Manifestantes entraram em choque com a polícia nas principais cidades do Equador em meio a uma greve geral convocada por grupos indígenas que se opõem ao presidente Lenín Moreno e às reformas econômicas de seu governo. Liderados pela Confederação Nacional Indígena do Equador (Conaie), eles marcharam de pontos da Amazônia e da Cordilheira dos Andes em protesto contra as reformas, que provocaram um aumento de até 123% no preço dos combustíveis.
Historicamente, os grupos indígenas têm papel de protagonistas na política equatoriana. Segundo o professor de Relações Internacionais na Fundação Getúlio Vargas (FGV) Oliver Stuenkel, eles possuem um movimento muito bem articulado, mesmo representando apenas 10% da população.
"Sua influência é grande sobretudo nas zonas rurais, onde eles pautam a agenda, principalmente em relação a questões de legislação envolvendo mineradoras multinacionais. Junto com o setor de transportes eles formam um lobby poderoso, que ajudou a derrubar vários presidentes no Equador".
Durante a instabilidade dos anos 1990 e 2000, a Conaie apoiou a destituição dos presidentes Jamil Mahuad Abdalá Bucaram e Lucio Gutiérrez. Na época, o Equador teve oito presidentes em dez anos.
Com a chegada de Correa ao poder, em 2007, o país viveu um período de estabilidade econômica e política graças ao boom das commodities e às políticas sociais do presidente, que reformou a Constituição para se reeleger.
No começo do mandato, Correa se aproximou de lideranças indígenas. Adotou símbolos quíchuas - etnia da maioria dos indígenas do país - em seus discursos e aparições públicas e aprovou leis de interesse da comunidade. A partir do segundo mandato, a exploração mineral da Amazônia equatoriana abriu uma cisão entre Correa e a Conaie. Uma marcha similar à atual foi convocada contra o então presidente, em 2015.
Em 2017, Correa surpreendeu todos ao desistir da reeleição e indicar Moreno, que foi seu vice-presidente. Logo depois de assumir o poder, ambos romperam e Moreno se aproximou da oposição.
Hoje, o presidente acusa Correa de tentar derrubá-lo. O ex-presidente chama o antigo pupilo de traidor e, apesar de viver no exílio na Bélgica e de ter uma ordem de captura contra ele no Equador por corrupção, disse estar disposto a voltar ao país se houver eleições.
Correa rejeitou nesta quarta as acusações de que estaria por trás das manifestações de grupos indígenas e dos protestos contra as medidas econômicas. No entanto, ele pediu ao povo que siga "defendendo seus direitos com firmeza, mas em paz".