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Violência

Mortes de policiais escancaram crise de segurança pública no Chile

Protesto na semana passada em Santiago contra o presidente Gabriel Boric, após a terceira morte de um carabineiro em menos de um mês no Chile (Foto: EFE/Elvis González)

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Além da alta inflação e da desaceleração econômica, o presidente chileno, Gabriel Boric, que em março completou um ano de mandato, tem sua imagem desgastada por outra crise: a de segurança pública.

O Chile vive uma comoção nacional devido à morte do carabineiro (como é chamada a polícia ostensiva chilena) Daniel Palma, de 33 anos, assassinado em Santiago na última quarta-feira (5).

Foi o terceiro assassinato de um policial no país em 23 dias. Dois suspeitos de participação no crime, ambos venezuelanos, foram presos. Segundo a imprensa chilena, um deles tinha ordem de expulsão do país desde 2020.

Embora os assassinatos de policiais no Chile sejam bem menos comuns do que no Brasil, o alerta foi aceso porque o país já igualou este ano o número de homicídios de carabineiros registrado em 2022 inteiro (três) e o de 2021 e 2020 somados. Em 2019, não foram registrados assassinatos de trabalhadores dessa categoria no Chile.

A violência contra os carabineiros escancara a crise de segurança pública que o país enfrenta. Segundo dados da Subsecretaria de Prevenção ao Crime do Ministério do Interior e Segurança Pública, a criminalidade disparou no Chile em 2022, com destaques para as altas nas ocorrências de roubos com violência ou intimidação (64%), furtos (46%), estupros (12%) e homicídios (o número de assassinatos saltou de 695 em 2021 para 934 no ano passado, um aumento de 34%).

“Estamos enfrentando uma criminalidade terrível. Nunca tínhamos visto isso antes. A violência com que estas pessoas estão agindo obviamente vai nos obrigar a procurar outras estratégias para podermos enfrentá-la”, disse na semana passada o diretor geral dos Carabineiros, Ricardo Yáñez, ao jornal El País.

Diante dessa crise, o Ministério do Interior e Segurança Pública anunciou intervenção na área de segurança nos 30 municípios chilenos que ostentam os índices de criminalidade mais altos do país, e Boric promulgou uma lei que dá maiores poderes às forças de segurança, como maior liberdade para utilização de armas para repelir ataques nas ruas, e que aumenta as penas para quem atacar policiais.

Em entrevista ao site Ex-Ante, o ex-ministro Jorge Burgos argumentou que uma das principais explicações para o aumento da criminalidade no Chile é o aumento da imigração (a partir da fronteira com a Bolívia), mas considerou também que houve influência da onda de protestos de 2019-2020.

“Acredito que nós, como sociedade, estamos pagando as consequências de três anos em que a ordem pública e a autoridade dos carabineiros foram permanentemente questionadas. Havia um discurso de que era necessário começar tudo do zero”, criticou Burgos, que foi ministro do Interior e Segurança Pública e da Defesa Nacional do Chile durante o segundo governo de Michelle Bachelet (2014-2018).

“O atual governo começou muito mal, muito mal, com um discurso desastroso sobre esse assunto [segurança pública]. Os fatos o levaram a mudar esse discurso. É uma mudança bem-vinda. Mas é necessário manter isso, sem voltar atrás”, alertou.

Na entrevista, Burgos pediu a criação de um ministério exclusivamente de Segurança Pública – tema que deve começar a ser discutido no Legislativo chileno nos próximos dias, assim como alterações administrativas para notificar a expulsão de migrantes ilegais, normas sobre usurpação e libertação provisória, reiteração de crimes, entre outros. (Com Agência EFE)

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