Antes das eleições, o Southern Poverty Law Center fez um alerta sobre um miliciano da Geórgia que havia dito que uma “eleição fraudulenta” levaria a rebeliões e que a milícia Oath Keepers monitoraria as pesquisas em todo o país para garantir que apenas os cidadãos americanos votassem. O New York Times também afirmou que um “exército” de apoiadores de Trump “iria às urnas e vigiaria [as eleições] com muito cuidado” na Filadélfia. Apesar das alegações do presidente Trump de irregularidades nas urnas, inclusive na Filadélfia, nenhuma das previsões pré-eleitorais de caos da direita foi confirmada.
Muitas dessas previsões foram baseadas em um suposto apelo de Trump à violência durante o primeiro debate, quando ele disse aos Proud Boys para “recuar e aguardar”. Os Proud Boys, um grupo masculino que inclui membros de todas as raças, autodescrevem-se como “chauvinistas ocidentais” e são certamente grosseiros. Eles realizam comícios a favor de Trump e se opõem a coisas como a “hora da história da drag queen” para crianças em bibliotecas públicas. Eles existem, no entanto, em uma dialética com o Antifa, grupo militante de extrema esquerda que persegue “fascistas” e pratica violência contra propriedades e pessoas. Para o movimento Antifa, “fascista” é um termo genérico que inclui qualquer pessoa que acredita na propriedade privada e vê um lugar para a polícia em uma sociedade funcional.
O Antifa difere de outros grupos de extrema esquerda, incluindo os Socialistas Democratas da América, por endossar explicitamente o “confronto físico” para negar liberdade de expressão e reunião a seus oponentes. O movimento Antifa era relativamente desconhecido nos EUA até a vitória presidencial de Trump em 2016. Sua ação mais notável em 2017 foi impedir o discurso da comentarista conservadora Ann Coulter na Universidade da Califórnia em Berkeley, ameaçando confrontos com a segurança do campus e os guarda-costas Proud Boys de Coulter. Mais tarde naquele ano, membros do Antifa se misturaram ao grande e variado grupo que protestava contra o comício Unite the Right em Charlottesville, Virgínia, onde uma pessoa foi morta por um supremacista branco em um ataque veicular. No ano passado, o Antifa espancou o jornalista Andy Ngo, que fazia uma reportagem sobre um comício dos Proud Boys em Portland.
Na maioria dos casos, a violência do movimento Antifa é empregada contra manifestantes inofensivos. Por exemplo, o Proud Boy afroamericano Philip Anderson organizou um protesto pré-eleitoral contra a censura tecnológica dos conservadores em São Francisco. Um apoiador do Black Lives Matter vestindo traje black bloc estilo Antifa deu um soco em Anderson, quebrando seus dentes da frente. Em setembro, outro membro da Antifa, Michael Reinoehl, matou Aaron Danielson, apoiador de Trump, em Portland, após uma carreata.
No passado, o ativismo de esquerda assumiu a forma de movimentos anti-Organização Mundial do Comércio, anti-Guerra do Iraque e Occupy Wall Street. A principal causa da Antifa agora é o movimento Black Lives Matter - efetivamente alinhando-o com o Partido Democrata e, ironicamente, com os patrocinadores corporativos do BLM. Funcionários simpatizantes da cidade de Berkeley, Charlottesville e Portland frequentemente evitam processar membros do movimento Antifa presos por atos de vandalismo e violência. Normalmente, os ativistas Antifa que cometem violência ou destroem propriedade privada são resgatados por grupos como o Minnesota Freedom Fund, um fundo de fiança que Kamala Harris pediu que seus seguidores apoiassem após a morte de George Floyd.
Após a eleição presidencial, não foram os Proud Boys, milicianos ou “supremacistas brancos” que se envolveram em violência política, mas sim o Antifa. Em Portland, membros do Antifa lançaram sinalizadores e lasers de alta potência na casa do vereador Dan Ryan porque ele votou contra uma emenda para retirar verba da polícia. Os manifestantes Antifa também destruíram as janelas de uma igreja no centro da cidade. Em Denver, os Antifa quebraram vitrines, queimaram bandeiras americanas e exibiram cartazes de “Morte ao Fascismo e ao Liberalismo”. Em Washington, D.C., agressores vestidos de preto, possivelmente membros do Antifa, esfaquearam Enrique Tarrio e Bevelyn Beatty, mulher afroamericana conhecida por vandalizar murais do BLM.
Reduzir o movimento Antifa a uma “ideia”, como Joe Biden fez durante o primeiro debate presidencial, foi uma medida conveniente para os democratas durante a temporada eleitoral. Ao longo do verão e do outono, os membros do Antifa participaram de manifestações do BLM (trocando para o traje de black bloc à noite), negaram espaços públicos aos apoiadores de Trump e protestaram para retratar a “América de Trump” como divisora e perigosa. Se os tribunais de alguma forma concederem a Trump uma vitória eleitoral milagrosa, podemos esperar que o Antifa se extinga. É mais provável, porém, que o desafio de lidar com o grupo militante recaia sobre um novo governo democrata, para o qual não será fácil colocar o gênio Antifa de volta na garrafa.
As demandas políticas do movimento Antifa incluem o fim da intervenção estrangeira dos EUA, da fronteira nacional, das prisões e da polícia, entre outras políticas que não se alinham com uma agenda de centro-esquerda. Muitos adeptos do movimento Antifa se lembram do histórico “pró-encarceramento” de Harris como procuradora-geral da Califórnia. Eles não hesitarão em rotular Biden de “fascista” se ele se desviar de suas exigências ou das do BLM. A extrema esquerda e centro-esquerda estiveram unidas contra Trump por quatro anos; agora veremos se o Antifa move as balizas do “fascismo” para incluir alguns de seus ex-aliados mais centristas.
* Jacob Zenn é editor do Terrorism Monitor da Jamestown Foundation. As opiniões expressas são suas.
©2020 City Journal. Publicado com permissão. Original em inglês.
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