Polícia de choque dispara gás lacrimogêneo para dispersar partidários do ex-presidente boliviano Evo Morales| Foto: RONALDO SCHEMIDT/AFP

Durante meses, sites de notícias têm noticiado as ondas de protestos que abalam o mundo. Da Argélia ao Equador, do Chile a Hong Kong, muitos desses movimentos compartilham algumas características - principalmente a indignação contra as elites políticas e econômicas.

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Ao levar suas queixas para as ruas, alguns manifestantes também colocam suas vidas em risco. Centenas pagaram o preço máximo, muitos nas mãos das forças de segurança ou policiais de seu país. A seguir, uma lista do número de mortos, de acordo com a agência de notícias Associated Press e outras fontes, em alguns dos protestos de maior destaque.

Iraque: pelo menos 320 mortos

Os protestos no Iraque foram os mais sangrentos, de longe. Isso ocorre porque as forças de segurança iraquianas responderam às manifestações com munição real, gás lacrimogêneo e prisões. No entanto, é difícil fazer uma contagem precisa das vítimas, pois as autoridades iraquianas estão se recusando a liberar o número oficial de mortos. Segundo a Associated Press, mais de 320 manifestantes foram mortos nesses protestos, embora o número possa ser muito maior.

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Nas últimas semanas, a Human Rights Watch e a Anistia Internacional documentaram casos de forças iraquianas disparando cartuchos de gás lacrimogêneo diretamente contra manifestantes, matando pelo menos seis pessoas.

Os protestos explodiram no Iraque no mês passado, em grande parte pela indignação dos iraquianos com a corrupção endêmica em todo o governo e pela economia enfraquecida. Os manifestantes dizem que querem um novo sistema político para substituir o criado após a invasão do Iraque liderada pelos EUA.

Líbano: um morto

Os protestos começaram por todo o país em 17 de outubro, depois que o governo do Líbano propôs aumentar um imposto sobre o WhatsApp, o aplicativo de comunicação amplamente usado no país. Mas eles continuaram por causa de um descontentamento mais profundo: alto desemprego, corrupção generalizada e um governo liderado principalmente pelos mesmos homens polarizadores desde o final da guerra civil do Líbano em 1990.

Alaa Abou Fakhr, 39 anos, pai de três filhos, foi morto em 12 de novembro quando um oficial do exército libanês atirou contra manifestantes que bloqueavam estradas em uma cidade costeira ao sul da capital, Beirute. O exército disse que deteve o soldado e abriu uma investigação. Enquanto os protestos continuam em grande parte pacíficos, os manifestantes entraram em choque com as forças de segurança e com apoiadores do poderoso grupo militante Hezbollah, cujo líder apoiado pelo Irã se opõe aos protestos, e com outra milícia xiita, a Amal.

Irã: mais de 100 mortos

Em uma severa crise econômica, o Irã anunciou na semana passada que estava aumentando o preço do combustível para os consumidores, gerando uma onda de protestos. O país, que possui a quarta maior reserva de petróleo do mundo, também mantém um dos maiores subsídios ao preço da gasolina no mundo.

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Segundo relatório da Anistia Internacional, as forças de segurança do Irã podem ter matado mais de 100 manifestantes em 21 cidades desde sexta-feira (15). A ONG disse que as informações foram verificadas com vídeos e testemunhas confiáveis. O governo, porém, reconheceu apenas cinco mortes, incluindo quatro membros das forças de segurança, e atribuiu os protestos a inimigos e sabotadores estrangeiros.

As forças de segurança usaram armas de fogo, canhões de água e gás lacrimogêneo para dispersar os protestos, de acordo com o relatório, que também citou o uso de munição real.

Se confirmado, o maior número de mortos sinalizaria uma escala muito maior de tumultos. A crise ocorre sob um blecaute quase total das informações, já que o governo desligou a internet em praticamente todo o país.

