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Crise econômica

Muita confusão, falta de mercadorias e preços mais caros: o caos na Venezuela com a nova moeda

Pessoas fazem fila em caixa eletrônico em Caracas: saques chegaram a ser limitados a 10 bolívares, o equivalente a US$ 0,15 | FEDERICO PARRA/AFP
Pessoas fazem fila em caixa eletrônico em Caracas: saques chegaram a ser limitados a 10 bolívares, o equivalente a US$ 0,15 (Foto: FEDERICO PARRA/AFP)

Venezuelanos confusos com as novas cédulas que começaram a sair de caixas eletrônicos a partir desta terça-feira, 21, recorrem ao uso de calculadoras e tabelas de conversão para descobrir o valor de cada nota da nova moeda do país, que tem cinco zeros a menos. "Ainda não entendi muito bem", disse a dona de casa Maritza Vargas, enquanto retirava uma nota de cinco bolívares no banco. "A verdade é que eu ainda não entendi bem." 

A nova moeda é parte de um plano econômico do presidente venezuelano, Nicolás Maduro, com o objetivo de enfrentar a inflação descontrolada e a economia em queda, que obrigou dezenas de milhares de venezuelanos a fugirem do país. 

Um banco distribuiu tabelas de conversão para ajudar os clientes, enquanto alguns levam calculadoras na mão, sem saber quanto os produtos básicos, como arroz e ovos, irão custar na nova moeda. "Temos de estar atentos", disse Yulima Rivas, em um caixa eletrônico em Maracaibo. "Se cometermos um erro, é como ser roubado." 

Retiradas limitadas 

À medida que a nova moeda entrava em uso, os bancos limitavam as retiradas diárias nos caixas eletrônicos a 10 bolívares por clientes - o que equivale a cerca de US$ 0,15, segundo taxa comumente utilizada no mercado negro. 

Nesse ritmo, levaria sete dias para que um venezuelano conseguisse retirar dinheiro suficiente para comprar uma garrafa de 2 litros de Coca Cola com cédulas, embora seja possível fazer compras maiores com cartões de débito. 

A maior cédula da antiga moeda da Venezuela era a 100 mil bolívares - valor inferior a US$ 0,03. As novas cédulas têm valor máximo de 500 bolívares, o que atualmente corresponde a cerca de US$ 7,50. 

Muitos estabelecimentos comerciais estavam sem mercadorias. Segundo o jornal El Nacional, açougues de bairros de Caracas não tinham carne em seus refrigeradores. Eles afirmaram que estão à espera dos fornecedores para ajustarem os preços. No momento, a intenção é de manter os preços. 

Em outros, as mercadorias em exposição estavam com preços assustadores. Em San Félix, um frango inteiro estava sendo vendido a 285,50 bolívares, que correspondem a 15% do novo salário mínimo. 

Gasolina 

O plano de Maduro inclui aumentar o salário mínimo a partir do dia 1º de setembro em mais de 3.000%, além de estabelecer o preço da gasolina em equivalência aos internacionais e impor novos controles de preços. 

No entanto, muitos economistas dizem temer que as medidas tragam apenas mais miséria para a nação outrora mais rica da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep). Segundo a consultoria Ecoanalítica, para estabilizar e dinamizar a economia venezuelana seria necessário obter US$ 20 bilhões de financiamento externo por ano durante cinco anos. O valor necessário corresponde ao PIB do país previsto para este ano.

Inflação 

Ricardo Hausmann, diretor do Centro de Desenvolvimento Internacional da Harvard University (EUA), não tem nenhuma esperança em relação ao plano. “Com o aumento de salários e de abonos, as pessoas vão ter mais o que comprar. A pergunta que se faz é se vai ter mais bens para vender. Isto depende do que acontecerá com a produção e as importações. Ambas estão caindo. Mais com que comprar e menos disponibilidade implica mais pobreza e inflação”, escreveu ele em sua conta no Twitter. 

Segundo economistas do Fundo Monetário Internacional (FMI), a inflação neste ano pode chegar a 1.000.000%. Mas diante das medidas, já há economistas refazendo as contas. José Toro Hardy, que foi diretor da PDVSA no final dos anos 90, disse ao El Nacional que se o governo não tomar novas medidas, a inflação pode ganhar mais força e chegar aos 44.000.000%. 

Protestos 

Políticos da oposição pediram paralisação e protestos nesta terça-feira, aumentando a tensão e nervosismo causados pelo novo plano econômico. Apesar do chamado, as ruas estavam calmas, enquanto empresas de Caracas lentamente reabriram suas portas, após o feriado bancário de segunda-feira. 

O partido socialista de Maduro convocou sua própria manifestação também para esta terça, em apoio ao presidente, que foi alvo de ataque fracassado com drones no início de agosto. 

Carlos Espana, morador de Caracas, segurava com orgulho notas de bolívar que havia sacado no banco, mas demonstrou preocupação com a possibilidade de que os planos do governo apenas estimulem a inflação. "Mais confusão. Custos mais altos", disse, ressaltando que teria de ficar na fila do caixa eletrônico por mais dois dias para poder juntar cédulas suficientes para comprar uma empanada.

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