Multidão segue o carro que leva o corpo de Vaclav Havel, em Praga| Foto: Reuters

A viúva de Vaclav Havel comandou nesta quarta-feira (21) o cortejo que acompanhou o corpo do dramaturgo que virou presidente da extinta Tchecoslováquia no seu último trajeto pelas ruas de Praga, até o castelo onde ele será velado até sexta-feira. A atriz Dagmar Havlov esteve acompanhada por personalidades tchecas e por milhares de cidadãos que desejavam prestar uma homenagem ao ex-dissidente, que morreu no domingo 22 anos depois de comandar a "Revolução de Veludo" que acabou com o regime comunista na então Tchecoslováquia, em dezembro de 1989. "Era um homem honesto", disse Jaroslava Leskakova, de 67 anos, que seguia o cortejo pelas ensolaradas ruas de pedra da Cidade Velha, indo na direção da histórica Ponte Carlos, que dá acesso ao Castelo de Praga. "Ele não pensava em si mesmo, mas fez tudo o que pôde para que o povo fosse feliz", disse Leskakova. Havel foi preso várias vezes pelas autoridades comunistas nas décadas de 1970 e 1980 por seu ativismo no movimento que ficou conhecido como Carta de 77. Após o fim do regime, ele presidiu a Tchecoslováquia de 1989 a 1992 e, após a secessão da Eslováquia, governou a República Tcheca até 2003. O corpo dele estava sendo velado desde segunda-feira em um centro artístico que Havel participou da criação. A jornada até o castelo, símbolo do poder no país, ilustra a transformação pela qual o próprio Havel passou na sua vida - de dramaturgo censurado a estadista envolvido na reconstrução do Leste Europeu. O corpo foi levado em uma carruagem militar usada pela última vez em 1937, no funeral do herói nacional Tomas Garrigue Masaryk, que comandou o processo que levou a Tchecoslováquia a ficar independente do império Austro-Húngaro, em 1918. Entre os dignitários esperados na cerimônia fúnebre de sexta-feira estão a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, e seu marido, Bill, que na época em que foi presidente norte-americano tocou saxofone com Havel durante visita a uma casa noturna de Praga, em 1994. Outra celebridade da cerimônia será o ex-presidente polonês Lech Walesa, que a exemplo de Havel passou de dissidente anticomunista a líder do seu país. Ícone de uma geração que acabou pacificamente com a Guerra Fria na Europa, Havel continuou a apoiar movimentos democráticos até o final da vida. Em sua última declaração pública, ele apontou manipulações na recente eleição parlamentar russa e conclamou os adversários de Vladimir Putin a montarem um governo paralelo e a resistirem à "intimidação" das autoridades.

CARREGANDO :)