Com 98,95% dos votos contados nesta segunda, Mujica foi eleito| Foto: Reuters

O ex-combatente da guerrilha uruguaia José "Pepe" Mujica foi eleito presidente de seu país na eleição do domingo ao derrotar seu rival do Partido Blanco Luis A. Lacalle. Com a apuração dos votos encerrada nesta segunda-feira, Mujica foi eleito com 52,6% dos sufrágios, enquanto Lacalle obteve 43,3%, informou o tribunal eleitoral. Os votos em branco somaram 2,29% do total e os nulos, 1,78%.

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Mujica parecia não acreditar na própria vitória no discurso feito a milhares de simpatizantes na Rambla, a avenida costeira de Montevidéu.

"O povo nos deu essa vitória", disse o ex-guerrilheiro tupamaro sob uma fina chuva. "Existem aqueles que acreditam que o poder está acima de nós e não percebem que, na verdade, está nos corações das grandes massas. Obrigado! Me custou uma vida inteira entender isso. Obrigado para sempre", disse Mujica.

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Mujica negou as repetidas acusações de Lacalle, de que ele sequestrará a democracia no Uruguai e instalará um Estado socialista radical modelado na Venezuela de Hugo Chávez. Ele disse que se inspira não em Chávez, mas no presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, que também subiu da militância, como líder sindical, para se tornar um popular centrista na administração do governo.

O presidente eleito também afirmou que continuará as políticas do presidente Tabaré Vázquez, cujo governo é aprovado por 71% da população uruguaia e deixará o cargo em 1º de março de 2010.

Lacalle admitiu que Mujica será o presidente de todos os uruguaios, mas também invocou os temores dos seus partidários, ao prometer que na oposição ele será "um soldado da verdade, um guardião das instituições e defensor das leis".

A guerrilha dos Tupamaros, da qual Mujica foi um cofundador, tumultuou o Uruguai no final da década de 1960 e mais tarde, a partir de 1973, combateu a ditadura militar que se instalou no país. A ditadura uruguaia durou até 1985. Mujica passou todo o período entre 1973 e 1985 na prisão, sofrendo torturas e confinamento em solitária por ter matado um policial - um crime que ele nega ter cometido. Ele disse que a prisão o curou de qualquer ilusão de que a luta armada possa alcançar mudanças sociais e que agora rejeita as "ideologias estúpidas" da década de 1970.

Mujica e sua esposa, a também militante tupamaro Lucia Topolanski, saíram da prisão no final da ditadura comprometidos a transformar os rebeldes num movimento político legítimo, que com o tempo virou a Frente Ampla, uma coalizão de centro-esquerda que passou a reunir, em 2004, mais de 20 facções e partidos. Foi a Frente Ampla que levou Vázquez à vitória em 2004.

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Colega de chapa pragmático

Lacalle, que governou o Uruguai de 1990 a 1995, admitiu a derrota depois que as pesquisas de boca-de-urna terem mostrado que Mujica tinha vencido com cerca de 51% dos votos. O resultado, numa eleição realizada porque nenhum dos candidatos conseguiu a maioria absoluta no primeiro turno, faz de Mujica o segundo rebelde latino-americano a se eleger presidente nos últimos anos, depois do presidente da Nicarágua, o ex-sandinista Daniel Ortega.

O histórico de Mujica no movimento tupamaro causou consternação entre alguns conservadores uruguaios, particularmente por ele não ter escondido sua admiração pelo presidente venezuelano Hugo Chávez. Mas ele ganhou o primeiro turno, em outubro, e as pesquisas mostravam sua consistente liderança sobre Lacalle.

O ex-rebelde escolheu um pragmático ex-ministro de Finanças, Danilo Astori, como seu companheiro de chapa e ambos prometeram continuar a política econômica do atual presidente, Tabaré Vázquez.

Proibido pela Constituição de concorrer a um novo mandato, Vázquez tem altas taxas de aprovação graças em grande parte às políticas que ajudaram o Uruguai a evitar a recessão e ao mesmo tempo manter uma taxa de desemprego relativamente baixa e reduzir os níveis de pobreza.

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