![Por que a população paraguaia foi às ruas pedir a saída do presidente protesto paraguai](https://media.gazetadopovo.com.br/2021/03/08121243/000_94H8XH-960x540.jpg)
Milhares de pessoas protestaram no Paraguai neste domingo (7), pelo terceiro dia consecutivo, pedindo a saída do presidente Mario Abdo Benítez, conhecido como Marito, a quem acusam de ser responsável pelo colapso sanitário no país. Entenda o que levou o país a mais uma crise social e política.
Números da pandemia
O Paraguai vive o pior momento da pandemia até agora. Mais de 1.200 casos de Covid-19 estão sendo registrados diariamente (taxa de 170 por milhão de habitantes). As mortes pela doença estão aumentando desde o início do ano, embora o recorde diário de óbitos tenha sido registrado em setembro passado. Desde o início da pandemia, 3.318 paraguaios morreram por causa da Covid-19.
A campanha de vacinação do Paraguai é a mais lenta da região. Chegaram ao país poucas doses de vacina – 4 mil doses da Sputnik V, provenientes de um acordo maior firmado com a Rússia, e 20 mil doses de Coronavac, doadas pelo Chile neste fim de semana. Cerca de 36 mil doses da vacina da Oxford/AstraZeneca, provenientes do convênio Covax, são esperadas pelo Paraguai até 15 de março.
Escassez de medicamentos
No início de março, profissionais de saúde denunciaram a escassez de medicamentos básicos para combater a Covid-19 e falta de leitos de UTI para receber os pacientes nos principais hospitais do Paraguai. O Ministério da Saúde teve que interromper as cirurgias eletivas por tempo indeterminado.
!["Precisamos de mais remédios e suprimentos médicos para os pacientes", pede uma profissional da saúde durante protesto em 4 de março, em frente ao Hospital das Clínicas de San Lorenzo | Foto: Norberto DUARTE/AFP "Precisamos de mais remédios e suprimentos médicos para os pacientes", pede uma profissional da saúde durante protesto em 4 de março, em frente ao Hospital das Clínicas de San Lorenzo | Foto: Norberto DUARTE/AFP](https://media.gazetadopovo.com.br/2021/03/08120304/000_94A78L.jpg)
“Não temos raio-x, sonda nasogástrica, não tem remédio básico ... Não nos calamos mais. Dizemos basta ao governo”, reclamou à Associated Press o pneumologista Carlos Morínigo durante uma manifestação de enfermeiros em Assunção. Ele é um dos chefes do Instituto Nacional de Doenças Respiratórias e Ambientais (Ineram), que atende casos mais graves de Covid-19.
Os medicamentos em falta são atracúrio e midazolam, indispensáveis para pacientes em estado grave que respiram com auxílio de máquinas. Na semana passada, devido à escassez, o governo paraguaio comprou 30 mil doses de atracúrio, mas como o medicamento está em falta no mercado e apenas uma empresa está vendendo no país, teve que pagar 70 mil guaranis pela dose (cerca de R$ 60), cerca de três vezes o preço de referência no país. Uma investigação do jornal ABC Color, publicada nesta segunda-feira (8), alega que o Ministério da Saúde não fez nenhuma licitação para comprar o medicamento em 2020 e que agora se vê obrigado a fazer compras de emergência.
Sobre a falta de leitos, o governo afirmou que está fazendo acordos para abrir mais vagas. Toda esta situação levou à renúncia do então ministro da Saúde, Julio Mazzoleni, na sexta-feira passada.
Acusação de corrupção
Os manifestantes também afirmam haver uma “corrupção generalizada” no governo de Marito, uma acusação da oposição que não surgiu agora. Um dos casos citados é o acordo com o Brasil sobre a energia excedente de Itaipu, que gerou uma crise política no Paraguai em meados de 2019 e, por pouco, não terminou com o impeachment do presidente.
Agora, com as críticas à gestão do governo frente à pandemia, a oposição busca articular mais um processo de juízo político contra Marito.
O presidente, por sua vez, anunciou que está refazendo seu gabinete. No fim de semana, depois do violento protesto entre manifestantes e policiais (que colocou o governo em uma situação política ainda mais delicada), Marito pediu que seus ministros colocassem seus cargos à disposição. Até agora saíram o ministro da Educação, Eduardo Petta, a ministra da Mulher, Nilda Romero, e o chefe do gabinete, Juan Ernesto Villamayor.
Enquanto o governo tenta solucionar os problemas da saúde e evitar mais processo de impeachment, manifestantes afirmam que continuarão com as mobilizações, exigindo a renúncia do presidente.
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