Um país que nos últimos anos teve taxas de crescimento de nação rica, mas não conseguiu distribuir as riquezas a uma maioria pobre, vai às urnas neste domingo escolher, em primeiro turno, seu novo presidente. Tal contradição é um dos principais motivos para que os candidatos favoritos não estejam aliados a Alan García, o atual governante.
Pelo que mostram as mais recentes pesquisas, um lugar no segundo turno deve ser do nacionalista Ollanta Humala. Quatro candidatos disputam a segunda vaga: Keiko Fujimori, filha do ex-presidente Alberto Fujimori; Luis Castañeda, ex-prefeito de Lima; Alejandro Toledo, presidente entre 2001 e 2006; e Pedro Plablo Kuckzinsky, um tecnocrata do setor financeiro.
As regras da disputa eleitoral peruana são parecidas com às da votação no Brasil: se um candidato atingir 50% dos votos mais um, é eleito já no primeiro turno ? cenário improvável, no entanto, nesta corrida.
Desafios
A conversão dos ganhos gerados pelo crescimento econômico em benefícios à maioria da população é a principal reivindicação dos peruanos. ?É preciso criar mecanismos mais eficazes que gerem benefícios sociais à maioria da população. O avanço econômico do país não se reflete plenamente sobre elas, o que tem gerado insatisfação política constante?, diz o peruano José González, analista econômico e político de mercados emergentes globais, com ênfase na região andina.
Opinião semelhante tem Ricardo Uceda, jornalista peruano que dirige o Instituto Prensa y Sociedad. Na avaliação dele, reduzir a pobreza e modernizar o Estado é o grande desafio do próximo presidente: ?O principal problema dos governos democráticos desde 2001 é não terem conseguido fazer com que os mais pobres fossem favorecidos pelo crescimento, enquanto outros setores ostentam prosperidade?.
Num país onde uma em cada três pessoas está abaixo da linha da pobreza, isso faz muita diferença. ?São muito deficientes os serviços de educação e saúde, assim como a segurança?, afirma Uceda.
Além dos problemas sociais, um eficiente manejo da coisa pública também é tarefa a ser executada pelo próximo mandatário, diz ele: ?A sensação de que a corrupção não é combatida é muito grande?. Isso, segundo Uceda, é um dos principais fatores que têm colocado o nacionalista Humala à frente nas pesquisas: ?É o único candidato que colocou essa questão sobre o tapete?.
Eleitorado
Segundo José González, o provável confronto no segundo turno entre candidatos de perfis opostos ? o nacionalismo de esquerda de Ollanta Humala e o conservadorismo neoliberal de Keiko Fujimori ? é fruto de uma cultura política singular, marcada pelas turbulentas experiências nos últimos anos.
?Alienados por tendências autoritárias, golpeados por volatilidade econômica e discriminados etnicamente, os peruanos em geral parecem constantemente tentados pela mudança e o desafio ao establishment, optando por eleger outsiders?, define.