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Os pedidos de censura de conteúdos no Twitter não partiram apenas do FBI, mas de agências de todo o governo norte-americano, incluindo a CIA. É o que mostra o jornalista Matt Taibbi no capítulo mais recente do Twitter Files, uma série de reportagens sobre a suposta atuação política da plataforma antes de ser comprada pelo bilionário Elon Musk. “Os arquivos mostram o FBI atuando como gatekeeper [aquele que decide o que deve ou não ser tornado público] de um vasto programa de vigilância e censura de mídia social, abrangendo agências de todo o governo federal – do Departamento de Estado ao Pentágono e à CIA”, revelou Taibbi em uma nova série de tweets, na véspera do Natal.
Segundo o jornalista, a operação da chamada Força-Tarefa de Influência Estrangeira (FITF, na sigla em inglês) era ampla e facilitava desde solicitações de moderação de conteúdo por parte de atores menores, como policiais locais e governo estadual, até das OGAs (sigla em inglês para “outras agências governamentais").
OGA, inclusive, era “muitas vezes um eufemismo para CIA”, revelaram ex-funcionários de inteligência. “Outra agência governamental (o lugar onde trabalhei por 27 anos)”, diz, por exemplo, o oficial aposentado da CIA Ray McGovern.
Segundo Taibbi, o nível de interação dessas agências com o Twitter, pedindo moderação de conteúdo, chegava a ser “estonteante” para os executivos da plataforma. "O Twitter teve tanto contato com tantas agências que os executivos perderam a noção. Hoje é o DOD [Departamento de Defesa dos EUA] e amanhã o FBI? É a ligação semanal ou a reunião mensal? Foi estonteante", revelou.
O capítulo mais recente do Twitter Files também mostra que “o governo estava em contato constante não apenas com o Twitter, mas com praticamente todas as grandes empresas de tecnologia”, o que “incluía Facebook, Microsoft, Verizon, Reddit, até Pinterest e muitos outros”.
Os pedidos do governo eram tantos, revela o jornalista, que os funcionários do Twitter precisaram improvisar um sistema para triá-los e priorizá-los. Os executivos da rede social estavam sob constante pressão para “validar teorias de influência estrangeira”, algumas sem nenhuma evidência. "’Não foram encontradas ligações com a Rússia’, diz um analista, mas sugere que ele poderia 'fazer um brainstorm' para 'encontrar uma conexão mais forte'”, conta Taibbi.
Embora a missão principal da força-tarefa fosse barrar “influência estrangeira”, documentos mostram “montanhas de pedidos de moderação doméstica” vindos de governos estaduais e da polícia local.
A CIA não quis comentar a natureza de seu relacionamento com as empresas de tecnologia como o Twitter.