Fotini Katsigianni usa um chapéu branco que se destaca no topo de sua cabeça. Ela é a enfermeira chefe do Hospital Evangelismos, um dos mais importantes da capital.
E ficou muito surpresa quando, no mês passado, foi abordada por um homem em um dos corredores da instituição. Na época, seu marido estava internado ali. O estranho lhe entregou um cartão e virou o rosto para que ela não pudesse identificá-lo. E lhe ofereceu uma enfermeira a um preço reduzido.
"Ele disse que, por trinta euros, eu poderia ter o que quisesse!", ri Fotini da ideia de tentarem vender os serviços de uma profissional ilegal a uma enfermeira chefe. Primeiro, os homens apareciam nos hospitais da Grécia durante o horário de visita e deixavam o cartão de visita; aí as mulheres chegaram à noite, geralmente vindas de países como Geórgia, Romênia e Bulgária as enfermeiras que não são enfermeiras de verdade.
Com a situação calamitosa das finanças, a Grécia praticamente implodiu seu sistema de saúde pública. A cobertura universal acabou sob as medidas de austeridade impostas pelos termos do resgate do país.
Os cortes de orçamento também reduziram o número de enfermeiras disponíveis nos hospitais. Embora há tempos a opção da profissional particular faça parte do sistema de saúde grego, a crise econômica deixou muitos pacientes sem condições financeiras ou cobertura de plano para contratá-la.
Em vez disso, a procura é pelas enfermeiras ilegais, geralmente imigrantes com pouco ou nenhum treinamento. Segundo um membro do alto escalão do governo, metade da mão de obra do setor é fornecida por esses meios, e o número pode chegar a 18 mil.
A frustração entre os gregos em relação à deterioração do padrão de vida ajudou a impulsionar o partido esquerdista Syriza, que subiu ao poder em janeiro prometendo rejeitar a política de austeridade.
As enfermeiras ilegais geralmente fingem ser da família ou empregada de longa data do paciente, mas, na verdade, as agências que as empregam é que mandam os homens aos hospitais para distribuir cartões oferecendo doze horas de trabalho por menos de US$60. Só para comparar, uma contratada de outro hospital, o Sotiria, custa quase US$70 por 6 horas e 40 minutos, embora aqueles que tenham plano de saúde recebem o reembolso de um terço desse valor.
E isso é só o começo. Quase tudo pode ser alugado. "O mesmo vale para aparelhos de TV, ambulâncias, leitos", comenta Anastasios Grigoropoulos, do Evangelismos. Estranhos chegam carregando cadeiras para alugá-las aos parentes em visita.
A administração diz que lhe falta jurisdição legal para agir sem intervenção policial. "Por causa da crise, nos últimos três anos só cresceu o número de enfermeiras ilegais. Não podemos fazer nada", lamenta Grigoropoulos.
Alguns dias antes, o Evangelismos tinha passado por uma batida. Várias profissionais ilegais foram detidas, mas esse é um evento raro porque a polícia também sofreu muitos cortes. Todas as agências públicas estão no limite. A onda de imigrantes que começou a chegar nos anos 90, criou uma rede de mão de obra barata.
"Elas são usadas no preenchimento das vagas, ou seja, estão em todas as clínicas e hospitais", conta Dimitrios Papachristou, do Instituto de Segurança Social, agência estatal que fornece seguro e pensão para 2,2 milhões de trabalhadores gregos.
Porém, algumas enfermeiras categorizadas que estão tendo problema para encontrar emprego são imigrantes como Eleni Souli, albanesa de 41anos que se casou com um grego e recentemente teve que disputar uma vaga com outras oito candidatas. Todas estudaram de dois a quatro anos para obter o diploma e demonstraram sua frustração. "Elas não são enfermeiras", reclamou Eleni, referindo-se às ilegais.
O Dr. Miltiadis Papastamatiou, diretor do Hospital Sotiria, explica que as enfermeiras que se aposentam raramente são substituídas e a consequência é que nem as necessidades dos pacientes, nem a do quadro de funcionários são atendidas, embora tentem minimizar o problema no Sotiria.
Uma funcionária de lá, porém, que se manteve anônima por medo de perder o emprego, reconhece a gravidade do caso. "Nós sabemos o que está acontecendo. Todo mundo sabe", resume, dando de ombros.
Contribuiu Aggelos Petropoulos