O primeiro presidente do Egito escolhido em eleições livres, Mohammed Mursi, vai a julgamento hoje, após operações das forças de segurança terem esfacelado o grupo que o apoia, a Irmandade Muçulmana, e levantado o temor de que o atual governo, apoiado pelos militares, estaria reeditando o Estado autoritário.
Com a revolta popular que derrubou Hosni Mubarak em 2011, a esperança era que o egípcios acabariam com a influência dos militares no governo.
No entanto, os percalços da transição no país mais populoso do mundo árabe trouxeram os generais de volta ao poder, para a surpresa dos aliados ocidentais do Egito.
Mursi, derrubado pelo Exército em 3 de julho, após protestos de rua contra o seu governo, deve comparecer ao tribunal com 14 outras lideranças da Irmandade Muçulmana, sob a acusação de incitar a violência.
Eles podem ser condenados à prisão perpétua ou à pena de morte se considerados culpados, o que aumentaria ainda mais a tensão entre os integrantes da Irmandade e o governo, e aprofundaria a instabilidade política que tem prejudicado o turismo e o investimento num país onde um quarto das pessoas está abaixo da linha de pobreza.
Quando os militares derrubaram Mursi, foi prometido um plano para conduzir o país a novas eleições livres. Contudo, o que se viu foi um dos mais duros esquemas de repressão já montados contra a Irmandade, que, por sua vez, recusou o convite para participar do governo interino e exige a volta de Mursi ao poder.
Em agosto, a polícia de choque, com apoio de atiradores do Exército, acabou com os protestos de rua que defendiam a o retorno do presidente deposto.
Autoridades do governo atual acusam a Irmandade de estimular a violência e o terrorismo. Centenas de integrantes do movimento foram mortos e muitos dos seus líderes, presos. A Irmandade nega ligações com atividades violentas.
O local em que Mursi está preso não foi revelado. O julgamento deve acontecer num instituto policial perto de uma prisão no Cairo.
As acusações de incitar a violência estão relacionadas com a morte de dezenas de pessoas em confrontos do lado de fora do palácio presidencial em dezembro, depois que Mursi irritou os adversários com um decreto que aumentava os seus poderes.