O papa Francisco criticou o que chamou de “consciência indiferente e anestesiada” da Europa sobre os refugiados e migrantes, durante as orações da Sexta-feira da Paixão, em Roma, durante a qual ele também criticou padres pedófilos, comerciantes de armas, fundamentalistas e perseguidores religiosos.
Dezenas de milhares de pessoas se reuniram para assistir à cerimônia, muitas com velas nas mãos, nos arredores do famoso Coliseu romano, onde se acredita que milhares de cristãos tenham sido mortos durante o império romano.
“Oh! Cruz de Cristo, hoje a vemos no Mediterrâneo e no Mar Egeu, que se tornaram cemitérios insaciáveis, reflexos de nossa consciência indiferente e anestesiada”, disse o pontífice de 79 anos, em alusão às milhares de pessoas que se aventuram em embarcações precárias para tentar chegar à Grécia e ao continente europeu.
Há algum tempo, Francisco vem pedindo à comunidade internacional para abrir as suas portas aos refugiados e combater a xenofobia - apelos que têm se intensificado desde um acordo polêmico firmado entre a Europa e a Turquia para expulsar os migrantes que chegam à Grécia.
O pontífice argentino também não poupou os males da Igreja, denunciando com dureza os padres pedófilos, os quais descreveu como aqueles “ministros infiéis que, ao invés de se despirem de suas próprias ambições e vaidades, privam até mesmo os inocentes de sua dignidade”.
A Igreja continua a sofrer com casos de sacerdotes pedófilos e com acobertamentos no passado. Neste mês, um cardeal francês se viu confrontado com pedidos de renúncia por causa de alegações de que teria promovido um clérigo que tinha uma condenação anterior por abuso sexual.
Críticas
Na sequência dos atentados mortais desta semana em Bruxelas, o papa criticou severamente “os atos terroristas cometidos por seguidores de algumas religiões que profanam o nome de Deus e que usam o santo nome para justificar sua violência sem precedentes”.
O papa acrescentou que “comerciantes de armas alimentam o caldeirão da guerra com o sangue inocente dos nossos irmãos e irmãs” e enfureceu-se contra “os traidores que, por trinta moedas de prata, condenam qualquer um à morte”, em alusão a Judas Iscariotes, o discípulo que traiu Jesus.
Francisco também evocou as expressões no rosto das crianças que fogem de guerras e “que frequentemente só encontram morte e muitos Pilatos que lavam as mãos” - uma referência a Pôncio Pilatos que, segundo a tradição cristã, disse estar atendendo a um pedido do povo ao mandar Jesus para o crucifixo, na tentativa de diminuir sua responsabilidade pessoal.
Em sua crítica abrangente, Francisco voltou-se, ainda, para os perseguidores dos cristãos, em particular, lamentando “nossos irmãos e irmãs assassinados, queimados vivos, com as gargantas cortadas e decapitados por lâminas bárbaras sob um silêncio covarde”.
Ele também condenou as culturas ocidentais, “nossa sociedade egoísta e hipócrita”, que deixa idosos e deficientes de lado e crianças à míngua.
Celebrações
Durante a cerimônia, um pequeno grupo de fiéis se revezou para carregara cruz nas 14 estações da Via-crúcis, evocando as últimas horas da vida de Jesus, enquanto o papa observava em meio a um esquema de segurança visivelmente elevado.
A Sexta-feira da Paixão é o segundo dos quatro dias da intensa programação da Semana Santa, que termina com o Domingo de Páscoa, quando se celebra a ressurreição de Cristo.
No sábado, o pontífice participará de uma vigília pascal na Basílica de São Pedro, no Vaticano, e no domingo celebrará a missa de Páscoa e dará a tradicional bênção “Urbi et Orbi” (Para a cidade e o mundo), abençoando Roma e o mundo.