O avô de Aleksei Orlov foi enterrado no Cemitério Danilovskoe de Moscou em 1946. Sua avó descansou lá quatro décadas depois. Cerca de 11 anos atrás, Orlov enterrou o seu pai lá. Todavia, quando a sua mãe morreu inesperadamente, em agosto do ano passado, ele descobriu que não havia lugar para ela no jazigo da família. Nem em nenhum outro lugar.
Parece que a cidade de Moscou está fechada para os mortos. Dos 71 cemitérios da capital russa, apenas um está aberto para enterros. A falta de espaço faz com que parentes dos mortos escolham entre enterrá-los longe da cidade ou cremá-los, uma prática criticada pela Igreja Ortodoxa Russa.
Um moscovita gasta boa parte de sua vida na busca por espaço. Oficialmente, cerca de 10,5 milhões de pessoas vivem na capital. Contudo, estimativas não oficiais, que incluem imigrantes ilegais da cidade, aumentam em milhões esse número.
Nas ruas, motoristas ficam presos em engarrafamentos gigantes, enquanto multidões se esquivam e se esbarram pelo metrô no horário de pico. A moradia é tão escassa que brigas para conseguir uma propriedade são comuns e às vezes terminam em sangue.
Entretanto, para as famílias das 120 mil pessoas que morrem anualmente em Moscou, a busca por uma moradia pós-vida é um desafio singular.
O Cemitério Danilovskoe, do século 18, ao sul de Moscou, onde está o jazigo da família de Orlov, é um emaranhado de lápides e monumentos. Retratos dos ocupantes dos túmulos são gravados nas lápides, um costume russo. Pequenos jazigos podem ser ocupados por parentes mãe, pai, filhos, seus cônjuges. Em um pedaço de terra superlotado, há sete membros da família.
Até mesmo no prestigioso Cemitério Novodevichy, pessoas como Khrushchev, Chekhov e Shostakovich parecem disputar com generais, atores e parentes de czares por uma fatia de terra eterna para descansarem.
As autoridades da cidade dizem que não há mais espaço para cemitérios em Moscou, e muitos cidadãos acreditam que eles estejam recusando liberar as terras valiosas, que poderiam ser usadas para outros fins.
A posição dos russos em relação a enterros também dificulta a busca por espaço no cemitério. Ao contrário de muitos americanos, que tentam considerar o cemitério como uma "nova propriedade", muitos russos ainda acreditam que a organização de um funeral é de responsabilidade do governo, como costumava ser na era soviética, e frequentemente falham em planejar o futuro, disse Anton Avdeyev, diretor da União dos Trabalhadores da Agência Funeral. "Nosso povo não está pronto para uma indústria funerária baseada no comércio" disse ele.
Com a queda da União Soviética, o governo desregulamentou e privatizou grande parte dos negócios funerários na Rússia. Isso causou uma explosão das agências funerárias privadas. Agentes funerários operam sem supervisão e podem facilmente levar vantagem de famílias em luto, desesperadas em busca de um jazigo.
"O número de agentes, licenciados ou não, excede o número de pessoas que morrem diariamente em Moscou" disse Aleksandr V. Yegorov, diretor geral do Ritual, uma agência quase governamental que administra os cemitérios de Moscou e compete com agências funerárias privadas. "Isso leva à corrupção e venda de informações, contra as quais estamos lutando."
Os agentes estão frequentemente em conspiração com a polícia e membros da equipe do hospital, que informam quando alguém morre em troca de uma comissão, disse Yegorov.
Eles aparecem na residência do falecido antes da ambulância, afirma Avdeyev, pressionando e bajulando os parentes em luto. "Isso ultrapassa todos os limites éticos", disse.
Histórias de coveiros roubando economias dos aposentados também são abundantes nos no ticiários e na Internet. Além disso, há relatos de pessoas subornando funcionários de cemitérios para lhes garantir espaço no jazigo de outra família.
Em resposta, a Ritual criou sua própria força de segurança, que tem tido algum sucesso em controlar essa ilegalidade. Nos últimos dois anos, 350 pessoas foram presas por violação das leis funerárias de Moscou, disse a agência. Mais de 30 funcionários da Ritual foram demitidos por corrupção.
Todavia, ainda não há uma solução para o problema de espaço no cemitério.
O governo de Moscou iniciou um programa para devolver os direitos dos jazigos malcuidados ou abandonados aos moscovitas que concordam em cuidar deles, e, dessa forma, podem se mudar para lá quando a hora chegar.
O jornal diário Komsomolskaya Pravda recentemente comparou a iniciativa a uma versão pós-vida de apartamentos públicos, solução para a crise de moradia de Moscou na era Soviética, que foi repudiada. O governo também vem adquirindo terra em regiões periféricas, mas isso tem causado transtorno, pois muitos moscovitas precisam dirigir duas a três horas para visitar um ente querido.
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