Estátua do filósofo ucraniano Hryhoriy Skovoroda em pé no danificado Museu Memorial Literário Hryhoriy Skovoroda após bombardeio na vila de Skovorodynivka perto de Kharkiv, Ucrânia, 07 de maio de 2022.| Foto: EFE/EPA/SERGEY KOZLOV
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Na região de Kharkiv, o museu literário Hryhorii Skovoroda se transformou quase totalmente em cinzas. O espaço tinha sido batizado em homenagem ao poeta e filósofo considerado um dos ícones da cultura ucraniana. Outro museu foi incendiado, na cidade de Ivankiv, perto de Kiev, destruindo obras de uma das principais artistas do folclore ucraniano, Maria Prymachenko.

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Esses são apenas alguns exemplos do ataque bárbaro à história e à herança cultural dos ucranianos. O Ministério da Cultura do país notificou cerca de 400 crimes de guerra por parte dos russos contra o patrimônio da Ucrânia. Nos mais de seis meses de conflito, cerca de 30 museus foram derrubados, incendiados ou danificados, além de 70 teatros e bibliotecas e mais de 130 igrejas.

Os números mostram que a cultura não é apenas uma das vítimas acidentais da guerra, e sim um dos alvos principais dos russos.

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O professor da Universidade de Kharkiv, Oleksander Zinenko, lamenta as perdas. “Apagando nossa história, a Rússia cria a própria versão dela sobre a história, onde não existe espaço para a herança ucraniana”, desabafa o professor ao jornal El País.

Mobilização em Kiev 

Na tentativa de proteger parte das obras artísticas do país, o diretor do Museu Maidan, na capital ucraniana, Ihor Poshyvailo, fundou a Iniciativa de Respostas a Emergências do Patrimônio (HERI, na sigla em inglês).

Além de ajudar a população a embalar e esconder os itens de arte, o grupo organiza centenas de obras, documenta os desgastes, escaneia os objetos e os prédios que foram atingidos por mísseis.

Através de aparelhos de escâner que reproduzem imagens em alta resolução, os voluntários já detectaram, entre outros, uma igreja aos pedaços em Tchernihiv e a destruição de um quartel histórico em Kharkiv.

Em entrevista ao jornal Le Figaro, Poshyvailo ressaltou que o tráfico de obras aumentou desde o início da guerra, especialmente as grandes coleções artísticas e o material de sítios arqueológicos. “Nós criamos uma lista vermelha para orientar os guardas das fronteiras, as lojas de arte e a Interpol”, contou.

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Ataque direto à cultura ucraniana 

“Nossa identidade cultural nos diferencia dos russos. Nós somos muito diferentes. Vladimir Putin claramente lançou uma guerra contra nossa herança cultural”, desabafou Poshyvailo.

Segundo noticiou o New York Times, entre as obras artísticas, os russos roubaram artefatos de ouro de um museu em Melitopol, que fazem parte da memória do século IV. Conforme declarou o prefeito da cidade, Ivan Fyodorov, tratava-se de um dos acervos mais valiosos do país.

Em uma discussão no Youtube sobre a preservação do patrimônio cultural ucraniano, a diretora-geral da agência cultural Mystetskyi Arsenal, Olesia Ostrovska-Liuta, destacou que os russos atacam a história do país vizinho de três formas: com a destruição de artefatos, com a reatribuição deles – dizendo que são russos – e através da apreensão ilegal de objetos ucranianos pelas forças militares russas.

“Essa guerra dos russos na Ucrânia está intimamente ligada à cultura”, alertou Olesia. Para ela, somente o fim do conflito pode evitar perdas irreparáveis à história do país.

Ajuda internacional 

Nem só de esforços internos depende a Ucrânia para recuperar e proteger sua cultura. Na segunda-feira (04), o presidente do país, Volodymyr Zelensky, declarou que “a reconstrução da Ucrânia é tarefa de todo o mundo democrático”.

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O vídeo foi enviado pelo presidente aos representantes de instituições internacionais e ao setor privado de diversos países que se encontraram em Lugano, na Suíça, entre terça e quarta-feira desta semana.

O primeiro-ministro ucraniano, Denys Chmygal, esteve presente no evento e anunciou que tanto uma “reforma” quanto uma “reconstrução” do país serão necessárias, citando a frequente orientação dos europeus de combater a corrupção na Ucrânia e outros problemas preexistentes.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, por sua vez, depois de declarar “Glória à Ucrânia”, reforçou o compromisso de contribuir para a “reconstrução de um país melhor do que o que existia antes da guerra”.

Reestruturação bilionária está longe de acontecer 

O compromisso, no entanto, deverá pesar no bolso do Ocidente, diante da crise econômica. Segundo o primeiro-ministro ucraniano, somente a reconstrução da infraestrutura destruída deverá custar 750 bilhões de dólares (mais de 4 trilhões de reais).

Para começar, o Banco europeu de investimentos (BEI) deverá emprestar aos ucranianos um montante de 100 bilhões de euros (mais de 552 bilhões de reais).

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Segundo o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, existe também uma movimentação envolvendo diversas organizações europeias e internacionais, além do setor privado, para a coleta de doações ao país.

O montante é organizado e distribuído através de uma plataforma. “A Ucrânia estará no comando, porque nossas ações serão guiadas pelos desejos do povo ucraniano”, explicou Michel em entrevista coletiva.

Os Estados Unidos também anunciaram uma contribuição específica para a recuperação da herança cultural ucraniana. “Quando o presidente americano, Joe Biden, e o secretário de Estado, Antony Blinken, declararam seu apoio à Ucrânia, não se tratava apenas de armas e munições, mas também da preservação de locais culturais e patrimoniais sob ataque do presidente Putin”, anunciou Lee Satterfield, secretária de Estado adjunto do Gabinete de Assuntos Culturais dos EUA, em entrevista coletiva.

Uma recuperação arquitetônica e cultural em grande escala, no entanto, não tem data para começar. Enquanto houver guerra, há risco das antigas e novas construções serem destruídas.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]
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