O ditador venezuelano, Nicolás Maduro, 56, tomou posse nesta quinta-feira (10) para um segundo mandato, desta vez até 2025. Ele venceu eleições consideradas fraudulentas pela oposição e por grande parte da opinião pública internacional. A abstenção foi de mais de 54% dos eleitores.
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A Venezuela está em meio a uma grave crise econômica e humanitária, com mais de 3 milhões de habitantes tendo deixado o país devido a falta de alimentos e remédios.
Em seu discurso, Maduro afirmou há uma tentativa internacional de "principiar um processo de desestabilização". Disse que o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, é "um fascista", contaminado pela direita venezuelana, que vem impulsando a "direita de toda a região".
Prometeu que levará adiante "as rédeas da pátria, respeitando a democracia", e fez homenagens ao libertador Simón Bolívar (mostrando a chave de seu sarcófago, pendurada em seu peito junto com a faixa presidencial) e a seu antecessor, Hugo Chávez (1954-2013). "Chávez e eu temos a mesma força", disse.
Eleições contestadas
O ditador chavista defendeu as contestadas eleições regionais (governadores, prefeitos) e a própria eleição presidencial, dizendo que foram feitas "com a presença de opositores, e nós, disputando com eles, com os olhos nos olhos, ganhamos".
Afirmou ainda que o mundo é muito grande, maior que "a esfera dos EUA e de seus países satélite", e que neste mundo está a Venezuela, "arriscando criar um novo mundo".
Ele agradeceu a presença de "tantos representantes de países que respeitam a Venezuela". Assim como o presidente do Supremo, Maikel Moreno, que discursou antes, Maduro criticou a Assembleia Nacional "em desacato" e afirmou que a Assembleia Nacional Constituinte tem poderes "supraconstitucionais".
Disse que sua eleição é um "ato de paz" e que há uma "guerra mundial contra nosso país" sendo comandada pelos EUA e "seus países-satélites, que estão como loucos arremetendo contra nós".
Acusações
O governo Maduro é acusado por organismos internacionais de cometer delitos de lesa humanidade. Há cerca de 4.000 presos políticos em prisões por todo o país, como o Helicóide e a chamada "tumba", ambas em Caracas, onde foram reportadas sessões de tortura. Há ainda pessoas detidas sem julgamentos.
Estavam presentes no Tribunal Supremo de Justiça (TSJ), onde ocorreu a cerimônia nesta quinta, alguns chefes de Estado alinhados a Maduro. Entre eles, o presidente boliviano Evo Morales, o de El Salvador, Sánchez Cerén, o dirigente cubano Miguel Díaz-Canel, o ditador da Nicarágua, Daniel Ortega, assim como representantes ou delegações de Turquia, Rússia, Belarus, México, Argélia, China, Palestina, Egito, Índia, África do Sul, Iraque, Líbano e países caribenhos, entre outros.
A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, viajou para acompanhar a posse em Caracas.
Já a União Europeia, EUA e 13 integrantes do Grupo de Lima (do qual o Brasil faz parte) não enviaram representantes. A maioria não reconhece a reeleição de Maduro. A exceção no Grupo de Lima é o México, que não quis se pronunciar contra e enviou representantes à posse.
O conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, John Bolton, mandou uma mensagem via redes sociais dizendo que "os EUA não reconhecem a posse ilegítima do ditador Nicolás Maduro. Vamos continuar a aumentar a pressão sobre esse regime corrupto, apoiar a Assembleia Nacional democrática e pedir por democracia e liberdade para a Venezuela".
A União Europeia, por meio de sua porta-voz, Maja Kocijancic, disse que "os Estados-membros não participarão da cerimônia de posse e continuaremos a pedir novas eleições, que se efetuem de acordo aos padrões internacionais".
O governo colombiano se pronunciou por meio de sua vice-presidente, Marta Lucía Ramírez, que gravou uma mensagem dizendo: "Hoje quero convidar o mundo inteiro para que todos, sem importar qual seja a religião que professem, ponham seu coração e sua energia, para pedir a Deus que haja uma saída pacífica da ditadura venezuelana, que permita que esse país recupere a democracia".
O presidente paraguaio, Mario Abdo Benítez, anunciou que seu país está cortando as relações diplomáticas com a Venezuela.
O ato começou às 10h locais (12h em Brasília), com um passeio em carro aberto de Maduro e a mulher, Cilia Flores, pelas ruas do centro de Caracas. Somente militantes pró-chavismo eram vistos, vestindo camisetas e bonés com as cores da Venezuela e com bandeiras do país.
As imagens das TVs alinhadas ao governo mostravam grande quantidade de gente acompanhando Maduro e no entorno do TSJ. Os ângulos a partir dos quais as imagens foram tomadas, porém, não permitiam ver se havia uma grande multidão ou se tratava de um grupo concentrado de militantes.
Normalmente, o juramento do novo presidente sempre se dá na Assembleia Nacional. Porém, o regime considera que esta, de maioria opositora, está "em desacato", segundo a terminologia do regime. Assim, Maduro preferiu realizar a cerimônia no tribunal
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