entanto, após um mês da morte de Haniyeh, a situação entre os dois países voltou a se agravar e ficar em evidência quando, no dia 17 de setembro, explosões atingiram dispositivos de mensagens do tipo pager e walkie-talkies de membros do Hezbollah, o principal grupo terrorista apoiado pelo Irã, em várias localidades do sul do Líbano. Explosões semelhantes também foram registradas na Síria, e tanto o Hezbollah quanto o Irã atribuíram a responsabilidade a Israel, que não confirmou sua participação no incidente.
As explosões dos dispositivos de mensagens resultaram na morte de mais de 30 pessoas e feriram cerca de 3,5 mil. A jornalista libanesa Kim Ghattas, da revista americana The Atlantic, interpretou os ataques como uma mensagem clara de Israel ao Hezbollah, sinalizando que o país possuía amplo conhecimento sobre as operações do grupo e que qualquer aumento de hostilidade seria respondido com violência ainda maior.
O Hezbollah vem atacando o norte de Israel desde o início da operação israelense em Gaza, onde militares estão combatendo o grupo terrorista Hamas, que realizou um ataque contra Israel no dia 7 de outubro de 2023. Os terroristas do Hezbollah, grupo que atua e controla partes do sul do Líbano, afirmam que os ataques contra o norte de Israel são realizados em “solidariedade” ao povo palestino, que, segundo Israel, está sendo utilizado como escudo humano pelos terroristas do Hamas.
Israel tem denunciado há semanas os ataques do Hezbollah contra o norte de seu território, o que têm impedido os moradores das comunidades locais de retornar às suas casas em segurança. Para combater os terroristas libaneses e cessar seus ataques, Israel decidiu então intensificar seus bombardeios contra o sul do Líbano, passando a atingir de forma direta alvos do grupo terrorista.
No último dia 27 de setembro, o país liderado por Netanyahu deu um golpe fatal no Hezbollah, ao bombardear o quartel-general do grupo terrorista localizado no sul de Beirute e matar seu líder, Hassan Nasrallah. A morte de Nasrallah intensificou a ira do Irã, que voltou a emitir ameaças de retaliação contra Israel. O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do regime iraniano, Nasser Kanani, declarou naquele momento que o Irã estava pronto para dar “uma resposta” que seria “lamentável para aqueles que violam os nossos interesses nacionais”. A retórica bélica por parte de Teerã era clara: “o regime sionista não ficará impune pelos crimes que cometeu contra o Irã”, afirmou.
Nesta segunda-feira (30), antes do novo ataque de mísseis do Irã, Israel avançou sobre o Hezbollah ao entrar pela primeira vez desde 2006 no Líbano, mais precisamente no sul do país, para destruir a infraestrutura utilizada pelo grupo terrorista. A ação ocorreu dias após a morte de Nasrallah e de um general da Guarda Revolucionária iraniana que estava no Líbano.
Israel descreveu a nova operação no sul do Líbano como "limitada e localizada", que visa neutralizar as ameaças diretas ao norte de Israel.
Nesta terça-feira, após o novo ataque de mísseis do Irã, Netanyahu se manifestou dizendo que o ato do regime islâmico foi um grande erro” e que Teerã “pagará por isso”.
Tanto a morte de Nasrallah quanto a invasão do sul do Líbano pelas forças israelenses serviram para expor a fragilidade da estratégia do Irã de tentar isolar Israel para destruí-lo.
O assessor de Segurança Nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, disse que este novo ataque iraniano foi "ineficaz", no entanto, alertou que o ato se trata de uma "escalada significativa" das tensões no Oriente Médio e que haverá consequências.
"Esta é uma escalada significativa por parte do Irã, um evento significativo", pontuou Sullivan durante coletiva na Casa Branca. "Deixamos claro que haverá consequências, consequências severas, por este ataque, e trabalharemos com Israel para garantir isso”, disse ele.