Hong Kong: dois mortos

Seis meses atrás, as ruas de Hong Kong explodiram em manifestações devido a um projeto de lei que permitiria a extradição de pessoas para a China continental. Desde então, o governo de Hong Kong retirou a legislação, mas agora as pessoas querem mais: reformas políticas, incluindo um novo sistema de eleições que diminui o controle político da China sobre a península.

Dois manifestantes morreram em incidentes relacionados a manifestações. Em 8 de novembro, Chow Tsz-Lok, 22 anos, manifestante e estudante de ciência da computação, morreu depois de cair de uma garagem no início da semana. Na sexta-feira, o número de mortos aumentou depois que um homem de 70 anos foi atingido na cabeça por um tijolo durante os confrontos. Ele seria um faxineiro que estava em seu horário de almoço: ele optou por recolher tijolos de uma rua e foi atingido no fogo cruzado entre forças pró e anti-governo, segundo a CNN.

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Chile: pelo menos 20 pessoas mortas

Em outubro, o governo do Chile aumentou o preço das tarifas de metrô e ônibus, iniciando uma onda de protestos liderados por jovens contra o governo e provocados pela indignação com a desigualdade de renda, a falta de serviços públicos e as políticas do governo de direita. O Chile era considerado um farol de estabilidade e progresso econômico na América Latina, mas as políticas promulgadas pelo governo, incluindo a privatização de bens públicos, tiveram um preço que as pessoas dizem que não podem mais suportar.

As circunstâncias por trás de muitas das mortes no Chile continuam sob investigação. O Ministério Público do Chile disse que algumas pessoas morreram em confrontos com forças de segurança, enquanto outras teriam morrido em atos de violência como incêndios e vandalismo. Os promotores acreditam que cinco das pelo menos 20 mortes foram causadas pelas mãos das forças de segurança, segundo a Al Jazeera. Juntamente com as mortes, existem muitas outras alegações de abuso a serem abordadas: "Os promotores estão investigando mais de 800 alegações de abuso, incluindo tortura, estupro e espancamentos por forças de segurança durante manifestações", informou a Reuters no início de novembro. Grupos de defesa dos direitos humanos também acusaram a polícia de disparar balas de borracha diretamente nos olhos das pessoas.

O governo de Sebastián Piñera está respondendo às críticas de uso excessivo da força policial para conter as manifestações. Nesta terça-feira (19), as autoridades policiais ordenaram a suspensão temporária do uso de balas de borracha durante manifestações, exceto quando há um perigo iminente de morte.

Bolívia: 30 mortos

Em 10 de novembro o presidente da Bolívia, Evo Morales, renunciou após uma forte e rápida insurgência contra ele que deixou o país sul-americano apreensivo. Tudo começou três semanas antes, quando Morales, o líder esquerdista de longa data da Bolívia, declarou a vitória em uma eleição, apesar das evidências de "manipulação clara", segundo a Organização dos Estados Americanos (OEA). Os bolivianos de direita foram às ruas em protestos que desde então se transformaram em maiores confrontos entre os lados políticos polarizados do país. Morales está agora no México e denunciou sua saída como um "golpe" depois que os militares retiraram seu apoio.

Até agora 30 pessoas morreram. Os confrontos entre manifestantes e forças de segurança continuaram, apesar da renúncia e fuga de Morales para o México, enquanto forças a favor e contra o presidente deposto lutam entre si e com as forças de segurança.

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Nesta terça-feira (19), segundo o jornal La Razón, quatro pessoas morreram e cerca de 30 ficaram feridas em confrontos entre manifestantes e a polícia em El Alto, Bolívia, segundo a defensoria do país. Os choques ocorreram na planta de combustíveis Kentaka, em uma operação organizada pela polícia e forças armadas para transportar combustíveis à capital La Paz, que sofre desabastecimento. O ministro da Defesa da Bolívia, Fernando López, afirmou que não foram as forças armadas que dispararam e que é preciso esperar as autópsias para estabelecer as causas das mortes.