Mumbai, dia 11 de julho, hora do rush. Números da tragédia: sete bombas em sete trens lotados de passageiros, que deixam um saldo oficial, até o momento, de 179 mortos e 772 feridos. Como a cidade absorveu o duro golpe? Quem são os responsáveis pelo ataque? O que dizem os sobreviventes? Passados alguns dias, algumas dessas perguntas já começam a ser respondidas.
Na manhã do dia seguinte, 12 horas depois da tragédia, já se respirava um surpreendente ar de tímida e cautelosa normalidade pelas ruas e trilhos da cidade. A maioria das pessoas procurou viver a rotina diária, deixando para trás a tarde sangrenta daquela terça-feira. Na quarta-feira, as escolas não fecharam, as fábricas não pararam, bancos e escritórios funcionaram e os meios de transporte coletivo não deixaram de circular.
O sistema ferroviário, por exemplo, responsável pelo transporte de mais de 5 milhões de passageiros por dia, recuperou-se da noite para o dia depois de ter sido escolhido pelos terroristas como palco da tragédia. É verdade, porém, que várias pessoas, por cautela, preferiram, no dia 12, tomar ônibus em vez de trem para ir ao trabalho. Foi o que fez a secretária Prya Singh. No dia anterior, na hora das explosões, ela estava pegando o trem para voltar para casa, em Bandra, local de uma das explosões. O trem em que ela estava não foi atingido, mas devido ao caos e conseqüente paralisação do sistema de transporte Prya só conseguiu voltar para casa, de carona e com medo, horas mais tarde.
Um dia depois do ato terrorista que dividiu o seu trem pela metade, Mushrat Firoz, 38 anos, maquinista, já estava de volta ao comando da locomotiva. "Quando eu passei pelo local da explosão, eu rezei pelas vítimas e toquei o trem pra frente", lembra emocionado.
Tocar o trem pra frente é o que a cidade já está fazendo. "Mumbai não pode parar", dizem as pessoas. E parece que essa cidade de mais de 16 milhões de habitantes não pára mesmo. Nem mesmo depois de uma tragédia como a do último dia 11. Talvez por causa do próprio tamanho e inércia dessa metrópole que se estica de norte a sul por mais de 60 quilômetros. Ou talvez porque, infelizmente, Mumbai tem aprendido, ao longo dos anos, a conviver com a triste rotina de ameaças e bombas, tensão e mortes.
Basta lembrar alguns fatos. Em março de 1993, bombas explodiram em 13 lugares diferentes da cidade matando 257 e ferindo 713 pessoas. Em dezembro de 2002, uma bomba explodiu dentro de um ônibus e matou duas pessoas; no mesmo mês, 25 pessoas foram feridas pela explosão de uma bomba colocada na praça de alimentação da estação ferroviária central. Em março de 2003, 11 pessoas morreram e 65 foram feridas por uma explosão na estação de Malund; e, em agosto do mesmo ano, duas bombas mataram 46 pessoas e feriram outras 160 no Gateway of India, ponto turístico da cidade, e no Zaveri Bazar, um mercado popular.
Sobreviventes
Jude Vokar, proprietário de uma pequena empresa, conta que no último dia 11 voltava para casa, como todos os dias, na companhia de cerca de 20 colegas, quando uma bomba explodiu dentro do vagão em que ele viajavam. Jude, desacordado, foi socorrido por algum bom samaritano desconhecido e acordou no hospital uma hora depois da explosão. Os outros 20 companheiros de viagem morreram.
Kamlesh Rajbhar, 20 anos, estava na plataforma da estação Matunga Road quando uma das bombas explodiu um dos vagões de um de um trem que passava naquele momento pelo local. A força do impacto fez com que um pedaço de ferro fosse arremessado contra as pernas de Kamlesh, que tiveram que ser amputadas.
Investigações
Minutos após o ataque, a polícia começou a buscar alguma pista para chegar aos responsáveis. Testemunhas oculares têm fornecido informações para a elaboração do retrato falado de possíveis autores do atentado. A operação pente-fino já resultou na prisão de mais de 300 pessoas para interrogatório.
Sem que nenhum grupo tenha reivindicado, até agora, a autoria do atentado, suspeita-se do envolvimento de grupos terroristas estabelecidos no Paquistão, como o Lashkar-e-Tayyaba, muito ativo na região da Caxemira. O grupo, porém, nega qualquer participação no ataque.
Em visita a Mumbai, na sexta-feira, o premier indiano, Manmohan Singh, afirmou que "os terroristas foram apoiados por elementos do outro lado da fronteira", sem mencionar o nome de nenhum país. O Paquistão, por outro lado, tem negado qualquer envolvimento no ato terrorista e tem até oferecido ajuda nos trabalhos de investigação. Teme-se que o atentado possa prejudicar ou interromper o tão esperado processo de aproximação entre a Índia e o Paquistão que, nos últimos meses, tinha avançado consideravelmente.
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