A Suécia pode enfrentar semanas ou até meses de um impasse político depois que um resultado inconclusivo das eleições deixou a maior economia escandinava sem candidato certo para formar um governo.
Nem a coalizão liderada pelos social-democratas, do primeiro-ministro Stefan Lofven, nem o bloco da Aliança, da oposição de centro-direita, conseguiram votos suficientes para formar governos majoritários, já que o grupo nacionalista Democratas Suecos, que falou em tirar a Suécia da União Europeia, cativou quase um quinto do eleitorado.
Jonas Thulin, chefe de gestão de ativos do banco Erik Penser em Estocolmo, descreveu o resultado como "o mais incerto que tivemos nos tempos modernos" e disse que uma segunda eleição pode se tornar um "cenário possível" que os investidores precisam considerar.
A Suécia é o mais recente país europeu em que uma onda populista, alimentada pelo sentimento anti-imigração, está mudando o cenário político. Apesar de Lofven ter liderado uma recuperação econômica, fomentando o aumento do emprego, a votação deste domingo (9) mostrou que muitos suecos estão mais preocupados em combater o fluxo recorde de estrangeiros depois que cerca de 600 mil imigrantes entraram no país de 10 milhões habitantes nos últimos cinco anos.
O partidos de Lofven conquistou 144 assentos no parlamento – de um total de 349 membros – e a Aliança, 143. Os democratas suecos, que não fazem parte de nenhum dos dois blocos, obtiveram 62 cadeiras, resultado abaixo do que algumas pesquisas pré-eleitorais indicaram, mas significativamente melhor do que em 2014 – 13 vagas a mais.
Eles comemoram sua ascensão depois de sair da obscuridade, há pouco mais de uma década, para uma posição de influência política incontestável nos dias de hoje. Seu líder, Jimmie Akesson, de 39 anos, atribui o sucesso à postura questionadora do partido frente ao sistema político tradicional.
Mais notavelmente, Akesson tem sido um crítico aberto do crescente número de imigrantes na Suécia. Ele também trabalhou para transformar um partido que tem suas raízes no movimento de supremacia branca da Suécia e alega que há uma política de “tolerância zero” contra membros que fazem comentários racista ou antissemita.
O resultado vai desencadear uma disputa entre Lofven e Ulf Kristersson, que lidera o Partido Moderado, o maior do bloco da Aliança. Segundo especialistas, o apoio dos democratas suecos pode ser decisivo na formação do novo governo.
Lofven deixou claro que rejeita a agenda dos democratas suecos, descartando a cooperação com o partido. Kristersson, 54 anos, tem sido menos claro, embora haja dúvidas de que o bloco de centro-direita queira se ver vinculado aos nacionalistas. Ele quer cortar impostos e alguns benefícios sociais para atrair mais pessoas para o mercado de trabalho – uma agenda que ele poderia pressionar com o apoio dos democratas suecos.
Jimmie Akesson não perdeu tempo em pedir a Kristersson que afirmasse sua disposição de colaborar. "Agora cabe a você mostrar como planeja formar um governo", disse Akesson, enquanto apoiadores reunidos em Estocolmo entoavam seu nome. "Você escolhe Stefan Lofven ou escolhe Jimmie Akesson? Eu quero uma resposta para essa pergunta agora", desafiou Akesson.
Outro ponto em comum é a defesa de renúncia de Lofven. Kristersson, em discurso após os primeiros resultados da eleição virem à público, pediu que ele deixe o cargo de primeiro-ministro.
Apesar disso, Lofven disse que planeja continuar como primeiro-ministro até que o parlamento vote por sua saída. Ele também disse que os partidos políticos da Suécia precisam esperar até que o resultado das eleições se consolide (os resultados até agora são preliminares, mas quase a totalidade das urnas foi apurada), dada a proximidade do resultado entre os dois blocos políticos.
Com a decisão de Lofven de não renunciar, ele enfrentará o voto de confiança no parlamento duas semanas após a eleição. Se ele perder, o presidente do parlamento apresenta um novo candidato para se tornar primeiro-ministro. Se essa pessoa não conseguir formar um governo, novas eleições podem ocorrer dentro de três meses.
Carl Michael Palmer, membro há 17 anos dos social-democratas, disse que "definitivamente levará algum tempo para formar um governo. Lofven precisa de um tempo".
O resultado inconclusivo com a perspectiva de semanas sem governo é altamente incomum para a Suécia, que costuma ser um bastião da estabilidade política.
O que explica o resultado da eleição?
Magnus Blomgren, professor associado de ciência política na Umea University, considera que o provável resultado da eleição reflete não apenas o fato de que a questão da imigração esteja proeminente na mente dos eleitores, mas também devido à decepção com os partidos tradicionais. “Isso é uma indicação de que há descrença no establishment político de maneira bastante pronunciada”, afirma.
Em artigo publicado no National Review, o repórter John Fund escreve que os partidos tradicionais optaram por barrar as discussões em torno da imigração em “termos francos – inclusive os impactos negativos”, alegando que houve aumento do crime no país após a onda de imigrantes que chegou ao país a partir de 2015.
“As elites governantes da Suécia tornaram as coisas ainda piores para si mesmos ao fechar os olhos para o aumento da violência de gangues, agressões sexuais e incêndios criminosos que ocorreram nos bairros onde os migrantes se reuniam”, escreveu Fund.
Mercado
No Nordea Bank, o maior credor nórdico, o economista Andreas Wallstrom alertou que o resultado prepara o cenário para um período prolongado durante o qual os principais partidos lutarão para formar um governo viável. Mas ele também observou que o resultado não deve alterar a trajetória da política monetária. A coroa sueca subiu cerca de 0,3% em relação ao euro na manhã de segunda-feira (10).
É importante ressaltar que o chamado Swexit está fora da agenda, já que os democratas suecos receberam apoio menor do que algumas pesquisas de intenção de indicavam, segundo Robert Bergqvist, economista-chefe do banco SEB. Isso significa que o plano do banco central de começar a elevar as taxas de juros na virada do ano provavelmente não será interrompido.
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Anders Borg, ex-ministro das Finanças do Partido Moderado, disse que a reação do mercado foi de alívio. Algumas pesquisas antes da eleição mostraram que os nacionalistas se tornariam o maior partido do parlamento. Na verdade eles se consolidaram como o terceiro maior.
"Para os partidos tradicionais, isso significa um pouco de alívio", disse Borg em entrevista ao Markus Karlsson, da Bloomberg Television, em Estocolmo. "Agora eu acho que a política econômica estará, de alguma forma, no piloto automático e, portanto, acho que o mercado também tem alívio".