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Na Disney, O Império Woke Contra-Ataca

Robert Iger em premiação em 2014, no seu primeiro período como CEO da Disney: executivo de posições progressistas teve seu retorno anunciado no domingo (20) (Foto: EFE/Miguel Rajmil)

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Na noite do último domingo (20), o conselho de administração da Walt Disney Company chocou o mundo ao anunciar a demissão do CEO da empresa, Bob Chapek, e sua substituição por seu antecessor de longo histórico na empresa, Robert Iger. A medida foi tão inesperada que o Wall Street Journal reportou que “os funcionários da Disney disseram que ficaram perplexos com o e-mail enviado por Iger no domingo e imediatamente começaram a especular se a mensagem era real ou se havia partido de uma conta de e-mail hackeada”.

O mesmo conselho de administração havia votado pela renovação do contrato de Chapek como CEO até 2024 em junho passado! Susan Arnold, presidente do conselho, disse à época:

“A Disney sofreu com a pandemia, mas com Bob no comando, nossos negócios – de parques temáticos a serviços de streaming – não apenas resistiram à tempestade, mas emergiram em uma posição de força [...]. Bob é o líder certo no momento certo para a Walt Disney Company, e o conselho tem total confiança nele e na sua equipe de líderes”.

Ao que parece, é possível passar da posição de “líder certo no momento certo” para a de líder errado no momento errado em apenas cinco meses.

O que fez o conselho da Disney de uma hora para a outra perder a confiança em Chapek? Numa primeira análise, seria uma decisão impulsionada principalmente pela queda nas margens de lucro da empresa. Na edição impressa do Journal, a reportagem sobre a mudança na Disney incluiu uma informação de arregalar os olhos: “Desde que o Disney+ foi lançado, há três anos, o serviço apresentou prejuízo de mais de US$ 8 bilhões à medida em que se expandia rapidamente. No trimestre encerrado em 1º de outubro, o Disney+ teve um acréscimo de 12,1 milhões de novos usuários, elevando seu total global para 164,2 milhões de assinantes”. Na versão online, a informação: “No trimestre mais recente, porém, [o serviço] teve um prejuízo de US$ 1,47 bilhão, mais que o dobro do registrado no ano anterior”.

A taxa de assinatura do Disney+ (ao menos nos Estados Unidos) é de US$ 7,99 por mês, ou de US$ 79,99 por ano (considerando o desconto para pagamento antecipado), mas no mês que vem, o serviço passará a ter anúncios. Para quem quiser a versão premium, sem anúncios, o custo será de US$ 10,99 por mês ou de US$ 109,99 por ano. Isso representa cerca de US$ 1,3 bilhão em receita de assinaturas por mês, que está prestes a aumentar para cerca de US$ 1,8 bilhão por mês... e ainda assim o Disney+ acumulou prejuízo de quase US$ 1,5 bilhão em três meses? A impressão que fica é que a empresa anda filmando as cenas das séries da franquia Star Wars no espaço.

É fácil de entender por que as empresas acreditaram que o streaming seria uma maneira muito mais estável e lucrativa de oferecer entretenimento ao público. Quando a Disney produz um filme, a empresa só fica com o seu dinheiro se você sair do sofá para ir ao cinema, ao menos quando o lançamento está disponível apenas nesse meio. Se a Disney lançá-lo diretamente na televisão, essa arrecadação dependerá de quanto os anunciantes estarão dispostos a pagar para colocar sua propaganda nesse filme. Mas com um serviço por assinatura, a Disney leva o seu dinheiro o ano todo se você for assinante, independentemente se você utilizar muito ou pouco o serviço de streaming.

Portanto, não foram apenas essas questões que podem ter estimulado o conselho da Disney a substituir Chapek... mas a percepção de que Chapek não estava totalmente comprometido com uma agenda política progressista provavelmente lhe rendeu inimigos dentro da empresa e pode ter feito muitas pessoas não se inclinarem a defendê-lo.

Em março, quando o Legislativo da Flórida debatia o projeto de lei sobre direitos dos pais na educação – a legislação que os democratas insistem em chamar de “Não diga gay” –, Iger, então ex-CEO da Disney, se opôs ruidosamente à matéria, e a percepção era de que Chapek não queria que a empresa se envolvesse nessa disputa. Como informou o Hollywood Reporter à época:

“Chapek está concentrado em deixar sua marca na cultura da empresa e está claramente menos disposto a entrar em discussões políticas do que Iger. Por exemplo, uma fonte bem informada sobre o assunto disse que Chapek se recusou a exercer pressão em questões sobre direito de votar.

