Quase dois anos depois de ser deposto da Presidência de Honduras, Manuel Zelaya foi recebido ontem por uma multidão de apoiadores em Tegucigalpa e prometeu levar "a resistência popular" ao comando do país.
Zelaya agradeceu o apoio dos países latino-americanos e ao atual governo de Honduras por "restituir seus direitos democráticos". Culpou os Estados Unidos pelo fracasso das negociações anteriores e anunciou que sua tarefa será organizar a base política para promover uma Constituinte.
O ex-presidente desembarcou sábado no aeroporto da cidade de Manágua, num avião cedido pelo governo do venezuelano Hugo Chávez, onde seguidores o aguardavam. Blusas e camisas da Frente Nacional de Resistência Popular (FNRP), criada após o golpe, se misturavam a símbolos do tradicional Partido Liberal, a legenda original de Zelaya. O ex-presidente agora se define como "liberal pró-socialista em resistência".
"Esperamos que Zelaya organize a resistência", disse o técnico em informática Douglas Sierra, 26 anos, envolvido em uma bandeira do Brasil. "Comprei para homenagear o apoio brasileiro a Mel [apelido de Zelaya]."
Em setembro de 2009, numa tentativa de forçar sua restituição ao poder, Zelaya se refugiou na embaixada brasileira em Manágua, onde ficou quase quatro meses até partir para o exílio na República Dominicana.
A aposta da FNRP para seguir unida é intensificar a campanha para convocar uma Constituinte ironicamente, esse foi um dos motivos alegados para o golpe contra Zelaya. A possibilidade de propor uma consulta popular sobre mudança da Constituição, e sua posterior reforma total, foi viabilizada pelos atuais governo e Congresso e fez parte do acordo para a volta do ex-presidente, mediado pela Venezuela e pela Colômbia.
"O status quo hondurenho fez tudo para impedir qualquer mudança, motivado especialmente por uma paranoia anti-Hugo Chávez. Espero que tenham percebido que o desenho institucional de Honduras na atual constituição foi uma das razões da crise de 2009", afirma Kevin Casas-Zamora, ex-vice presidente da Costa Rica e analista para a região do americano Brookings Institute.
Pela atual Carta, que veta a reeleição, Zelaya não poderá se candidatar à eleição presidencial de 2013. A ideia é lançar desde já a mulher do ex-presidente, Xiomara Castro, que foi uma das oradoras do evento de ontem.