No dia 11 de março, Michelle Bachelet voltará à presidência do Chile após derrotar nas eleições outra mulher, Evelyn Matthei. Embora isso signifique um avanço na igualdade entre os gêneros, a realidade evidencia que se avançou muito pouco na participação política feminina. Quem não conhece bem o Chile pode pensar que o fato de Bachelet e Matthei disputarem a presidência em 15 de dezembro "constitui uma medida dos avanços vividos pelas chilenas", afirma María de Los Angeles Fernández, diretora-executiva da Fundação Chile 21.
As aparências enganam e a imagem feminista que o Chile transmite para o exterior é apenas uma miragem de um suposto avanço rumo à igualdade sob a qual se esconde uma baixa inserção da mulher no mundo profissional e pouca participação em política, argumentam analistas se apoiando em diversos estudos. Segundo relatório do barômetro Equidade, a taxa de mulheres no mundo profissional no Chile é de 47,6%. Além disso, atualmente há seis mulheres nos 22 ministérios do governo de Sebastián Piñera. No Senado elas ocupam apenas 13% das cadeiras e, na Câmara dos Deputados, 14% das vagas, contra 20,3% da média mundial. Sem estímulos ou mudanças culturais, especialistas acreditam que o Chile só alcançará a paridade legislativa por volta de 2050.
"Essa impressão não é só enganosa mas coexiste com algo que não se pode esquecer: resulta ainda uma raridade que o poder executivo possa descansar em ombros femininos", diz a analista política. Além dos governantes Dilma Rousseff no Brasil e Cristina Kirchner na Argentina, América do Sul contará a partir de março com Michelle Bachelet no Chile.
O segundo mandato de Bachelet coincidirá ainda com a presidência feminina do Senado (provavelmente de Isabel Allende); da Confederação Unitária do Trabalho, com Bárbara Figueroa; e das duas federações estudantis mais importantes do país, as da Universidade do Chile e da Universidade Católica. Além disso, as eleições parlamentares de 17 de novembro significaram o triunfo de duas jovens mulheres que lideraram os protestos estudantis, as deputadas comunistas Camila Vallejo e Karol Cariola.
Inclusão
Uma pesquisa da entidade chilena Corporação Humanas mostra que 56,6% das mulheres do país acham que os partidos políticos dão poucas oportunidades. "O porquê de o Chile continuar sendo machista é um tema muito profundo. Na área empresarial o problema se repete. A diferença salarial em cargos de direção pode chegar a 30%", afirma Pilar Arica, presidente da Women-CEO Chile.