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Os comentários do Papa Bento XVI sobre o Islã podem abalar a harmonia entre as religiões, disseram na sexta-feira governos e líderes religiosos nos países islâmicos mais populosos do mundo. Houve protestos de rua na Índia e na Turquia.

Vários líderes muçulmanos já pediram que o Papa se desculpe pelos comentários feitos na terça-feira na Alemanha, quando usou os termos "jihad" e "guerra santa".

A Assembléia Nacional do Paquistão aprovou por unanimidade uma resolução condenando o discurso do Papa. O Paquistão tem a segunda maior população muçulmana do mundo, depois da Indonésia.

"Essa declaração magoou os sentimentos dos muçulmanos", diz a resolução. "Ela também vai contra a Carta da ONU. Esta Casa exige que o Papa retire seus comentários, no interesse da harmonia entre as diferentes religiões do mundo".

Acadêmicos muçulmanos dizem que o Papa revelou sua ignorância sobre o Islã, e alguns defenderam que os países islâmicos ameacem romper relações com o Vaticano.

Na quinta-feira, a Igreja Católica divulgou nota dizendo que o Papa não quis ofender o Islã.

O discurso

Na sua palestra na Universidade de Regensburg, Bento XVI citou críticas ao Islã feitas no século XIV pelo imperador bizantino Manuel II Palaeologus, segundo quem Maomé só havia trazido coisas ruins e desumanas, "como sua ordem de difundir pela espada a fé que ele pregava".

Bento XVI citou várias vezes o argumento de Manuel segundo o qual a difusão da fé pela violência é contrária à razão.

- A violência é incompatível com a natureza de Deus e a natureza da alma - afirmou o Pontífice.

A reação

- É óbvio pelas declarações que o Papa não tem uma compreensão correta do Islã - disse Din Syamsuddin, presidente da Muhammadiyah, segunda maior organização muçulmana da Indonésia.

Ele acha que o discurso pode abalar as relações "harmoniosas" entre católicos e muçulmanos, e pediu a estes que evitem uma reação desproporcional.

Fauzan al-Anshori, porta-voz do grupo radical indonésio Conselho Mujahideen, disse que o Papa confundiu Islã com jihad, e propôs um debate.

- Os muçulmanos não podem eliminar a jihad do discurso islâmico, da mesma forma que os cristãos não podem jogar fora a doutrina da Trindade - afirmou.

O chanceler egípcio, Ahmed Aboul Gheit, se disse preocupado com a possibilidade de o discurso de Bento XVI complicar os esforços de reaproximação entre Ocidente e Oriente.

O Ministério das Relações Exteriores do Egito divulgou nota segundo a qual Aboul Gheit pretende "intensificar os esforços para fortalecer o diálogo entre civilizações e religiões e para evitar qualquer coisa que possa exacerbar as diferenças de credo e ideológicas".

Na Turquia, aonde o Para deverá ir em novembro, um organismo do governo que lida com assuntos religiosos condenou as palavras papais:

"Suas palavras são extremamente lamentáveis, preocupantes e infelizes, em termos do mundo cristão e da paz comum à humanidade", disse o chefe da Diretoria Geral para Assuntos Religiosos, Ali Bardakoglu, em Ancara, segundo a rede CNN, citando a agência Anatolia.

Gaza

Em Gaza, o primeiro-ministro palestino, Ismail Haniye, afirmou que as palavras de Bento XVI "não são verdadeiras e difamaram a essência desta religião sagrada e difamaram a história do Islã". Ele pediu ao Papa que reveja seus comentários.

Em Nova Délhi, Syed Ahmad Bukhari, líder da histórica Jama Masjid, maior mesquita da Índia, conclamou os muçulmanos a reagirem às declarações do Papa.

- Nenhum Papa jamais tentou atacar a glória do Islã como este Papa - disse Bukhari a milhares de seguidores na mesquita, que responderam gritando "Alla-hu-Akbar" ("Deus é grande").

- Os muçulmanos devem reagir de maneira a forçar o Papa a se desculpar - acrescentou ele nas orações de sexta-feira, sem entrar em detalhes.

Numa região da Cachemira indiana, manifestantes separatistas muçulmanos foram às ruas gritar slogans contra o Papa.

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