O aumento de casos de contágio pelo novo coronavírus em toda a Europa encerrou um declínio que já durava seis semanas no continente, informou nesta quinta (4) a Organização Mundial da Saúde (OMS). Segundo a entidade, os números refletem uma tendência global mais ampla de alta nas infecções, como ocorreu no Brasil ao longo dos últimos dias, com recordes consecutivos no número de mortes e hospitais à beira do colapso.
Os novos registros no continente europeu cresceram 9% na semana passada, informou o diretor regional da OMS para a Europa, Hans Kluge. Na terça, a OMS afirmou que a alta também rompeu seis semanas de recuo na região das Américas, no Sudeste Asiático e no Leste do Mediterrâneo. O diretor disse que os governos também precisam investir mais no sequenciamento que possa identificar variantes do coronavírus e melhorar seus sistemas de teste, rastreamento e quarentena. A variante do coronavírus inicialmente identificada no Reino Unido foi relatada em 43 dos 53 países da região europeia, enquanto a variante da África do Sul foi encontrada em 26. A variante identificada no Brasil e no Japão foi descoberta em 15 países europeus.
"Estamos vendo um ressurgimento na Europa Central e Oriental. Há também um aumento de novos casos em vários países da Europa Ocidental, onde as taxas já eram altas", disse Kluge. "A pressão contínua sobre hospitais e profissionais de saúde está sendo recebida com atos de solidariedade médica entre os vizinhos, mas após um ano de pandemia, nossos sistemas de saúde não deveriam estar nesta situação."
A Europa registrou 863.705 mortos e mais de 38 milhões de infecções, segundo dados compilados pela France Presse.
Para Kluge, os europeus precisam "voltar ao básico" e usar a quarentena para combater o contágio nas taxas de infecção que surgiu em metade da região na última semana. Ele disse também que levará ainda algum tempo para a vacinação surtir efeito.
Vacinação
Quarenta e cinco países do continente já começaram suas campanhas de vacinação, mas o nível de cobertura permanece baixo mesmo entre os 27 Estados-membros da União Europeia, onde apenas 7% da população recebeu uma dose.
Alemanha e França, os dois países mais populosos da Europa, enfrentam dificuldades em seu cronograma de vacinação. Juntos, ambos têm 148 milhões de habitantes e vacinaram cerca de 8% de suas populações. Os atrasos na entrega das vacinas contra a Covid-19, organizada pela Comissão Europeia, têm sido criticados por muitos dos países-membros da UE.
A campanha de vacinação está mais lenta do que o esperado e, até agora, o bloco europeu autorizou apenas o uso de imunizantes de Pfizer/BioNTech e AstraZeneca/Oxford.
A Agência Europeia de Medicamentos começou a avaliar a vacina Sputnik V e as autoridades russas se comprometeram a fornecer vacinas a 50 milhões de europeus a partir de junho se seu imunizante for aprovado.
Foco
O Leste Europeu é uma das regiões mais afetadas pelo aumento de contágios. Entre os países com as maiores altas nos últimos 14 dias, segundo a OMS, estão Bósnia, Estônia, Hungria, Polônia e Sérvia. Um ano após seu primeiro caso confirmado, a Hungria registrou 6.278 novas infecções e 152 mortes, o pior dia em três meses.
Autoridades húngaras endureceram ontem as restrições para tentar desacelerar as mortes e hospitalizações. Empresas serão obrigadas a fechar suas portas por duas semanas a partir de segunda-feira. Apenas mercearias, farmácias e postos de gasolina permanecerão abertos. Jardins de infância e escolas primárias também estarão fechados até 7 de abril.
Na República Checa, novas infecções causadas por uma variante mais contagiosa sobrecarregaram os hospitais e colocaram o país sob novas medidas de confinamento. Diante da pressão, o presidente Milos Zeman, conhecido por sua visão pró-Rússia e pró-China, pediu aos dois países que enviassem vacinas ao país. O primeiro-ministro, Andrej Babis, diz que elas seriam aplicadas de forma voluntária, mas a oposição parlamentar rejeita o uso de vacinas não registradas na União Europeia.
Na Europa Ocidental, países como Áustria, Grécia, Itália e Holanda também viram elevação nos casos, de acordo com a OMS. As nações onde houve redução nas últimas duas semanas foram Irlanda Mônaco, Montenegro, Espanha e Portugal. A UE continua enfatizando que os países não podem apenas depender de seus programas de vacinação e abandonar medidas básicas de saúde pública e distanciamento social.
Em meio a uma vacinação lenta e o avanço nos casos, autoridades do programa de imunização da UE minimizam os problemas e estimam que toda a população de 444 milhões será vacinada até outubro. "Tenho grande confiança na capacidade da Europa de fornecer vacinas mais rapidamente e acredito que até o final do verão (setembro) todos os cidadãos europeus estarão vacinados", disse Thierry Breton, comissário responsável pela produção de vacinas no bloco. Ele estimou que até o fim do ano o continente poderá produzir de 2 a 3 bilhões de vacinas anualmente.