Chapek é discreto sobre suas opiniões políticas, mas acredita-se que ele seja muito mais conservador do que Iger, que foi filiado ao Partido Democrata antes de se tornar independente, em 2016. ‘Chapek se opõe firmemente a colocar a Disney para debater questões que considera irrelevantes para a empresa e seus negócios’, informou a fonte”.

Não demorou muito para que funcionários gays e lésbicas da Disney reclamassem que a direção da empresa estava deixando-os de lado ao não tentar usar sua influência para derrubar o projeto de lei. Chapek demorou para se manifestar contra a proposta, e os resultados não foram nada bons para ele, conforme Phil Klein, da National Review, relatou à época:

“Para quem não estava acompanhando, o CEO da Disney, Bob Chapek, se manifestou publicamente ao ligar para [o governador da Flórida, Ron] DeSantis para contestar o projeto de lei dos direitos dos pais na educação, que foi desonestamente rotulado pelos democratas e pela imprensa que concorda com eles como o projeto de lei ‘Não diga gay’. Alguns sugeriram que essa pressão colocou DeSantis em uma situação complicada, visto que a Disney é uma das empresas mais poderosas e uma das principais empregadoras do estado. Mas o governador não apenas mandou a Disney passear, como se manifestou publicamente sobre isso [...]. Além de divulgar uma declaração, um vídeo vazado para a Fox News mostrou DeSantis criticando a Disney e ‘corporações woke’. Em seguida, DeSantis divulgou um anúncio de campanha que destacava esse vídeo, inclusive o trecho em que ele – acertadamente – critica os negócios da Disney na China”.

Chapek não conseguiu acalmar grande parte dos funcionários da Disney e tornou sua empresa um alvo ainda maior de críticas dos republicanos. (A desavença levou a Newsweek a retratar a Disney, com seus US$ 203 bilhões em ativos, como um azarão encurralado, prestes a ser esmagado pelo grande e malvado Partido Republicano.)

No final de outubro, Chapek participou de um podcast do Wall Street Journal e lhe foi perguntado diretamente se a empresa não estava se tornando “excessivamente woke”. A resposta de Chapek foi uma obra-prima sobre como evitar qualquer declaração política direta:

“O mundo é um lugar rico e diversificado e queremos que nosso conteúdo reflita isso. Somos muito abençoados por termos os melhores criadores de conteúdo e eles têm a mesma visão. Mas acredito que isso é bom do ponto de vista comercial também, porque você acaba atraindo o maior público possível. Certamente estamos vivendo em um mundo onde tudo parece estar polarizado, mas queremos que a Disney defenda a união entre as pessoas e acredito que fazemos isso por meio de histórias e personagens diversificados”.

Por sua vez, Iger fez parte de um painel consultivo sobre negócios da administração Donald Trump durante um breve período, mas saiu quando o então presidente retirou os Estados Unidos dos acordos climáticos de Paris. Ele também entrou em confronto repetidamente com o ex-presidente e exerceu muita pressão em questões sobre imigração, controle de armas e outros temas.

No início do mês, a CNBC informou que Chapek estava mantendo contato com republicanos da Câmara dos Representantes, para tentar aparar arestas:

“O CEO da Disney, Bob Chapek, tem conversado por telefone com líderes republicanos da Câmara, incluindo o líder da minoria Steve Scalise (republicano da Luisiana), de acordo com fontes ouvidas pela reportagem. Scalise é candidato a se tornar líder da maioria na Câmara se os republicanos assumirem o controle da casa, o que o tornaria o número 2 no partido majoritário”.

Chapek parecia querer despolitizar a Disney, ou pelo menos evitar que a empresa abraçasse totalmente todas as controvérsias políticas que surgissem. Os conservadores adoram o slogan “Quem lacra não lucra”. Mas Chapek queria que a Disney fosse menos woke, e seus esforços não melhoraram os resultados da empresa.

O conselho de administração da Disney conhece as posições políticas cada vez mais manifestas de Iger e concluiu que elas causariam menos danos do que continuar com a abordagem menos polêmica de Chapek. Então, mais uma vez, pode ser que tenha sido o caso de “premiar” quem era mais woke. O conselho administrativo pode ter considerado que Iger tem mais chances de agradar os funcionários progressistas da Disney e de mitigar um problema em potencial que a abordagem mais neutra de Chapek exacerbaria.

*Jim Geraghty é correspondente político sênior da National Review.

© 2022 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês.

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