Milhares de pessoas foram às ruas nesta sexta-feira para o funeral de dois dos quatro árabes israelenses mortos na véspera por um extremista judeu. Israel entrou em alerta para uma possível onda de distúrbios entre os palestinos.
O primeiro-ministro de Israel condenou duramente o atentado, cometido por um soldado adolescente que foi linchado após matar quatro árabes dentro de um ônibus na cidade de maioria árabe de Shfaram. Ariel Sharon disse tratar-se de "um terrorista sedento por sangue" e disposto a envenenar as relações bilaterais (com os palestinos).
Havia temores de distúrbios também na parte velha de Jerusalém, sagrada para muçulmanos e judeus. Mas os 35 mil palestinos presentes concluíram suas preces de sexta-feira, as mais importantes da semana, e se dispersaram sem incidentes.
Na cidade árabe israelense de Shfaram, cenário do ataque ao ônibus, milhares de pessoas acompanharam o enterro de duas irmãs, ambas na faixa dos 20 anos. "As mártires são amadas por Deus", gritava a multidao.
Também foram mortos o motorista e um passageiro de meia-idade, ambos cristãos. Seus enterros devem acontecer ainda nesta sexta-feira. Pelo menos 22 pessoas, a maioria árabe, ficaram feridas.
- Nossa cidade está no coração do Estado de Israel, e estão atacando as pessoas aqui. O Estado não está fazendo o suficiente por seus cidadãos árabes - disse o gari Mounir Baki, que recolhia estilhaços do local do atentado antes dos funerais.
Os árabes formam cerca de 20% da população de Israel e freqüentemente se sentem discriminados. Eles são solidários com a rebelião nos territórios palestinos, mas raramente se envolvem com o extremismo.
O Exército disse que o autor do ataque, Eden Nathan Zaada, de 19 anos, havia desertado recentemente e tinha um "histórico problemático".
Agências de segurança já haviam alertado para a possibilidade de ataques de radicais judeus contra árabes às vésperas da desocupação da Faixa de Gaza.
A mãe de Zaada disse à Rádio Israel que comunicara há duas semanas ao Exército que o rapaz estava armado, tinha opiniões ultradireitistas e poderia ser perigoso, mas nada foi feito.
Foi o pior ataque cometido por um radical judeu desde que um colono da Cisjordânia matou 29 palestinos que rezavam em uma mesquita, em 1994. Seis semanas depois, começou uma onda de atentados suicidas palestinos.
Cerca de 3.000 simpatizantes do Hamas, grupo que mantém um precário cessar-fogo com Israel desde fevereiro, fizeram uma passeata em Gaza nesta sexta-feira pedindo vingança pelos mortos de Shfaram.
A imprensa israelense disse que Zaada, que mudou-se recentemente do seu subúrbio de Tel Aviv para um assentamento de radicais judeus na Cisjordânia, deixou seu quartel porque era contra os preparativos militares para a desocupação de colonos que resistirem na Faixa de Gaza.
A polícia prendeu três jovens no assentamento de Tapuach sob suspeita de que eles sabiam da intenção de Zaada de matar árabes.
O ministro da Defesa Shaul Mofaz ordenou que Zaada não seja sepultado em um cemitério militar, porque "não merece" a distinção, segundo nota.