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Numa nova queda-de-braço entre o presidente George W. Bush e o Congresso americano, a presidente da Câmara de Representantes, Nancy Pelosi, desembarcou nesta terça-feira na Síria, país que os EUA acusam de patrocinar o terrorismo. Bush, que já se encontra num embate com o Congresso de maioria democrata por conta do financiamento da guerra no Iraque, criticou duramente a iniciativa da deputada, dizendo que a viagem envia sinais contraditórios a Damasco.

O presidente da Síria, Bachar Al-Asad, se reuniu nesta quarta-feira em Damasco com Nancy Pelosi, que antes havia se encontrado, de modo separado, com o ministro das Relações Exteriores Walid Muallem e com o vice-presidente Faruk Al-Chareh. De acordo com a agência oficial Sana, as relações sírio-americanas e as questões regionais seriam os temas abordados na reunião.

A Casa Branca passara dias criticando a viagem de Nancy Pelosi, à frente de uma delegação de 27 parlamentares democratas e republicanos, dizendo que ela apenas daria a líderes sírios a chance de explorarem fotos com autoridades americanas. Nancy é a segunda na linha de sucessão, atrás apenas do vice-presidente Dick Cheney, e a mais alta autoridade do país a visitar a Síria desde 2003.

— Já deixamos claro a altos funcionários, sejam republicanos ou democratas, que ir à Síria envia sinais contraditórios — disse Bush. — Oportunidades para fotos com o presidente Assad levarão seu governo a achar que faz parte da corrente principal da comunidade internacional, quando, na verdade, é um Estado financiador do terrorismo.

A deputada chegou à Síria após uma escala no Líbano, dizendo que "não tinha ilusões, mas muitas esperanças" sobre a reunião com Assad, nesta quarta-feira, quando deverão falar sobre terrorismo, além do caso dos soldados israelenses capturados pelo Hezbollah, no Líbano. Ela foi recebida no aeroporto de Damasco pelo ministro do Exterior, Walid al-Mualem, e passeou pela parte histórica da cidade, mas não quis fazer comentários.

Washington tenta isolar Damasco, mas críticos defendem o diálogo na tentativa de estabilizar o Iraque. Os EUA acusam a Síria de não impedir que combatentes estrangeiros entrem no Iraque a partir de seu território e de apoiar o Hezbollah. A imprensa síria, por outro lado, descreveu a visita como "positiva", e chamou Nancy de "mulher corajosa". As autoridades elogiaram a deputada, dizendo que poderia "restaurar o equilíbrio" na política dos EUA para o Oriente Médio.

— Damos boas-vindas a Nancy Pelosi e sua sábia decisão de vir a Damasco — disse o vice-chanceler Faiçal al-Miqdad.

A deputada minimizou as críticas de Bush, dizendo ter sido "uma excelente idéia" sua ida a Damasco.

Na mesma entrevista em que falou da viagem, Bush disparou duras críticas aos parlamentares, advertindo-os de que se não lhe enviarem uma lei aceitável de financiamento de guerra em tempo hábil, o preço será pago pelas tropas. Ele criticou os parlamentares por entrarem em recesso sem aprovar o pacote de mais de US$ 100 bilhões para as tropas em Iraque e Afeganistão. Sua principal queixa é que nas versões da lei aprovadas na Câmara e no Senado foram incluídos cronogramas para a retirada das tropas do Iraque. Mais uma vez ele prometeu vetar a lei.

— Os líderes democratas parecem mais interessados em travar batalhas políticas do que em proverem nossas tropas com o que elas precisam para combater no Iraque — disse Bush. — Se o Congresso não conseguir aprovar uma lei que eu possa assinar até meados de abril, o Exército será forçado a considerar a redução dos equipamentos e a manutenção deles.

A investida de Bush no impasse que já dura semanas foi rapidamente respondida pelo líder da maioria no Senado, Harry Reid, e outros democratas. Reid, que na segunda-feira aprovou um projeto de lei que corta o financiamento da guerra daqui a um ano, disse que os parlamentares estão mandando para Bush uma medida que manterá as tropas guarnecidas.

- Se o presidente vetar essa medida ele é que terá atrasado o financiamento às tropas, mantendo sua estratégia pelo fracasso - disse o senador.

O governo acredita que os americanos vão ficar do lado de Bush, concluindo que os democratas estão colocando os soldados em risco, mas os democratas acham que serão vistos como quem está salvando os EUA de um desfecho ainda pior no Iraque.

Bush tem a difícil tarefa de tentar convencer os americanos a ficar ao seu lado, apoiando uma guerra que já dura quatro anos e que matou mais de 3.200 soldados americanos. Uma pesquisa da revista "Newsweek" divulgada no fim de semana mostra que 57% dos americanos apóiam o plano democrata para a retirada as tropas, enquanto 36% o rejeitam.

Os democratas conquistaram a maioria do Congresso nas eleições de novembro, com base em sua oposição à guerra no Iraque, e as pesquisas de opinião mostram que eles ainda contam com apoio popular.

A legislação aprovada pela Câmara estabelece o prazo de 1º de setembro de 2008 para a retirada completa dos soldados de combate. A aprovada pelo Senado determina que a retirada comece antes, mas estabelece como prazo final o dia 31 de março de 2009.

- Não podemos continuar com uma política em relação ao Iraque baseada em contos de fada. A maioria tanto na Câmara quanto no Senado votou para mudá-la. O presidente deveria juntar-se a nós - disse o deputado democrata pelo Illinois Rahm Emanuel.

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