O número de refugiados fugindo de conflitos atingiu 1% da população mundial, o maior nível na história moderna, de acordo com um relatório que mostra que o mundo está menos pacífico do que em qualquer outro momento nos últimos dez anos. Segundo Steve Killelea, do Institute of Economics & Peace:
“O crescente aumento de refugiados, terrorismo e intensas tensões políticas estão por trás da deterioração na paz mundial.
Havia 65,6 milhões de refugiados no final de 2016. Mais de 55% são da Síria, Afeganistão e Sudão do Sul, de acordo com o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur). Apesar de a maioria dos refugiados estar em países vizinhos, o fluxo de pessoas fugindo de conflitos e da pobreza da África e no Oriente Médio em direção à Europa tem fortalecido os partidos nacionalistas no continente.
Aumento é o maior da história
O aumento - de 2,9 milhões de pessoas em relação ao ano anterior - foi o maior registrado na história, e deve-se principalmente à limpeza étnica da minoria rohingya em Mianmar, que levou 655,5 mil a se refugiarem em Bangladesh, e a conflitos no Sudão do Sul e na República Democrática do Congo, que resultaram em centenas de milhares de refugiados e deslocados internos (dentro do próprio país).
"Isso acontece por causa de conflitos que perduram, pressão sobre civis vivendo em países em guerra, e crises novas ou que se agravaram como os rohyngia (de Mianmar), venezuelanos e a República Democrática do Congo", disse o alto comissário da ONU para refugiados, Filippo Grandi.
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O maior contingente de deslocados continua a ser de sírios: 12,6 milhões no fim de 2017, sendo 6,3 milhões de refugiados, 146,7 mil aguardando processo de refúgio e 6,2 milhões deslocados internos. Afeganistão (2,6 milhões), Sudão do Sul (2,4 milhões), Mianmar (1,2 milhão) e Somália (986.400) vêm a seguir.
O Acnur passou a contabilizar crianças e menores desacompanhados,e relata que 45.500 entraram com pedido de refúgio em 2017, embora o órgão afirme que o número está muito provavelmente subestimado.
Crianças separadas dos pais e familiares, por causa de conflitos, deslocamentos forçados ou desastres naturais, são particularmente mais vulneráveis a abusos. Os dados relacionados a crianças desacompanhadas são limitados, pois nem todos os países registram esses números.
Quem mais recebe são os países em desenvolvimento
Apesar das constantes reclamações de países ricos sobre o custo de receber imigrantes, são países em desenvolvimento que recebem 85% dos refugiados. A Turquia, por exemplo, é lar para 3,5 milhões deles, a grande maioria formada por sírios que fogem da guerra iniciada em 2011, que já matou mais de 500 mil. Entre os países ricos, só a Alemanha está entre os dez países que mais recebem refugiados.
O Líbano, por exemplo, foi o que recebeu o maior número de refugiados em relação à população nacional (1 em cada 6 pessoas era refugiada). A Jordânia (1 em 14) e a Turquia (1 em 23) ficaram em segundo e terceiro lugar, respectivamente.
"Países pobres ou de renda média recebem 85% desses 68 milhões, um fato muito significativo para derrubar essa ideia de que a crise dos refugiados é do mundo rico, não é , é uma crise do mundo pobre", disse Grandi.
Venezuela
Nos últimos anos, a situação política e econômica na Venezuela levou mais de 1,5 milhão de venezuelanos a se deslocarem para os países vizinhos. Entre os principais destinos estavam o Brasil, a Colômbia, Costa Rica, o México, Peru, a Espanha e os Estados Unidos. Segundo os fornecidos pelos governos desses países, mais de 111 mil venezuelanos apresentaram novos pedidos de asilo em 2017. O Peru registrou mais pedidos (33,1 mil), seguido pelos Estados Unidos (30 mil), o Brasil (17,9 mil), a Espanha (10,6 mil), o Panamá (4,4 mil), México (4 mil) e a Costa Rica (3,2 mil).
A situação no Brasil
Em um ano, mais que dobrou o número de estrangeiros que têm ou buscam refúgio ou proteção no Brasil, segundo o Acnur Somando-se os refugiados reconhecidos no Brasil, que são 10.264, mais aqueles que entraram com pedido de refúgio e aguardam decisão (85.746) e estrangeiros que receberam algum outro tipo de proteção (no caso do Brasil, permissão temporária de residência), o número chegou a 148.645 em 2017, uma alta de 118% em relação ao ano anterior. O aumento é um reflexo do êxodo maciço de venezuelanos por causa da crise econômica e humanitária que tomou conta do país nos últimos anos e levou 1,5 milhão de pessoas a deixarem o país.