O ex-guerrilheiro José Mujica assumiu ontem a presidência do Uruguai com a promessa de manter uma macroeconomia "ortodoxa e prolífica" e amplas políticas sociais, naquele que será o segundo governo consecutivo da esquerda no país.
Com uma multidão nas ruas erguendo bandeiras uruguaias e da coalizão de esquerda Frente Ampla, Mujica fez um chamado para um diálogo entre os partidos a fim de estabelecer políticas de Estado e facilitar a governabilidade, deixando de lado os conflitos.
"Seria uma aberração nos dedicarmos ao confronto e não ao ajuste. As batalhas pelo tudo ou nada são o melhor caminho para que nada mude e tudo se estanque", disse Mujica no discurso de posse, amplamente aplaudido por políticos de todas as forças no Congresso e dignitários estrangeiros.
O líder de 74 anos prometeu uma condução rigorosa da economia e do sistema bancário, vital para o Uruguai, país com 3,3 milhões de habitantes que vive da agricultura, da pecuária, do turismo e do investimento de não residentes. "Uma macroeconomia prolífica é um pré-requisito para todo o resto (...) Vamos ser ortodoxos na macroeconomia e vamos compensar isso sendo inovadores e atrevidos em outros aspectos", disse Mujica.
Com o estilo franco que o caracteriza, Mujica disse que passou a manhã anterior à posse "tomando uns mates com a velha" e garantiu que não estava nervoso, já que passou "por muitos testes." Entre os desafios, Mujica deverá buscar a solução a um prolongado conflito ambiental com a vizinha Argentina, que tem afetado a relação bilateral, o comércio e o turismo.
O governo também deverá enfrentar uma situação fiscal apertada e grandes vencimentos da dívida. Alguns analistas econômicos afirmam que ele deverá realizar um ajuste de gastos que poderá afetar as amplas políticas sociais do Estado uruguaio.
Membro da guerrilha urbana Tupamaros, Mujica passou mais de uma década na prisão durante a ditadura que governou o Uruguai na década de 1970 até o começo dos anos 80 e ganhou as eleições de novembro com 52,3 por cento dos votos.
O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, presente na cerimônia de posse, disse que um grande revolucionário chegava à presidência uruguaia.
"Hoje é um grande dia para o Uruguai. Chega à presidência um revolucionário também", garantiu Chávez.