Elas não são modelos, nem atrizes, mas mulheres que foram atacadas com ácido e agora estrelam um calendário exercendo suas profissões - ou as que gostariam de ter - como antes de terem a vida marcada pela tragédia.
O objetivo do calendário, apresentado neste domingo pela ONG Stop Acid Attacks (confira página no Facebook) em função do Dia Internacional da Mulher, é dar visibilidade a este problema que castiga a Índia.
Em geral, este tipo de ataque é cometido como vingança em um país onde um frasco de ácido de 1 litro é muito acessível - custa apenas 30 rúpias (R$ 1,46) e é frequentemente utilizado na limpeza de banheiros ou encanamentos.
“Nos calendários aparecem estrelas de cinema ou modelos, não mulheres como nós. Queremos mostrar que a beleza é interior, que continuamos a ser bonitas”, disse à Agência Efe Sonia, de 30 anos, que foi atacada com ácido em 2004 por um vizinho após uma discussão e tem o rosto totalmente deformado.
Sonia, que aparece no calendário maquiando uma cliente, ressaltou que a proposta é mostrar que as vítimas desses ataques são pessoas normais que querem uma vida normal. A ideia é compartilhada por Geeta, de 44 anos, cujo ex-marido lhe jogou ácido há duas décadas. No ataque, seu filho de poucos meses morreu, e outra filha ficou deformada e cega.
“Nós não fizemos nada de errado. Não temos porque nos esconder. Estou orgulhosa de ter posado”, afirmou Geeta, que foi fotografada com um uniforme de cozinheira, sua profissão em um restaurante criado pela ONG na cidade de Agra e que emprega cinco sobreviventes de ataques de ácido.
Sua filha Neetu, de 23 anos e cega por causa do ataque de seu pai, sempre quis ser cantora e aparece retratada diante de um microfone no calendário.
“Durante muito tempo quis me suicidar. Pedia a minha mãe que me deixasse morrer. Mas agora me sinto melhor. Ações como o calendário me ajudam”, disse a jovem à Agência Efe.
Rupa, que posa com desenhos de moda; Rajwant, fotografada com uma câmera, e Dolly com um jaleco de médica, são participantes que aparecem retratadas com a profissão que gostariam de ter.
“Devemos lhes devolver a dignidade”, disse o fundador e diretor da Stop Acid Attacks, Alok Dixit, acrescentando que a ONG espera alcançar 100 milhões de pessoas através das redes sociais com esta campanha.
O ativista afirmou que é necessário que a sociedade esteja ciente dos ataques com ácido e o quão difícil é para as mulheres que o sofrem refazer suas vidas.
“Elas não são vítimas, são lutadoras. Lutam para recuperar uma vida que lhes foi tirada”, declarou Dixit.
Outro objetivo do calendário é arrecadar fundos para a ONG, que oferece ajuda médica, legal e laboral a mulheres que sofreram estes ataques.
A Corte Suprema da Índia endureceu em 2013 a venda de ácido e decidiu que o governo deve compensar cada vítima com 300 mil rúpias (R$ 14,6 mil), medidas que não foram levadas à prática, segundo a ONG.