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Muro de Trump representa uma nova geopolítica?

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(Foto: DAVID MCNEW/AFP)

O presidente Trump tomou medidas nesta última quarta-feira, que ele chamou de “um grande dia para a segurança nacional”, para controlar a imigração e endurecer as fronteiras dos EUA – notavelmente ao dar ordens para a construção imediata de um muro, a promessa que foi a marca registrada da sua campanha.

Essas ordens executivas começaram a levar o slogan “a América em primeiro lugar” da sua campanha para o cimento e o tijolo da realidade.

Ao fazer isso, Trump demonstrou suas intenções de levar a cabo a ideia de que muros mais altos e fronteiras mais fortes – no lugar de um engajamento global – seriam as melhores medidas para a segurança nacional. Sua decisão no começo da semana de retirar formalmente os Estados Unidos da Parceria Transpacífico, que conta com 12 nações, foi outra prova de sua visão geral sobre o tema.

Isso tudo marca uma inversão fundamental à abordagem à segurança nacional que vem definindo os EUA na era pós-Segunda Guerra. De fato, a liderança global dos EUA e sua interconexão não eram nenhum tipo de gesto de altruísmo, segundo os especialistas, mas sim um elemento essencial da estratégia dos EUA para manter sua segurança. Agora que Trump se retirou dessa rede de interdependência, restará ao país o teste para ver como a segurança global – bem como os próprios EUA – encontrará uma nova base para se firmar.

“Essa é uma mudança bastante profunda”, diz Ryan Crocker, ex-embaixador dos EUA no Iraque e no Afeganistão. As ordens quanto à imigração assinadas na quarta-feira, junto das ordens executivas adicionais que deverão ser assinadas mais tarde nesta semana, “sublinharão uma transição bastante evidenciada em nossa abordagem à segurança nacional”.

Trump assinou ainda ordens para interromper temporariamente o restabelecimento de refugiados e fechar a porta para refugiados da Síria e de outra meia dúzia de países. Os países contemplados para essa proibição temporária são todos de maioria muçulmana. A proibição não teria como base a religião dos imigrantes, mas o risco de segurança representado pela presença de terroristas islâmicos nesses locais.

Proibir a vinda de refugiados dos sete países sob consideração – Iraque, Irã, Líbia, Somália, Sudão, Síria e Iêmen – constituiria pelo menos uma realização parcial das promessas de Trump de impedir a entrada de muçulmanos nos EUA.

Por um lado, o gesto eliminaria a chance de um terrorista desses países entrar oficialmente nos EUA como refugiado. Por outro lado, ele valida as narrativas dos próprios terroristas sobre os EUA.

O embaixador Crocker era parte de um grupo bipartidário de diplomatas e assessores de segurança que recomendou ao ex-presidente Obama que não cortasse o número de refugiados sírios permitidos no país. O grupo argumentou que recusar refugiados muçulmanos transmitiria uma mensagem de que o Ocidente é anti-Islã.

As ordens assinadas por Trump para restringir a vinda de muçulmanos, diz ele, “confirmarão ao mundo que somos anti-Islã”. “Quando decidirmos confrontar os 1,6 bilhões de muçulmanos do mundo, isso me diz que não estaremos mais no papel de liderança, vivendo segundo os valores que nos deram nossa preeminência desde a Segunda Guerra Mundial”, ele comenta. “Com esse tipo de ações sendo tomadas, que cortam laços e alienam regiões inteiras do mundo, você na verdade acaba aumentando, não diminuindo, as ameaças contra a segurança nacional”.

Na cerimônia de assinatura da quarta-feira, Trump assumiu uma opinião decididamente contrária, cercando-se dos familiares de vítimas de atos de violência cometidos por imigrantes ilegais no país. “Seus filhos não terão perdido a vida à toa”, Trump lhes disse.

Desde que Trump, ainda candidato, declarou em junho de 2015 que a frouxidão nas fronteiras estava permitindo a entrada de “estupradores” mexicanos e outros criminosos, surgiu a ideia do muro como a pedra de toque da sua campanha. Ele simbolizava um desejo de manter longe não apenas os traficantes e assassinos, mas ameaças mais amplas como a globalização e o Islã radical. Especialistas regionais contrariam a ideia de que a estratégia de isolamento é o melhor caminho para a paz e a prosperidade nos EUA.

“Sim, queremos fronteiras mais seguras, mas também aprendemos, após algumas décadas do NAFTA, que ficamos melhores, mais seguros e mais saudáveis economicamente se o México estiver bem também”, diz Luis Ribera, diretor do Center for North American Studies da Texas A&M University, em College Station. “Se houver mais empregos no México, haverá menos gente tentando cruzar a fronteira”.

O comércio agrícola, que é apenas uma fração da relação comercial complexa entre os EUA e o México, quadruplicou desde que o NAFTA entrou em vigor em 1994.

Construir um muro agora não significará começar a construção do zero. Dos quase 3.600 quilômetros de fronteira entre os dois países, quase 1.100 quilômetros já contam com grades ou muros – especialmente em áreas urbanas e pontos de travessia tradicionais.

Projetos anteriores de construção de muros causaram furor entre produtores agrícolas que não queriam um muro no meio de suas terras dividindo sua propriedade. Mas o professor Ribera diz que os ânimos agora estão diferentes, em parte porque Trump colocou a ideia do muro no contexto da sua campanha de “a América em primeiro lugar”.

“Para haver boas relações, inclusive comerciais, entre os dois países é preciso haver complementaridade – é preciso coordenação e colaboração, mas não é essa a mensagem que estamos ouvindo do presidente Trump no momento”, disse Ribera.

Ele diz que observou um “esfriamento” nas relações comerciais e planos de investimento nos últimos meses. “É certo que é o muro que está esfriando as relações”.

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